Veja como a pílula do dia seguinte age no corpo

A primeira versão do medicamento de contracepção de emergência chegou ao Brasil em julho de 1999, quase 40 anos após o surgimento da primeira pílula anticoncepcional oral. Quando esse remédio chegou ao mundo, na década de 1960, vinha com o nome de Enovid, composta por 150mg estrogênio sintético e 9,85mg de um derivado de progesterona. Dentre as mais utilizadas hoje em dia, a dosagem gira em torno de 30mg e 0,1mg – cinco vezes menor do que a primeira lançada.

E a pílula do dia seguinte, forma pela qual é conhecida o contraceptivo de emergência, é uma versão diferente dessas. Como o próprio nome diz, sua ação é para casos excepcionais, sendo uma medicação que contém uma concentração mais alta de um sintético da progesterona, um hormônio bem importante para o ciclo menstrual da mulher. Aliás, você sabe como esse remédio age no seu corpo?

A ovulação

 

Antes de mais nada, é preciso compreender como funciona a ovulação. É um processo complexo do nosso organismo, mas dá para simplificar. Olha só:

Durante os primeiros sete dias do ciclo menstrual (considerando 28 dias), os folículos que ficam dentro do ovário começam a amadurecer, liberando o hormônio chamado estrogênio no sangue. Ele é o responsável por “preparar” a parede do útero para receber um possível óvulo fecundado. Dos folículos amadurecidos, apenas um continua nutrindo o óvulo que está se desenvolvendo dentro dele – os restantes são degenerados. Por volta do 14º dia, um hormônio luteinizante acelera esse processo, levando ao rompimento do óvulo maduro do ovário para as trompas (ou tubas uterinas). Entre 12 e 24 horas, este óvulo poderá ser fecundado por um espermatozoide, ainda na tuba. Se isso não ocorre, ele se dissolve e é eliminado junto com as paredes do útero, causando a menstruação.

A ação da pílula do dia seguinte

“As opções que existem atualmente no mercado são de levonogestrel, tanto em dose única (1,5mg) ou de duas tomadas (0,75mg), que é um tipo de progesterona sintética”, explica Bárbara Murayama, coordenadora da Clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho. Dependendo do período do ciclo em que for ingerida, o contraceptivo pode ter diferentes efeitos. “Ela pode inibir ou apenas atrasar a ovulação. Isso acontece porque esse hormônio atrasa a movimentação das tubas, que é por onde o óvulo vai do ovário ao útero em encontro ao espermatozoide – e o espermatozoide vem do útero pela tuba ao encontro do óvulo. Com isso, ela também dificulta a penetração do espermatozoide no muco cervical, já que a progesterona altera a consistência do muco, tornando o ambiente hostil ao espermatozoide.”

O muco cervical é um fator importante na fecundação (ou não) do óvulo, que reflete diretamente as variações hormonais. Tanto que, para quem usa anticoncepcional, a consistência já é diferente de que não usa. “O muco tem como uma de suas funções normais tornar a travessia do espermatozoide ao encontro do óvulo mais fácil. E em quem usa métodos hormonais, essa combinação deixa o muco mais espesso e dificulta o trânsito dos espermatozoides por ele”, elucida a médica.

Possíveis efeitos colaterais

De acordo com a médica, esses sintomas são comuns em quem faz uso do medicamento:

  • Tonturas;
  • Vômitos;
  • Enjôo;
  • Dor de cabeça;
  • Inchaço;
  • Dor nas mamas;
  • Irregularidade menstrual: a menstruação será adiantada quando se toma a PDS, sendo possível que, em alguns casos, a menstruação atrase ou o fluxo seja mais intenso. A regularização do ciclo pode levar alguns meses para se reorganizar.

Quando usar?

 

Em qualquer um dos casos listados pela médica, há a indicação de uso da PDS. Só é bom lembrar que a combinação de anticoncepcional contínua com elapode ter efeitos colaterais bem ruins. “Se a mulher já faz uso de um anticoncepcional regular ela não precisa tomar a pílula do dia seguinte. Mas se esqueceu de tomar a pílula e não usou preservativo, pode ser indicado o uso de pílula de emergência. Mas é preciso falar com seu ginecologista para uma orientação individualizada.”

  • Se você usa anticoncepcional exclusivamente de progesterona e atrasa a ingestão em mais de 12 horas;
  • Ou mais de duas semanas de atraso no injetável de acetato de medroxiprogesterona;
  • Se acontecer deslocamento, quebra, remoção precoce ou atraso da colocação de diafragma (ou capuz cervical), adesivo ou anel vaginal;
  • Se a camisinha estourou ou não foi bem colocada;
  • Expulsão de contracepção intra-uterina, os chamados DIU’s.

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As contraindicações

A ginecologista alerta para que o uso seja feito de forma correta, com orientação médica para evitar problemas futuros. Se você tiver alguma das indicações abaixo, é melhor procurar seu/sua médico(a) antes de tomar a pílula.

  • Estar grávida ou com suspeita de gestação;
  • Usar medicações contra epilepsia ou antirretrovirais;
  • Para quem toma remédios para HIV, eles reduzem os efeitos hormonais do anticoncepcional, então é melhor conversar com um especialista antes;
  • Há estudos, ainda não conclusivos, que relacionam a eficácia da pílula em mulheres obesas (IMC acima de 30).

“A pílula do dia seguinte não deve ser usada sempre. Se a mulher está tendo relações desprotegidas com alta frequência, é porque tem indicação para usufruir de um método regular. É preciso agendar consulta com ginecologista para avaliação de qual seria o melhor método para ela. Tomar rotineiramente causa irregularidade menstrual, além dos outros sintomas, e se não está usando preservativo, dessa maneira também está exposta às DST’s“, aconselha a médica.

Veja também: As 24 perguntas que os ginecologistas mais escutam

Relação com a fertilidade

 

Parte do grande debate sobre o uso desse tipo de contraceptivo não está centrado no simples fato de colocar um hormônio sintético (ou mais hormônios) no corpo da mulher – está em considerá-lo um método abortivo. “O levonorgestrel não interrompe uma gravidez já existente, ele apenas dificulta a fecundação”, afirma Bárbara.

Mesmo utilizando o método, ainda há a possibilidade de engravidar. “Quanto mais próximo do dia da ovulação, menor a chance da pílula ter o efeito esperado. Outro ponto relevante é quanto tempo após a relação sexual ela tomou a pílula de emergência: quanto mais longe, menor a eficácia. Por isso, métodos regulares tem maior chance de proteger a mulher de uma gestação indesejada e ainda não causam irregularidade menstrual”, pontua a coordenadora.

Por mais que funciona em um caso isolado de qualquer uma das indicações mencionadas, a pílula do dia seguinte não afeta diretamente a fertilidade feminina. “Ela também pode causar irregularidade do ciclo por alguns meses, o que dificulta a fecundação, mas não causa infertilidade em longo prazo. Nosso ciclo tem a primeira fase, que começa no primeiro dia da menstruação e termina antes da ovulação. Depois da ovulação vem a segunda fase, que acaba com a menstruação quando não acontece a gestação. Quando tomamos uma dose alta de progesterona capaz de impedir ou retardar a ovulação, como é o caso da pílula de emergência, atrapalhamos toda a sequência normal”, afirma Bárbara.

 

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