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UFC 262: Charles do Bronx não esconde empolgação com disputa do título: “Chegou a hora!”

Uma caminhada de quase 11 anos no UFC – com 27 lutas disputadas, recorde de finalizações (14), recorde de lutas vencidas por finalização ou nocaute (16) dividido com Donald Cerrone, segundo da história com mais bônus (16) e uma sequência de oito vitórias consecutivas – está prestes a ser coroada no próximo sábado. Charles do Bronx vai encarar o americano Michael Chandler na luta principal do UFC 262, ostentando uma trajetória meteórica e diametralmente oposta a sua na organização: apenas uma luta – vitória por nocaute sobre Dan Hooker na sua estreia. Em entrevista exclusiva ao Combate, o brasileiro garante que respeita o rival, mas deixa claro que ele é só mais um no seu caminho rumo ao cinturão da categoria.

Charles do Bronx irá disputar o cinturão do peso-leve do UFC neste sábado contra Michael Chandler — Foto: UFC

Charles do Bronx irá disputar o cinturão do peso-leve do UFC neste sábado contra Michael Chandler — Foto: UFC

– Michael Chandler é um cara duríssimo, que tem muita história dentro do Bellator. Foi campeão do Bellator, é um cara que é muito explosivo, veio com nome pro UFC, e nocauteou o Dan Hooker. Aquilo que ele veio pra fazer, ele fez, aconteceu. Eu o respeito demais, mas na verdade ele é só mais um cara que está na minha frente. Eu peguei uma luta com 20 dias contra o Bicho Papão do UFC, que era o Tony (Ferguson), e vocês viram o que aconteceu. Cada dia que passa, cada luta que passa, eu me sinto mais pronto. Pra essa luta eu estou muito pronto. É o meu momento, é a minha hora. Tô feliz demais, e sabadão a gente tá indo buscar o que é nosso. Não é de ninguém, é nosso e tá escrito. Deus não ia me dar um fardo maior do que eu pudesse carregar. Chegou a hora, tô feliz demais. Não tô nervoso, não tô ansioso. Eu tô pronto.

Um ensinamento do seu pai, no entanto, marca o posicionamento de Charles do Bronx no UFC: chegar é fácil, se manter é que é o difícil. Para o brasileiro, o importante é construir a sua jornada na organização com calma, passo a passo, para se consolidar como um dos principais lutadores, e não ser alguém que chegou com expectativa alta e não correspondeu ao que se esperava.

– Uma coisa que eu aprendi muito com o meu pai: é fácil você chegar a tudo na vida. O difícil é você se manter. Eu vejo muito brasileiro que chegou agora ao UFC, e a mídia e eles mesmos pensam que tipo: “Chegou o novo campeão” e o cara ganhou duas lutas. O que acontece depois? Quando bate de frente com um cara grande da categoria, ele pipoca e perde e aí é até meio ruim falar, mas chega na frente e “pô ele era o monstro, ele ia ser campeão”. Mas cadê esse cara? Ele sumiu. As coisas têm que ser devagar, é um passo de cada vez. Quando você chega aqui, você chegou. Agora você tem que ser calmo pra se manter. Se tiver calma, vai subir um degrau de cada vez e, no seu momento certo, vai chegar. Não adianta chegar com toda essa pressão e na hora H andar pra trás.

Michael Chandler chega à disputa do cinturão peso-leve do UFC com apenas uma luta na organização — Foto: Getty Images

Michael Chandler chega à disputa do cinturão peso-leve do UFC com apenas uma luta na organização — Foto: Getty Images

A proximidade de conquistar o cinturão – algo tão significativo para Do Bronx que ele jamais tocou em um, por ter prometido a si mesmo que só o faria quando fosse seu dono – representa um sonho de mais de uma década de trabalho apenas dentro do UFC. O lutador garante que a conquista do título será a coroação de um esforço não só dele, mas de todos os que estiveram ao seu lado durante toda a carreira.

