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Movido a títulos, Renato faz dois anos no Grêmio, revela choro e ambição: “Quero tudo”

Por Beto Azambuja e Paula Menezes — Porto Alegre.

GloboEsporte.com

Qual seria o futuro do Grêmio caso Marcelo Grohe não tivesse defendido três pênaltis na decisão das oitavas de final da Copa do Brasil de 2016, jogo da reestreia de Renato Gaúcho como técnico do clube? Nem mesmo o maior nome da história tricolor consegue imaginar. Na semana em que fecha dois anos no comando do time – um dos mais longevos do país –, Portaluppi vive a expectativa de inaugurar a própria estátua e erguer, pelo menos, mais uma taça neste ano.

Na semana passada, prestes a viajar para Tucumán, onde venceria o Atlético por 2 a 0 e encaminharia a vaga à semifinal da Libertadores, Renato recebeu a reportagem do GloboEsporte.com e da RBS TV para fazer um balanço dos 24 meses de Grêmio. E não há expressão melhor para definir o período do que a “lua de mel” tão citada por ele em entrevistas.

Movido a títulos, Renato faz dois anos no Grêmio, revela choro e ambição

Movido a títulos, Renato faz dois anos no Grêmio, revela choro e ambição

Quatro títulos depois de tirar o clube da fila de 15 anos sem uma taça de relevância nacional ou internacional, o treinador poderia sair da Arena por cima. Mas ele quer mais. Quer “tudo”, aliás. E esta ambição o move para seguir em busca do tetra da Libertadores e o tri do Brasileirão. O futuro só será decidido em dezembro – ou janeiro, caso haja nova disputa de Mundial. Sem contar a estátua a inaugurar.

“Eu quero tudo. Quando entro, é para ganhar. Mas entre esses títulos todos, minha preferência foi a Libertadores. Porque ela te dá a chance de conquistar mais dois”

De alguma forma, o sucesso de Portaluppi em sua terceira passagem pelo Grêmio está atrelado àquele 21 de setembro de 2016, quando Grohe foi do inferno ao céu na Arena, contra o Furacão. A emoção daquele dia se transfigurou em lágrimas em uma preleção anterior ao tetra da Copa do Brasil. E, se depender de Renato, vem mais choro por aí.

Confira abaixo trechos da entrevista:

GloboEsporte.com – Você completa dois anos no Grêmio. Imaginava que o primeiro jogo seria cheio de emoção como foi aquele contra o Atlético-PR?

Renato – Eu não imaginava. Minha chegada, minha estreia, faltava muita coisa na Copa do Brasil. O Grêmio ainda tinha uma pequena vantagem que havia construído lá no Paraná. Eu lembro que, durante a partida, infelizmente o Marcelo teve uma falha, o André Lima fez o gol. Aí depois todas as emoções foram para as penalidades, onde nós conseguimos passar pelo Atlético e, a partir daí, construímos uma campanha muito forte. Não esperava tanta emoção numa partida só.

Contra o Atlético-PR, Marcelo Grohe pega o pênalti que o leva do inferno ao céu — Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVGContra o Atlético-PR, Marcelo Grohe pega o pênalti que o leva do inferno ao céu — Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG

Contra o Atlético-PR, Marcelo Grohe pega o pênalti que o leva do inferno ao céu — Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG

Antes das penalidades, chegou a passar alguma coisa na sua cabeça do que aconteceria se o Grêmio fosse eliminado logo na reestreia?

Sempre passa. A gente tem que pensar em tudo. É uma coisa bem negativa, triste. No momento que você chega, terminar eliminado numa competição, ainda mais na Copa do Brasil. Mas o futebol proporciona isso: tristezas ou alegrias. Até porque não havia tido muito tempo para trabalhar. E mesmo assim foram muitas emoções, da maneira que aconteceu. A partir daí, da maneira que foi, ficamos mais fortes, começamos a construir a nossa caminhada para o título.

Tem uma cena antes dos pênaltis em que você conversa com o Marcelo Grohe. O que falou para ele?

