Todo mundo tem um rolo?

Minha estatística pessoal indica que boa parte das mulheres com mais de 30 anos tem um rolo. Casamento mal-acabado, namoro não resolvido, tesão pendente, raiva, frustração ou dor de cotovelo. Não importa. O rolo é uma sombra que impede a vida amorosa de avançar como poderia. Ou deveria.

Temo que a estatística para os homens seja ainda pior, porque somos mais enrolados com o nosso passado. Os homens terminam um relacionamento hoje e saem atrás de mulher amanhã, mas passam anos dormindo, secretamente, com o fantasma anterior. Ontem, durante o almoço, uma amiga me contou que um ex-namorado da década passada ainda telefona periodicamente para dizer que ela é a mulher da vida dele. O cara está casado e tem filhos.

Vamos considerar, portanto, que o rolo é um problema universal e duradouro.

Outro dia, fui tomar cerveja com uma moça que parecia mais livre do que táxi na rodoviária. Pura ilusão. Uma hora depois, ela já estava me falando de um fulano com quem namorava-mas-não-namorava, de quem gostava-mas-não-gostava, com quem tinha-mas-não-tinha-planos. Pus a minha viola no saco, cortei o charme, rachei a conta e fui para casa, sozinho.

Em outros tempos, teria insistido, mas aprendi pela experiência que não é o caso. Gente que não consegue resolver a própria vida não vai resolvê-la por minha causa. Ou com a minha ajuda. Na verdade, quem tem um rolo tende a usar as pessoas que se aproximam como distração ou objeto de ciúme, não como parceiros de verdade. Isso vale para homens e mulheres. Se você quiser transar e cair fora, perfeito. Mas, se estiver em busca de carinho e conexão, cautela. De mato com rolo raramente sai coelho. Ou coelha.

O caso de rolo mais comum é o ex que não sai do pé. Ex-amante, ex-namorado, ex-marido. Ele liga, escreve, conta, aparece, convida, pede, chora, ameaça. Quer atenção. Não desencarna. E a mulher em quem você está interessado nunca se recusa a atender o sujeito, sempre com a mesma explicação piedosa: coitadinho, ele está tão mal…

O que fazer num caso desses? Ignorar é impossível. Exigir que ela escolha entre um dos dois parece infantil. Incorporar o sujeito e seu drama como parte da vida seria ridículo. Na verdade, eu não sei como agir num caso desses. Tudo depende do contexto e dos sentimentos. O que eu sei é que esse tipo de desgaste pode ameaçar relacionamentos bacanas.

A outra coisa que eu sei: as pessoas nunca dão trela a fantasmas do passado se não estiverem de alguma forma interessadas. Onde parece haver ambiguidades, elas existem. Eu já fui o ex-namorado que não parava de ligar e posso testemunhar que nunca cisquei em torno de ex que não me desse trela. Quem não quer esse tipo de atenção corta a conversa. Quem se deixa envolver pela chantagem e pelos apelos do outro o faz por razão egoísta. Não é só pena ou preocupação.

Uma amiga me contou, recentemente, que o ex-namorado dela, com quem tinha vivido mais de um ano, insistia em procurá-la meses depois que ela fora embora. Incomodada com a situação, ela chamou o rapaz para conversar. Disse a ele que a esquecesse. Explicou que estava envolvida com outro homem e recomendou que ele seguisse a própria vida. Ele obedeceu. Mas ela, veja bem, estava incomodada com o comportamento dele. Se a pessoa não estiver incomodada, nunca porá limite ao contato. Por que fechar uma porta que pode permanecer aberta?

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Às vezes as pessoas se alimentam da paixão do outro. Até da carência do outro. Esses sentimentos fazem com que elas se sintam importantes, especiais, bonitas: “Vai, diz aí, de novo, como eu sou linda e maravilhosa, quanto você me quer e sente a minha falta”. É preciso ser firme consigo mesmo, e ter uma boa dose de respeito pelo ex, para cortar esse tipo de relação narcisista. A vaidade é uma forma de autoamor viciante, mas mesquinha. Se a pessoa sabe que não vai voltar com o sujeito ou com a garota, por que alimentar esperanças e permitir que isso interfira na vida presente? Mas, se ela acha que pode voltar, a situação é inteiramente outra.

Se você estiver envolvido num triângulo desses, aja com calma. Laços emocionais ou narcisistas não se rompem com ameaças, ultimatos ou gritaria. Manifeste o seu carinho e o seu incômodo, reforce a sua presença e faça força (faça força realmente) para que o ex (ou a ex) não estrague aquilo que vocês têm de bom. Se isso se revelar impossível, se a pessoa de quem você gosta estiver emocionalmente envolvida com alguém mais, talvez seja o caso de abrir mão dela. Não por birra, orgulho ou machismo, mas por autopreservação e respeito. Respeito por ela, inclusive, que tem direito, e deveria ter coragem, de resolver a própria vida antes de envolver os outros nela.

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