– Primeiro é um sonho. Não é um sonho meu, é um sonho de toda a minha equipe, de toda a minha família, de todos os fãs. Isso vai coroar o moleque que saiu de dentro de uma comunidade pro mundo. Eu nunca peguei o cinturão na mão. Eu tive várias oportunidades de pegar e eu falei: “Nunca vou pegar ele, só vou pegar quando ele for meu!” Eu fiz várias coisas com o Minotauro, e ele falou pra eu pegar, e eu nunca peguei. Eu já olhei, sinto vontade de pegar, mas prometi pra mim que nunca ia pegá-lo na mão enquanto não fosse meu. E sábado ele vai ser meu. Sábado eu vou pegar e não vou soltar mais. Isso coroa tudo o que a gente treinou, tudo o que a gente sofreu, tudo o que a minha equipe e eu choramos, tudo o que a gente já passou: lesão, machucado, tudo o que a gente já escutou, pessoas falando que a gente nunca ia conseguir e a gente chegou. O cinturão coroa isso. E aí começa o meu legado, começa a minha história. Vai começar a minha história, a história do meu time, a história da minha equipe, de tudo o que a gente passou. O Macaco já teve a oportunidade de lutar aqui. Aquilo que ele não pôde ter, eu vou ter e ele vai ter. Levar pra Chute Boxe o nosso primeiro cinturão. São coisas que não me deixam nervoso, mas que me deixam feliz porque eu vou poder fazer. Ele sabe que, eu pegando, é meu, é nosso. Chegou o nosso momento e a nossa hora. É sabadão. A gente tá tão bem de peso, de tudo. É só chegar lá e fazer acontecer.

Confira os melhores trechos da entrevista:

Equipe de Charles do Bronx com o cabelo pintado de louro — Foto: Reprodução / Instagram

Equipe de Charles do Bronx com o cabelo pintado de louro — Foto: Reprodução / Instagram

Tradição de pintar o cabelo

– Na realidade, a gente tá tentando sempre trazer coisas novas. Na coletiva de imprensa eu coloquei um terno azul bebê e chamei a atenção de todo mundo. A luta principal não era comigo, mas todo mundo começou a falar que parecia que eu faria a luta principal, então a gente começou a querer inovar. Eu falei: “Vamos pintar o cabelo!” Pintamos meio que de loiro, aí pintou um, pintou o outro e os meus fãs começaram a mandar foto de cabelo pintado. E pra essa luta aqui todo mundo pediu: “Vamos pintar o cabelo Charles?” A minha equipe também. A gente pegou e abraçou a causa, e ta aí, todo mundo de cabelinho pintado. Acho que é a terceira ou quarta luta nossa de cabelo pintado, e tá dando sorte, todo mundo curte, a galera fala que fico melhor assim. Então tá aí, cabelinho pintadinho. Mas eu pinto só pra vir pra cá. Depois vou cortando, vai saindo. Teve um tempo que fiquei com luzes, e agora pintei de novo.

UFC São Paulo Charles Do Bronx  — Foto: Marcos Ribolli

UFC São Paulo Charles Do Bronx — Foto: Marcos Ribolli

Sensação com a proximidade da disputa do cinturão

– Na realidade eu estou aproveitando o momento, tô vivendo o momento. Não tô deixando o nervosismo tomar conta, não estou querendo ficar eufórico nem nada. A gente chegou aqui no domingo. Sempre chegamos na terça, mas viemos domingo pra poder já ficar aqui e ver como é que é. Eu tô muito feliz por tudo o que vem acontecendo, são 11 anos de história só no UFC – vai fazer 11 anos agora. Eu já vivi muita coisa aqui. Já aprendi, já errei e já acertei. Chegou o meu momento, na hora certa. Tô mais do que pronto, tô feliz demais por tudo o que vem acontecendo. A minha equipe tá feliz, estamos prontos pra essa luta.

Caminhada no UFC

Charles do Bronx na pesagem da sua primeira luta no UFC, contra Darren elkins, em 2010 — Foto: Getty Images

Charles do Bronx na pesagem da sua primeira luta no UFC, contra Darren elkins, em 2010 — Foto: Getty Images

– Quando eu entrei aqui eu era só um moleque, né? Eu era um menino. A gente fez uma história gigantesca no Brasil, o Macaco me trouxe pros EUA e eu fiz uma luta aqui e voltei pro Brasil. No Brasil eu era bastante conhecido, era o rei dos GPs, mas era só um moleque. Comecei a minha carreira com 18 anos, e quando cheguei aqui no tão sonhado UFC eu tinha 20 anos! Então imagina, eu era um moleque no meio dos monstros. E aí eu falei: “Pô, eu sou um menino no meio dos leões”. Hoje eu me sinto um leão no meio dos leões. Hoje eu posso brigar de frente com eles, me considero um dos melhores do mundo. Hoje eu tô ali na nata. Então eu sou grato a Deus, grato a minha equipe que me acolheu, às pessoas que acreditaram em mim até hoje e vem acreditando. Hoje eu posso falar assim: “Eu bato de frente contra qualquer um”, porque eu me sinto pronto, eu me sinto feliz. Há um ano eu quis me testar no top 5. Eu sabia que eu podia, só que eu não tinha lutado contra nenhum deles. E aí me deram o Tony Ferguson, que todo mundo falava que era um bicho papão, e vocês viram o que aconteceu. Eu realmente posso estar nesse bolo, eu posso estar lutando com esses caras. Eu sinto que posso lutar com eles. A minha equipe falava que eu podia, mas eu queria me testar, queria ver se realmente era isso. Eu me testei e ainda estou me testando. Acho que a minha diferença pra todos os outros é isso: quando chega na hora que os caras falam “você vai lutar com fulano de tal”, eles tremem na base. Eu não. Eu fico feliz, porque eu quero me testar.

