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PF apura se marqueteiro do PT foi pago com dinheiro de propina

João Santana teve prisão temporária decretada na 23ª fase da Lava Jato.

Ele teria recebido no exterior US$ 7,5 milhões de origem ilícita.

O marqueteiro João Santana, que fez campanhas para o PT, recebeu US$ 7,5 milhões em contas no exterior, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Investigadores suspeitam que ele foi pago com propina de contratos da Petrobras.

Santana teria recebido US$ 3 milhões de offshores ligadas à Odebrecht, entre 2012 e 2013, e US$ 4,5 milhões do engenheiro Zwi Skornicki, entre 2013 e 2014. Representante oficial no Brasil do estaleiro Keppel Fels, o engenheiro foi preso na 23ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira (22). Ele é apontado como operador do esquema.

“Há o indicativo claro que esses valores têm origem na corrupção da própria Petrobras. É bom deixar isso bem claro, para que não se tenha a ilusão de que estamos trabalhando com caixa 2, somente”, diz o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.

 Santana atuou em campanhas da presidente Dilma Rousseff e da campanha da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.

A prisão temporária do publicitário foi pedida na 23ª fase da Lava Jato, chamada de Operação Acarajé, apelido dado ao dinheiro ilegal. O mandado ainda não foi cumprido, porque Santana está na República Dominicana. Também foi decretada a prisão da mulher dele, Monica Moura. Ela afirmou que o casal voltará ao país assim que for notificado oficialmente.

O advogado que representa o casal, Fábio Toufic, informou à Justiça Federal que Santana e Mônica já agendaram retorno ao país, o que deve ocorrer nas próximas horas.

Durante entrevista à imprensa nesta segunda, a PF informou que o casal retornaria ao Brasil no último fim de semana. Entretanto, por motivo não divulgado, eles não embarcaram no voo. Mesmo assim, a PF decidiu deflagrar a operação.

Suspeitas sobre a Odebrecht
Investigadores descobriram mais indícios do envolvimento de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira que está preso desde junho de 2015, no esquema investigado na Lava Jato. Ele teria controle sobre pagamentos feitos por meio de offshores ao publicitário João Santana, ao ex-ministro José Dirceu, além de funcionários públicos da Argentina.

O publicitário João Santana, em foto de maio de 2012 (Foto: Alexandro Auler/Estadão Conteúdo/Arquivo)O publicitário João Santana, em foto de maio de 2012 (Foto: Alexandro Auler/Estadão Conteúdo/Arquivo)

O MPF fez um novo pedido de prisão preventiva de Marcelo Odebrecht, mas ele foi indeferido pelo juiz Sérgio Moro. Segundo o procurador Carlos Lima, há indícios de que o empresário tentou transferir funcionários para o exterior, para dificultar as investigações em torno da Odebrecht.

Esta etapa da Lava Jato identificou novos operadores de propina na empreiteira: Hilberto Mascarenhas Alves Silva Filho e Luiz Eduardo Rocha Soares. Eles faziam os pagamentos ilegais por meio das offshores Klienfeld e Innovation, ligadas à Odebrecht, segundo as investigações.

O delegado da PF Filipe Pace diz que os fatos relevados na 23ª fase da Lava Lato surgiram de materiais apreendidos na 9ª etapa. Entre eles, estava uma carta de Monica Santana, mulher e sócia de João Santana na Pólis Propaganda & Marketing, endereçada ao engenheiro Zwi Skornicki.

Nela, havia um contrato entre a offshore Shellbill Finance SA, que tem sede no Panamá e a PF acredita ser de Monica, e a Innovation, ligada à Odebrecht. O texto diz ainda que foram apagadas cópias eletrônicas do contrato (veja abaixo).

A carta indicava caminhos para fazer pagamentos. Havia números de contas do Citibank em Nova York e em Londres, que, na verdade, correspodiam a uma conta na Suíça. O banco permitia operações em dólar e euro por meio de contas conveniadas nos Estados Unidos e no Reino Unido. “O dinheiro foi depositado através dessas contas correspondentes, mas o beneficiário final foi a sua conta na Suiça”, disse Filipe Pace.

A conta dos publicitários, em nome da Shellbill, não foi declarada às autoridades brasileiras, segundo o MPF.

Investigadores suspeitam que Santana comprou um apartamento de R$ 3 milhões em São Paulo com o dinheiro que recebeu da Odebrecht.

Bilhete escrito pela esposa de João Santana sobre dados de contas bancárias (Foto: Reprodução)Bilhete escrito pela esposa de João Santana sobre dados de contas bancárias (Foto: Reprodução)

Lancha apreendida durante a 23ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira (22) (Foto: Divulgação/Polícia Federal)Lancha apreendida durante a 23ª fase da Lava Jato.
Ela pertenceria a Zwi (Foto: Divulgação/PF)

Operação Acarajé
A 23ª fase da Lava Jato tem 51 mandados ao todo, sendo 38 são de busca e apreensão, 2 de prisão preventiva, 6 de prisão temporária e 5 de condução coercitiva – quando os presos são obrigados a prestar depoimento.

Os presos devem chegar a Curitiba por volta das 16h desta segunda. Participam da ação 300 policiais federais em cidades da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo.

Quatro pessoas que tiveram mandados de prisão expedidos estão no exterior: Fernando Migliaccio da Silva, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, João Santana e sua mulher, Monica Moura.

Já foram apreendidas obras de arte, lanchas e diversos documentos. Segundo o delegado Igor Romário de Paula, foram apreendidos cerca de R$ 500 mil em bens.

Em nota, a Odebrecht confirmou operação da PF em seus escritórios para o cumprimento de mandados de busca e apreensão. “A empresa está à disposição das autoridades para colaborar com a operação em andamento”, diz o texto.

Dinheiro apreendido na 23ª fase da Operação Lava Jato (Foto: Divulgação/ Polícia Federal)Dinheiro apreendido na 23ª fase da Operação Lava Jato (Foto: Divulgação/ Polícia Federal)

 

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