Por ter sido jogador, se você buscar umas imagens, vai ver que em outras situações como essa eu converso bastante com meu goleiro. Mas essas coisas são particulares. Por mais que qualquer goleiro nosso fique ligado na maneira dos adversários bater os pênaltis, eu tenho essa noção muito grande. Olho para o jogador e mais ou menos sei a batida dele. Para se ter uma ideia, quando nós ganhamos a Recopa, falei para o Marcelo: “Fica parado que vão bater no meio do gol”. E o pênalti que ele pegou, mérito 100% dele, mas foi exatamente no meio do gol. O pênalti que o jogador do Estudiantes bateu para fora, falei que ia bater forte no meio do gol. A bola foi por cima, para fora. Se olhar para o Marcelo, ele estava parado. Se vai no gol, ele pega.

Grêmio FBPA

@Gremio

O técnico Renato Portaluppi completa hoje 2 anos no comando do Tricolor e comemorou com a baita vitória de ontem pela ! Boa, gênio! 🧞👏🏻💪🏻🏆🏆🏆🏆🇪🇪

O que você falaria hoje para o Marcelo, dois anos depois?

Dar só os parabéns para ele. Foi um cara que sofreu muito dentro do Grêmio. Hoje, tudo que ele tem, merece, por tudo que passou, tem conquistado e por tudo que representa para o clube. É um cara do bem, grande goleiro, cresceu muito. Um goleiro a nível de seleção brasileira. Não seria nenhuma surpresa se fosse convocado para a Copa do Mundo. Tem nos ajudado bastante, passado muita confiança para o time, e isso é importante. Quando falo com meu grupo, cito muito o Marcelo. Passou por várias etapas aqui no Grêmio muito difíceis. E ele conseguiu superá-las. Então, se tem um cara que merece todos esses títulos, é o Marcelo.

“Lá no Mineirão, na preleção no hotel, eu chorei muito. Mas era uma maneira de colocar para fora um sentimento de que não poderíamos deixar escapar aquele título”

Se o Grêmio não passa pelo Atlético-PR, seriam 16 anos sem ganhar títulos…

Lembro até hoje meu discurso quando cheguei aqui. Era inadmissível um clube grande como o Grêmio, campeão do mundo, ficar 15 anos sem ser campeão. Não era culpa daquele grupo, era do clube. Falei que a partir dali era nossa caminhada para acabar com esses rumores, que eram certos. Era muito sofrimento na cabeça do torcedor. Lembro que, a cada passagem de fase, tinha uma reunião com o grupo. Na semifinal contra o Cruzeiro, ou na final contra o Atlético-MG, lá no Mineirão, na preleção no hotel, eu chorei muito. Mas era uma maneira de colocar para fora um sentimento de que não poderíamos deixar escapar aquele título.

Renato Portaluppi aponta divisor de águas com título da Copa do Brasil em 2016 — Foto: Beto Azambuja/GloboEsporte.comRenato Portaluppi aponta divisor de águas com título da Copa do Brasil em 2016 — Foto: Beto Azambuja/GloboEsporte.com

Renato Portaluppi aponta divisor de águas com título da Copa do Brasil em 2016 — Foto: Beto Azambuja/GloboEsporte.com

O Geromel, por exemplo, é um mito e nunca tinha dado uma volta olímpica. Sacaneio ele até hoje. A volta olímpica não tem preço. O jogador não quer saber de dinheiro numa hora dessas. Quer ser campeão. Eu tinha certeza que nós íamos ser campeões. Só que não podia colocar isso para o grupo. Sentia que a cada conversa, a cada dia, estávamos mais fortes. Aí vi que ninguém tirava da gente.

E imagina o que conseguimos tirar de peso dos ombros da nossa torcida. Querendo ou não, o futebol é feito de sacanagem. Então, falei que a sacanagem que nossa torcida estava sofrendo tinha que acabar. Dos adversários, de não ganhar títulos, jogador do Internacional dançando valsa. São coisas que acontecem, sacanagem boa. Dão chance para o adversário tirar onda com você. Por isso que deixamos de lado muita coisa, nos concentramos só na Copa do Brasil.

Esse seu choro foi justamente porque estava com o sentimento de que ia ganhar e estava chegando cada vez mais perto?