Luta pensando em bônus?

Charles do Bronx e sua equipe — Foto: Getty Images

Charles do Bronx e sua equipe — Foto: Getty Images

– Não, porque o bônus na realidade é uma consequência. A gente nunca chegou até aqui pensando: “Tem que finalizar, tem que nocautear pra ganhar o bônus”. Quando você faz um trabalho bem feito, entra pra dar um show, o bônus vem, não é você que vai atrás dele. Eu pedia pra lutar pelo cinturão, mas no fundo você sabe que não é sua hora. Ainda falta um algo. E aí foi que a gente começou a pedir. Eu não entrei no UFC pra ser mais um. Quero ser o cara, quero quebrar recordes. E hoje eu sou o maior finalizador. Se não me engano o Cerrone tem 18 eu tenho 17 lutas finalizadas (Nota da Redação: Donald Cerrone e Charles do Bronx estão empatados na primeira posição em lutas vencidas por nocaute ou finalização, com 16). E o Cerrone acabou de perder agora, está prestes a se aposentar. Eu vou quebrar muitos recordes no UFC, tem muita história pra acontecer. Se você olhar, eu tenho 14 finalizações, o Demian tem 11. E o Demian falou que é a última luta pra se aposentar. Então, quantas finalizações eu ainda vou fazer até me aposentar? Então ainda vou quebrar muitos recordes no UFC.

O que o recorde de finalizações representa?

Charles do Bronx finaliza Eric Wisely com chave de panturrilha, a primeira da história do UFC, em 2012 — Foto: Getty Images

Charles do Bronx finaliza Eric Wisely com chave de panturrilha, a primeira da história do UFC, em 2012 — Foto: Getty Images

– O meu jiu-jítsu é um jiu-jítsu simples. É o jiu-jítsu com DNA da Macaco Gold Team. O que aparecer eu tô pegando, não fico enfeitando. Apareceu, eu vou e faço. Hoje eu sou o maior finalizador da história do UFC. O Demian Maia, sem sombra de dúvida, é um dos melhores jiu-jítsu que tem no UFC, mas eu sou o maior finalizador. Os meus adversários ficam preocupados por causa disso, porque eles sabem que eu vou pegar. Eu não desperdiço a oportunidade. Sou muito grato a Deus por me proporcionar ser o maior finalizador da história do UFC. Fico mais grato ainda porque quem era (o dono do recorde) era o Royce, hoje sou eu. Provavelmente quando eu parar vai vir outro brasileiro e a gente vai continuar levando esse legado do jiu-jítsu e o melhor jiu-jítsu sempre vai estar lá em cima. Então é sempre importante saber que a gente está levando essa pegada do jiu-jítsu sempre mais pra cima.

A Era Charles

– A Era Charles, primeiro de tudo, vai continuar do mesmo jeito que era a do Khabib: sendo respeitoso, humilde, sem desrespeitar ninguém. Eu respeito demais o Khabib pela história que ele fez, e agora é o meu momento. Vou ser campeão e quero mostrar pra todo mundo que um moleque que veio de dentro da comunidade pode se tornar alguém, pode ser campeão do UFC. Isso é o mais importante. Aquilo que eu prometi pro meu pai, que antes dele morrer eu vou levar esse cinturão pra casa, está muito perto. Por isso que eu falei: quero me manter tranquilo, calmo, feliz. Acho que o mais importante é estar feliz, a equipe toda estar feliz. O abraço que eu tenho de manhã, o carinho todo que eu tenho por eles, pela minha equipe, pelo respeito que todos eles têm comigo. Sábado vamos coroar essa história toda que a gente tem desde os 14, 15 anos trabalhando junto.

