Vida e literatura histórica no restauro da Biblioteca Municipal

O restauro da biblioteca municipal João Bosco Evangelista foi concluído e, tão logo seja possível pôr fim às medidas de isolamento social necessárias nesse período de pandemia da Covid-19, a Prefeitura de Manaus vai entregar mais um prédio histórico ao convívio da população. A obra integra o pacote de intervenções lançado pelo prefeito Arthur Virgílio Neto, ainda no ano passado, durante as comemorações de 350 anos da capital.

“O amor ao Centro Histórico de Manaus é uma marca que carrego ao longo da minha gestão. Desde o início buscamos trabalhar, mesmo nos momentos mais duros da crise econômica brasileira, formas de darmos nova vida ao local onde a cidade nasceu e onde está guardada a essência da identidade do povo manauara. Além da biblioteca municipal, temos em andamento o restauro do prédio da antiga Câmara Municipal, o antigo Hotel Cassina e que será o palácio das startups, bem como a praça Dom Pedro II”, destacou o prefeito Arthur Neto.

Na tarde desta terça-feira, 19/5, a biblioteca João Bosco Evangelista recebeu uma visita técnica, com a presença da superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Amazonas, Karla Bitar, que atestou a qualidade da obra de restauro executada. Também estavam presentes o diretor-presidente do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), Cláudio Guenka; o coordenador técnico do programa “Manaus Histórica”, Daniel Herzon; e o representante da construtora Biapó, Jackson Freitas.

Durante a inspeção, foi possível observar todo o resgate de características arquitetônicas do prédio, situado na esquina da rua Monsenhor Coutinho, que recebeu uma adaptação de modernidade do século 21, incluindo sala de projeção, área de acervo em braile, um café-box, para atendimento aos frequentadores e itens específicos de acessibilidade, como o elevador, piso tátil e banheiros para portadores de necessidades especiais.

“Essa obra traz toda uma referência histórica e cultural para esse contexto urbanístico, que se inicia desde o porto, passando pela avenida Eduardo Ribeiro e chegando aqui, na praça do Congresso. Foi um restauro que respeitou corretamente os elementos históricos e culturais do prédio e também trouxe a contemporaneidade para dentro da biblioteca. A prefeitura está de parabéns”, disse a superintendente do Iphan no Amazonas, Karla Bitar.

O diretor-presidente do Implurb explicou que a prefeitura vem promovendo o restauro arquitetônico de importantes prédios históricos, antes fechados, e que passarão a ser dotados de estruturas com modernas instalações culturais, valorizando o passado e promovendo o encontro com o futuro. Ele destacou que a obra também teve o acompanhamento da Comissão Especial de Paisagismo e Urbanismo, presidida pela primeira-dama Elisabeth Valeiko Ribeiro. “Observamos nessa visita técnica que há o contexto histórico, na preservação de pedras, juntamente com a atualidade da estrutura metálica e elevadores, mostrando que ambientes históricos podem, sim, ser modernizados”, avaliou Cláudio Guenka.

Restauro e acervo

A gestão da biblioteca ficará a cargo da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) e o seu acervo integra o Sistema Nacional de Bibliotecas, sendo composto por 32 mil exemplares, divididos entre obras de referência e os temas bibliográficos, como coleções de obras gerais, coleções temáticas amazônicas, infantil, braile e multimídia. Antes da pandemia do novo coronavírus, todos os exemplares estavam sendo encaixotados para a mudança do espaço temporário localizado na Casa do Restauro, na rua Costa Azevedo, ao novo prédio. O processo precisou ser interrompido por conta das medidas preventivas à propagação do vírus.

“Em vários cenários de antigamente, fizemos pesquisas iconográficas do imóvel, trazendo a originalidade do local. Por se tratar de um restauro, temos que cuidar de vários aspectos da história, assim aproveitando as peças antigas e substituindo apenas o que não é possível de ser reaproveitado”, explicou o coordenador técnico do programa “Manaus Histórica”, Daniel Herszon.

A empresa Biapó Construtora fez a execução da reforma e restauro, tendo sido a vencedora da licitação. Com foco em restaurações artísticas, a Biapó tem preocupação com o humano e a história presentes nas cidades onde atua. “Buscamos a valorização das estruturas de madeiras do prédio, os pisos de madeiras e ladrilhos, além das paredes de pedra da edificação, dando um destaque à própria história do prédio. O espaço foi modernizado com a acessibilidade, com a instalação de um elevador monta-carga, para transporte dos livros e, ainda, o elevador para quem visitar a biblioteca”, explicou Jackson Freitas, coordenador da equipe de restauradores da construtora.

História

O prédio datado do início do século 20 é um sobrado de características arquitetônicas ecléticas, quando Manaus experimentou o apogeu do ciclo da borracha. No edifício, durante muitos anos ficou sediada a “Liverpool School of Tropical Medicine”, instituição fundada em 1898 e primeira no mundo dedicada à pesquisa e ao ensino em medicina tropical. Ao longo do restante do século 20, após o fechamento da escola, o edifício esteve em propriedade de particulares.

Em 1995, o prédio foi desapropriado pela Prefeitura de Manaus. A Biblioteca Pública Municipal teve a sua primeira sede na avenida Joaquim Nabuco, passando a ocupar o endereço na rua Monsenhor Coutinho em 1997. A biblioteca tem o nome do professor, escritor e poeta João Bosco Evangelista (1938-1973), que foi um dos célebres fundadores do “Clube da Madrugada”. O imóvel foi devidamente recuperado e adaptado para receber o vasto acervo amazônico, periódicos, entre jornais e revistas, e documentos especiais, como obras raras datadas do século 17.

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