Um pouco de tudo. Como o Grêmio não ganhava um título há 15 anos, não podia receber elogios. Eu sabia que podia ajudar muito aquele grupo fora do campo, pela experiência que já passei no futebol e pelas colocações que sempre fiz. Então, às vezes, você está falando com a sua mãe, filho, amigo, namorada, aí surge um assunto e você está tão concentrado que acaba chorando. Chorei na frente do grupo e isso não é vergonha para ninguém. Foi uma coisa espontânea. Mas eu lembro o semblante de cada jogador e… meu Deus do céu. Me falaram que o Edílson, que era nosso lateral-direito na época, disse que, quando o Renato chorou, não tinha como tirar da gente esse título. E realmente os caras se doaram de uma forma dentro do campo que foi bonito de ver.

“Quem tem muito esse tipo de reação são os ídolos, os que nasceram para vencer. Porque o treinador é que nem um ímã. Ele absorve tudo” (sobre o choro na preleção)

Quem tem muito esse tipo de reação são os ídolos, os que nasceram para vencer. Porque o treinador é que nem um ímã. Ele absorve tudo. Eu canso de falar que aqui no Grêmio eu vou em todos os departamentos, converso, troco ideias. E em qualquer área que eu for, se tiver opinião adversa, vai valer a minha. Porque eu me garanto naquilo que estou fazendo. Você não sabe a carga que o treinador recebe no dia a dia. E é lógico que tem que ter moral, inteligência, personalidade para tomar as decisões, mesmo que não seja na área dele. Mas eu assumo.

Parceria entre Renato e Luan é de craque para craque — Foto: Wesley Santos/Agência PressDigitalParceria entre Renato e Luan é de craque para craque — Foto: Wesley Santos/Agência PressDigital

Parceria entre Renato e Luan é de craque para craque — Foto: Wesley Santos/Agência PressDigital

Dou o próprio exemplo do Luan ano passado, na Libertadores. Quando fomos jogar contra o Botafogo, ele tinha machucado. Perguntei para o médico quanto tempo ficaria no departamento. Ele disse 20 dias. Falei que era muito, mas tudo bem, vamos lá. Passaram 20 dias, nada. Vinte e cinco, 30, 40, nada. Aí eu explodi. Fui lá no departamento médico e falei: “Chega, ele está comigo dentro do campo. A responsabilidade toda é minha. Ele vai treinar, eu vou controlar ele, fui jogador, eu sei”. Se jogasse 10 minutos e voltasse a sentir a lesão, não tem problema nenhum. Eu assumo. Foi um risco, mas também se não tomo aquela decisão, não tenho o Luan na Libertadores.

“Fiquei muito triste no dia que o Luan foi vaiado na Arena. Entendo o torcedor, exige muito, principalmente de um jogador diferenciado, o craque” (sobre o erro de pênalti de Luan no empate com o Cruzeiro, pelo Brasileirão)

Você tem acompanhado a situação atual do Luan… tem conversado com ele?

Eu fiquei muito triste no dia que o Luan foi vaiado na Arena. Entendo o torcedor, exige muito, principalmente de um jogador diferenciado, o craque. Mas é um cara que tem uma entrega muito grande nos treinamentos, é fominha, quer jogar o tempo todo. Então, isso conta muitos pontos com o treinador. Ele não quer ficar fora de nada. Muitas vezes tiro contra a vontade dele. Vai errar? Vai errar, porque está lá dentro do campo. Foi um pênalti que ele perdeu contra o Cruzeiro, poderíamos ter ganho. Foi uma das maiores injustiças que vi aqui.

Por este perfil de querer tudo, Luan pode ter se abalado por não ter ido à Copa do Mundo?

Não. Conversei com alguns jogadores que poderiam estar na Copa e não foram convocados: o Arthur, Luan e o Marcelo. Falei que se fosse treinador da seleção brasileira, estariam lá. Não por serem jogadores do Grêmio, mas pela qualidade deles. Tem que respeitar a opinião de cada treinador. O técnico tem suas ideias, mas a parte deles foi feita. E outras oportunidades vão chegar. Tem que continuar jogando bem e ganhando.

Técnico coloca alegrias pelo Grêmio próximas do nascimento da filha Carol — Foto: Beto Azambuja/GloboEsporte.comTécnico coloca alegrias pelo Grêmio próximas do nascimento da filha Carol — Foto: Beto Azambuja/GloboEsporte.com

Técnico coloca alegrias pelo Grêmio próximas do nascimento da filha Carol — Foto: Beto Azambuja/GloboEsporte.com

Poderia fazer um balanço desses dois anos de Grêmio?