A frase “A favela venceu”

– Eu nunca morei dentro de uma comunidade, eu sempre morei fora, porém a minha vida inteira foi dentro da comunidade. A minha família morava dentro da comunidade. Minha mãe e meu pai moravam a seis quadras da comunidade, mas trabalhavam o dia inteiro. Minha mãe trabalhava na escola, e depois trabalhava de faxineira na casa dos donos. E meu pai trabalhava na feira, e de noite em outro lugar. Então eu só via o meu pai quando estava saindo pra escola, e de noite quando a gente também estava chegando da casa dos meus tios. Hoje eu conheço o ladrão, o traficante, são meus amigos. São pessoas que eu vi crescer. Infelizmente eu já vi muitos se perderem. A vida é feita de escolhas, cada um escolhe um lado, eu escolhi o meu: o meu lado é o lado do esporte, e infelizmente eles escolheram outro lado, mas nem por isso deixam de ser meus amigos. Por que eu falo que a favela venceu? Porque eu quero mostrar pra galera que não são só essas pessoas que vivem uma vida errada que podem ter um carro, uma moto, uma casa ou sair de dentro da comunidade e rodar o mundo. Olha tudo o que já andei no Brasil, olha tudo o que eu já andei nos EUA! Alguns anos atrás a gente estava na Disney, eu me emocionei e falei: “Cara, olha onde eu cheguei, olha onde o moleque que veio da comunidade chegou”. Quando eu falo que a favela venceu, é nesse sentido. Quando tenho oportunidade de falar com eles, não falo: “Você tem que fazer esporte”. Você pode ser um trabalhador também, só não precisa fazer nada de errado. A visão da criança – porque eu fui criança e vi isso – é: ver um cara ter uma moto hoje, daqui a duas semanas, ele tá com outra, tem dinheiro, mulheres. Essa é a visão da criança. E dentro da comunidade, eu sei o que é passar fome, e aí você fala: “Esse cara tem tudo isso e eu passando fome”. Então, quando você tem a mente fraca, infelizmente acaba indo pro lado errado e começa a fazer coisa errada. Por isso que eu falo: A favela venceu! A favela venceu, vai vencer e vai indo.

Academia no sítio

– Nós montamos em 15 dias ou 20 dias pra luta. Tinha um galpão – na realidade e eu ia montar uma academia ali, mas sem pressa nenhuma. E aí na semana que eu fiquei sabendo que a gente ia ter essa luta aqui, eu ia querer só focar em treinar e não ia poder mais ir pro sítio ficar com a minha família. Acabei unindo o útil ao agradável. Falei que eu precisava fazer assim e assado, os caras pegaram e montaram da noite pro dia. A gente correu de um lado pro outro e montamos a academia. Todo fim de semana a gente treinou lá. Agora a gente mandou aumentar, vamos colocar octógono, mais tatame, então vai ficar uma academia gigantesca. Na realidade é uma academia nossa, da nossa equipe. A hora que a molecada quiser treinar, vai pra lá. A gente precisa estar treinando o tempo inteiro, então se quer ir pro sítio, tem lugar pra treinar. Vai pra casa do Macaco? Tem lugar pra treinar. Pra qualquer lugar que a gente for, a gente não vai estar só curtindo, a gente vai estar treinando. Lá não é meu, é do nosso time, da nossa equipe. É uma coisa que a gente vai ter pro resto da vida. Quer descansar a cabeça, ir pra longe de tudo? É só ir pra lá e treinar.

Serviço do UFC 262

Combate transmite o UFC 262 ao vivo e na íntegra com exclusividade neste sábado, a partir de 19h10 (horário de Brasília) com o Aquecimento Combate. O SporTV 3 e o Combate.com exibem as duas primeiras lutas ao vivo, e o site acompanha o evento em Tempo Real.

UFC 262
15 de maio de 2021, em Houston (EUA)
CARD PRINCIPAL (23h, horário de Brasília):
Peso-leve: Charles do Bronx x Michael Chandler
Peso-leve: Tony Ferguson x Beneil Dariush
Peso-galo: Matt Schnell x Rogério Bontorin
Peso-mosca: Katlyn Chookagian x Viviane Araújo
Peso-pena: Shane Burgos x Edson Barboza
CARD PRELIMINAR (19h30, horário de Brasília):
Peso-médio: Ronaldo Jacaré x André Sergipano
Peso-pena: Lando Vannata x Mike Grundy
Peso-médio: Jordan Wright x Jamie Pickett
Peso-mosca: Andrea Lee x Antonina Shevchenko
Peso-mosca: Gina Mazany x Priscila Pedrita
Peso-pena: Kevin Aguilar x Tucker Lutz
Peso-leve: Sean Soriano x Christos Giagos

(Com informações do Combate).

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