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Técnico de Cris Cyborg quebra o silêncio após derrota para Amanda: “Perdeu para si mesma”

Por Combate.com — Los Angeles, EUA

Passados dez dias da derrota de Cris Cyborg por nocaute para Amanda Nunes, o treinador da agora ex-campeã, o americano Jason Parillo, decidiu falar pela primeira vez sobre o que achou do combate. Em entrevista ao site “MMA Junkie”, Parillo disse acreditar que Cyborg perdeu para si mesma ao se entregar ao instinto nocauteador após ser receber um chute na perna seguido de dois socos dados por Amanda aos 24s de luta.

Jason Parillo e Cris Cyborg nos treinos para o UFC 232 — Foto: Getty ImagesJason Parillo e Cris Cyborg nos treinos para o UFC 232 — Foto: Getty Images

Jason Parillo e Cris Cyborg nos treinos para o UFC 232 — Foto: Getty Images

– O que eu vi foi Cris vencer a si mesma. Eu falei em muitas entrevistas antes da luta que essa era a minha maior preocupação: ela ser a Cyborg de antigamente, indo para o tudo ou nada, esquecendo o plano de luta. Eu disse a ela que, quanto mais alto nós chegássemos, mais difícil seria nos manter lá naquele estilo de luta. Temos que pensar um pouco mais, e ficar atrás do jab. Eu conheço a minha lutadora, e vi como ela reagiu quando aquele chute acertou em cheio a sua perna. Ao invés de se afastar e ficar atrás do jab, ela decidiu ir para cima da Amanda com tudo para buscar o nocaute, e acabou sendo pega assim. Foi um daqueles momentos em que você pensa: “ela não fez isso…” assim que Cris começou a “swingar” em direção à grade. Ela entrou no “modo desrespeito”, como se pudesse passar por cima de quem fosse. Mas quem estava diante dela era uma lutadora muito talentosa, com muito poder de nocaute. Essa era a forma como Cris poderia ser vencida, quando enfrentasse alguém que tivesse a capacidade de ter calma diante do seu estilo agressivo. Amanda merece todo o respeito por isso.

O treinador também falou sensação de derrota, quase desconhecida para Cyborg após 13 anos de domínio e invencibilidade no MMA. Afirmando precissar ter sensibilidade com a brasileira, Parillo acredita que ela precisa passar pelo que vem passando para se aprimorar.

Amanda Nunes nocauteou Cris Cyborg em 51s no UFC 232 — Foto: Getty ImagesAmanda Nunes nocauteou Cris Cyborg em 51s no UFC 232 — Foto: Getty Images

Amanda Nunes nocauteou Cris Cyborg em 51s no UFC 232 — Foto: Getty Images

– Estar invicta por 13 anos, sendo dominante como ela foi, aumenta muito a pressão. Cris Cyborg ainda é uma das maiores lutadoras da história, sua carreira não acabou. Mas ela perdeu, e as derrotas acontecem nesse esporte. A questão é como você lida com elas. Eu e ela nos falamos todos os dias após a luta, porque ela dominou o MMA feminino por todos esses anos, e a sensação de perder é nova para ela. Mas ela ainda tem aquele fogo ardendo no coração. Como a situação é nova para ela, eu tenho que ter a sensibilidade de falar as coisas certas. Mas a verdade nua e crua é o que faz qualquer um ficar melhor, mas afiado e mais esperto. Cris está passando por uma experiência que precisa ser vivida, para provar quem ela é. E eu sei que ela vai conseguir.

Parillo também falou sobre os bastidores do camp de treinamentos para a luta, e deixou transparecer que havia muitas pessoas ao redor da brasileira. Sem citar nomes, o treinador deixou claro que o sucesso acaba atraindo gente demais para perto de quem está no topo, aparentemente se aproveitando da personalidade acolhedora de Cyborg para tentar fazer parte do seu sucesso.

Jason Parillo e Cris Cyborg se divertem nos treinos para o UFC 232 — Foto: Getty ImagesJason Parillo e Cris Cyborg se divertem nos treinos para o UFC 232 — Foto: Getty Images

Jason Parillo e Cris Cyborg se divertem nos treinos para o UFC 232 — Foto: Getty Images

– Eu pensei muito em tudo o que aconteceu durante os treinos, em como a nossa mentalidade mudou por conta do nosso jogo mental ter sido tão forte por tanto tempo. Pensei o que eu poderia ter feito para que ela ficasse mais concentrada e com a mente focada no que era preciso. Eu vivo disso, e quando perco, é preciso analisar todas essas coisas. Cris gosta de fazer muitas coisas diferentes, e de treinar em lugares diferentes, e às vezes eu acho que há muitos chefes na cozinha. Não estou dizendo que esse é o caso, mas quando você está no topo, todo mundo quer fazer parte dos seu sucesso. Você acaba deixando muitos lutadores, sparrings, empresários e treinadores darem palpites – e até as mães deles. Mesmo sendo melhor lutadora do que todos que estão falando, ainda assim você lhes dá ouvidos. É sempre assim, especialmente quando você é legal com todos que estão à sua volta. Foi por isso que ela perdeu? Não sei, mas nós fizemos isso no passado, e agora temos que pensar no futuro.

Para o técnico, a derrota para Amanda Nunes teve um lado positivo: mostrar ao mundo a verdadeira personalidade de Cris Cyborg.

– O lado bom disso tudo é que, finalmente, as pessoas irão finalmente conhecer a personalidade de Cris Cyborg. Quando só se vence, não dá para conhecer a personalidade desse atleta – as pessoas só veem como vencedores e como a pessoa mais durona do mundo, Acho que ninguém – fãs ou as pessoas da indústria do MMA – conseguiriam conhecer a verdadeira personalidade de Cris Cyborg se ela não tivesse sofrido essa derrota. Todos viram a forma como ela abraçou Amanda, como foi humilde na derrota. Essa é Cris Cyborg.

Cris Cyborg abraça Amanda Nunes após a luta das duas no UFC 232 — Foto: Getty ImagesCris Cyborg abraça Amanda Nunes após a luta das duas no UFC 232 — Foto: Getty Images

Cris Cyborg abraça Amanda Nunes após a luta das duas no UFC 232 — Foto: Getty Images

Falando sobre o efeito do resultado na categoria peso-pena, Parillo acredita que a divisão finalmente começou a ter algum movimento, o que ele julga ser muito positivo. Com o contrato de Cris Cyborg com o UFC vencendo em março, o técnico espera que ela consiga fazer ao menos mais uma luta até lá – mas não acredita que seja uma revanche contra Amanda Nunes.

– Espero que essa luta abra a divisão peso-pena e que apareçam mais adversárias. É preciso lembrar que Cat Zingano venceu Amanda Nunes, e que Megan Anderson venceu Cat Zingano. Agora temos algum movimento na categoria, e é isso que temos que ver. Nós não vamos deixar o UFC. Vamos continuar aqui. Depois de uma pausa para pensar e descansar, vamos reconquistar o título. Cris tem tempo e habilidade para isso. Tenho ouvido muita coisa, mas se tem algo em que sou bom é em ficar longe da política. Só tenho que fazer o meu trabalho. Não acho que eles vão nos dar a revanche imediata, mas tudo bem. Se conseguirmos lutar até março será excelente. Mas não sei se isso irá acontecer. As negociações são trabalho para o empresário. Só quero o melhor para Cris.

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