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Por que Neto se aposentou como jogador? Os médicos explicam

Por Eduardo Florão — de Chapecó (SC)

 

Por que Neto se aposentou como jogador? Os médicos explicamPor que Neto se aposentou como jogador? Os médicos explicam

Márcio Cunha/Chapecoense

A resposta mais simples e fácil de entender é: a dor venceu. Neto tentou por quase três anos voltar a jogar em alto nível e chegou perto de retornar aos gramados, mas, por fim, optou, em conjunto com o corpo médico da Chapecoense, pelo encerramento a carreira como atleta.

“Não é que o Neto quis parar, mas a dor é muito intensa.” (Carlos Mendonça, médico da Chape)

De fato. Neto lutou bravamente para se recuperar das sequelas da queda do avião na Colômbia, em novembro de 2016, que matou 71 pessoas. Foram seis cirurgias no joelho. No entanto, este não foi o principal problema para abreviar a carreira de jogador.

– A dor era grande. O sacrifício do ser humano era grande. Não é que o Neto quis parar, mas a dor é muito intensa. Futebol exige muito, ele se cobra muito, então não dava mais. Temos que pensar no ser humano. Em comum acordo achamos por bem que era hora de parar – disse Mendonça.

Neto tentou retorno aos gramados por três temporadas — Foto: Márcio Cunha/ChapecoenseNeto tentou retorno aos gramados por três temporadas — Foto: Márcio Cunha/Chapecoense

Neto tentou retorno aos gramados por três temporadas — Foto: Márcio Cunha/Chapecoense

O impacto do avião gerou uma lesão na região lombar da coluna. Para se recuperar completamente, o zagueiro deveria ser submetido a uma cirurgia de correção ainda na Colômbia, mas isso não era possível pela grave situação clínica.

– Pelo trauma pulmonar, não podia nem transferir para fazer ressonância no hospital. E, com o tempo, calcificou. Se vou levar para cirurgia, tenho que trazer ele melhor. Como é atleta, tem uma reserva muscular, mas a musculatura atrofiou, a parte óssea calcificou, não da maneira correta, mas calcificou – explicou Marcos Sonaglio, médico de coluna.

Por que não fazer a cirurgia agora?

No ano de 2016, Neto passou por um procedimento para correção de um problema cervical chamado artrodese. Agora, seria necessário fazer um procedimento similar na região lombar. Porém, a colocação de parafusos tirariam do zagueiro a mobilidade necessária para atuar em alto nível.

– Se fizer, não há dúvida que vai comprometer o rendimento no futebol. A probabilidade de voltar em alto rendimento é baixa. Já tem a artrodese na cervical, perde mobilidade. Se fizer na lombar, que é o movimento em extensão para olhar para a bola quando estão cruzando, limitaria o desempenho. Se a dor estiver sob controle, tirando a carga de treino, podemos postergar a cirurgia – disse Sonaglio.

Preocupação com a qualidade de vida

Neto é um milagre. Isso é consenso para qualquer pessoa que tenha conhecimento da história do zagueiro e do acidente. Para os médicos que estudaram o caso dos sobreviventes, essa também é uma verdade. Último a ser resgatado com vida, ele estava debilitado e ficou em estado crítico por um longo período.

Depois de esgotadas as tentativas de Neto voltar a jogar, os médicos conversaram com o atleta sobre a possibilidade de encerrar a carreira e focar em outras atividades. A grande preocupação era com o ser humano, que mesmo tendo sobrevivido a uma queda de avião, seria cobrado dentro de campo para ter o rendimento que encantou a torcida verde e branca entre 2015 e 2016.

– Deveria ter feito o tratamento na Colômbia, mas não tinha condição clínica. A verdade é que não sabíamos nem se ia sobreviver. Isso gerou uma sequela. Ele foi longe, chegou perto. Se ele retorna e não tem um alto rendimento, a torcida cobra. As pessoas esquecem. Vão cobrar do atleta Neto em campo se não tem um rendimento de alto nível como sempre – falou Carlos Mendonça.

Gráfico mostra as lesões de Neto — Foto: InfoesporteGráfico mostra as lesões de Neto — Foto: Infoesporte

Gráfico mostra as lesões de Neto — Foto: Infoesporte

Neste ano, Neto realizou algumas sessões de treinamento com o restante do elenco, demonstrou a antiga inteligência em campo e deu esperanças pelo retorno. No entanto, as dores sentidas não eram apenas dentro das quatro linhas, mas também em casa.

– Quando foi para campo, na alta intensidade, a necessidade passou a capacidade que tinha. A dor começou a aparecer. O Neto não tem como voltar ao nível de excelência de jogo sem treino de alta intensidade. Ou vai para tudo, ou para nada. A dor não era só durante treinamento, mas também quando chegava em casa.Ele teve que usar medicamentos, tentamos tratamentos para controlar a dor, mas do ponto de vista médico, tem que ser levado em conta que não podemos fazer mal ao paciente. Não vale a pena comprometer a qualidade de vida e saúde. Foi uma decisão em conjunto, não foi fácil – disse Sonaglio.

AS CIRURGIAS DE NETO DESDE O ACIDENTE

Avulsão do ligamento patelar (ainda na Colômbia)
Reconstrução do cruzado posterior
Sutura do menisco lateral
Transplante autólogo de condrócitos da patela (transplante de cartilagem)
Duas artroscopias

A quase volta

Diversas vezes Neto deixou torcedores – e todos os amantes do futebol – esperançosos de que ele voltaria a jogar futebol profissionalmente, a exemplo de Alan Ruschel, também sobrevivente. Em março deste ano, ele fez a transição para os gramados, treinou com bola e passou por um trote com os companheiros.

Neto esteve próximo de retorno na Chapecoense — Foto: Márcio Cunha/ChapecoenseNeto esteve próximo de retorno na Chapecoense — Foto: Márcio Cunha/Chapecoense

Neto esteve próximo de retorno na Chapecoense — Foto: Márcio Cunha/Chapecoense

Em junho, formou dupla de zaga com Douglas em um coletivo e deu indícios de que seria aproveitado em breve. Pouco tempo depois, passou por uma bateria de exames em três institutos de Campinas, em São Paulo, e deixou o departamento científico otimista em relação ao retorno. A expectativa era que isso ocorresse em outubro.

Ele chegou a quase ser relacionado para uma partida sob comando de Claudinei Oliveira, mas um medicamento para corrigir o problema de asma estava na lista de agentes dopantes, o que brecou o retorno na ocasião.

Neto em ação no treinamento da Chape — Foto: Márcio Cunha/ChapecoenseNeto em ação no treinamento da Chape — Foto: Márcio Cunha/Chapecoense

Neto em ação no treinamento da Chape — Foto: Márcio Cunha/Chapecoense

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