Uma alegria que chega perto do nascimento da minha filha. Nem em milhões de palavras a gente consegue definir o que é ser campeão. É difícil demais. É difícil você ganhar um jogo. Por isso que quando um clube é campeão parece que você tira dois elefantes dos ombros. São dois anos maravilhosos na minha carreira em todos os sentidos, por ter tirado o Grêmio de uma fila de 15 anos sem ser campeão, ter ajudado este grupo a isso. Porque o que tento colocar na cabeça deles a cada dia é que têm que ganhar, ganhar, ganhar.

Em qualquer profissão hoje em dia, você ir para o trabalho com alegria, ser recebido com alegria, sentir a confiança de todo mundo como se estivesse em casa, de bem com a vida, é fundamental. Até para ir conquistando mais. Uma coisa leva a outra. Lógico que não vamos ganhar tudo. Mas nosso ambiente não muda, é sempre maravilhoso, do presidente ao roupeiro. Até porque não deixo mudar. Infelizmente, saímos agora da Copa do Brasil, estamos vivos no Campeonato Brasileiro e na Libertadores. Nossos objetivos são os mesmos, de buscar, pelo menos, mais um título. Vai dar? Não sei. Mas não é por falta de trabalho, confiança, amizade.

E terão três anos de Renato no Grêmio?

Eu respeito a opinião de todo mundo. Chega sempre no fim do ano, o Renato vai embora, está acertado com o Flamengo… Tem nada disso. A minha única preocupação é com o meu grupo e a gente tentar ganhar mais um título aqui. Nunca parei para pensar e começar a decidir o meu futuro. Vou decidir quando acabar o Campeonato Brasileiro, a Libertadores. Ou depois de Abu Dhabi, de novo. Quando chegar, vou sentar com o presidente, a diretoria, olhar nos olhos deles e vou trocar ideias. Aí vou começar a definir meu futuro. Até lá, qualquer pessoa que falar qualquer coisa, é tudo mentira.

“Muitas pessoas mereciam (uma estátua): doutor Fábio Koff, seu Verardi. Um cara que merece é o nosso presidente Romildo. Ele é uma pessoa fantástica”

Qual deles (Campeonato Brasileiro, Libertadores) você quer mais?

Eu quero tudo. Quando entro é para ganhar. Mas entre esses títulos todos, minha preferência foi a Libertadores. Porque ela te dá a chance de conquistar mais dois títulos: o Mundial e a Recopa. Eu amo o Campeonato Brasileiro, amo a Copa do Brasil. Copa do Brasil nós saímos, Campeonato Brasileiro estamos brigando.

Técnico do Grêmio deixa futuro aberto — Foto: Beto Azambuja/GloboEsporte.comTécnico do Grêmio deixa futuro aberto — Foto: Beto Azambuja/GloboEsporte.com

Técnico do Grêmio deixa futuro aberto — Foto: Beto Azambuja/GloboEsporte.com

Quando você chegou, lá em 2016, imaginava que agora, em alguns meses, estará inaugurando a própria estátua no clube?

Não. A estátua começou na sacanagem. Eu comecei a sacanear o grupo, o presidente, a diretoria. Não pedi estátua em momento algum! Foi uma brincadeira que foi crescendo, tomando uma maior proporção, e o que ajudou muito foram os títulos. “O que vocês querem mais?”. Aí o Conselho (Deliberativo) se reuniu e “pô, esse cara merece uma estátua”. Aí aprovou, e a estátua vai sair. Mas agora, cá para nós, pô, mereço mesmo essa estátua! Olha o currículo que tenho nesse clube! Tanta gente merecia uma estátua aqui.

Uma das pessoas que merecia uma estátua é o ex-presidente Fábio Koff, morto neste ano, quem considerava um pai?

Muitas pessoas mereciam: doutor Fábio Koff, seu Verardi. Um cara que merece é o nosso presidente Romildo. Ele é uma pessoa fantástica. Converso com ele e a gente esquece o Renato treinador, o Romildo presidente. Por isso digo que tenho linha direta com ele. Só pelo que já fez aqui no Grêmio… É o que falo: às vezes, as pessoas ficam 20 anos aqui no clube… O cara está aqui há dois anos (três, na verdade) e olha o que ele já conquistou. É o trabalho que ele ajuda a fazer, fundamental para a gente conquistar as coisas que conquistamos.

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