Nos 10 anos de sua última conquista europeia, técnico português dá longa entrevista, celebra família criada no time italiano e revela “alfinetada” ao pé do ouvido de Guardiola
Por GloboEsporte.com — Milão, Itália
Atualmente no comando do Tottenham, ainda longe do brilho que alcançou nos melhores tempos da carreira, o técnico José Mourinho relembrou sua última conquista europeia, que completa 10 anos nesta sexta-feira, com uma longa entrevista à “Gazzetta dello Sport”. No papo, o luso fez questão de deixar claro o quanto a Inter de Milão o fez feliz e lembrou o épico duelo contra o Barcelona nas semifinais da Liga dos Campeões 2009/10.
Mourinho deixou a emoção transparecer em suas palavras ao falar da experiência vivida em Milão, de onde saiu logo após a conquista do título europeu, rumando para o Real Madrid. O luso afirmou que era mais humano quando dirigia a Inter.
– Dei o melhor da minha carreira quando estava em casa, onde senti as emoções do grupo, onde estava 200% com o coração: mais uma pessoa do que um técnico. Fiquei mais feliz com a felicidade dos outros do que com minha própria felicidade. Em Madri, pensei primeiro em mim do que nos outros. Na Inter, nunca. Isso acontece em uma família: quando você se torna pai, entende que alguém é mais importante que você e passa para o segundo lugar – disse Mourinho.
José Mourinho celebra conquista da Liga dos Campeões com a Inter de Milão — Foto: Getty Images
Na época da conquista da Champions, Mourinho já tinha sua transferência para o Real cotada como certa, e a imprensa espanhola indicou que ele tinha um acordo com o Real Madrid desde antes da decisão contra o Bayern de Munique. Um fato que alimentou as especulações foi a escolha de Mou de não voltar a Milão com o time para a festa do título – o que o “Special One” apontou como uma espécie de “proteção”.
– Se eu tivesse voltado, com o time perto e os fãs cantando “José, fique conosco”, talvez eu nunca tivesse saído. Eu não havia assinado com o Real antes da final. Eu queria ir para o Real, eles já me queriam no ano anterior, e eu fui à casa de Moratti, e ele me conteve: “Não vá”. Eu havia dito não ao Real quando estava no Chelsea, e você não pode dizer “não” três vezes ao Real. Talvez hoje eu pudesse ficar quatro, cinco ou seis anos no mesmo clube, mas queria ser o primeiro, e ainda sou o único treinador, a ganhar as ligas da Inglaterra, Itália e Espanha.
Mourinho afirmou que decidiu ir para o Real Madrid em uma escolha baseada em “100% ambição”. E avaliou que sua passagem pela Inter lhe trouxe mais felicidade.
– Decidi após a semifinal com o Barcelona, porque sabia que venceria a Liga dos Campeões. Eu tinha preparado Moratti, sem palavras: nosso abraço em campo o fez entender o que eu queria. Ele me disse: “Depois disso, você tem direito de ir”. Era o direito de fazer o que eu queria, não de ser feliz. Na verdade, eu era mais feliz em Milão do que em Madri – pontuou.
Português afirmou que era mais feliz em Milão do que em Madri — Foto: Getty Images
O duelo de volta das semifinais daquela Champions acabou se tornando o mais marcante na passagem de duas temporadas de Mourinho pela Inter de Milão. Após uma vitória por 3 a 1 na ida, na Itália, o time foi confiante para a volta em Barcelona, mostrando solidez defensiva. O time de Pep Guardiola – que era o atual campeão europeu na época – ficou com um jogador a mais quando Thiago Motta foi expulso no segundo tempo, mas mesmo assim não conseguiu ficar com a vaga.
José Mourinho lembrou um episódio icônico do jogo no Camp Nou, envolvendo justamente o lance que deixou os catalães com 11 contra 10, quando fez uma provocação ao pé de ouvido de Guardiola. E revelou o que disse para o seu rival.
– Quando o Busquets caiu atordoado, fiquei na direção entre o nosso banco, o deles e o ponto onde Thiago Motta foi expulso. Pelo canto do olho, vi o banco do Barcelona comemorando como se já tivessem vencido, e Guardiola falando com Ibra sobre táticas de 11 contra 10. Eu apenas disse a ele “Não festeje, o jogo não acabou”.
Mourinho e Guardiola tiveram uma de suas noites de rivalidade na semifinal entre Inter e Barcelona — Foto: Getty Images
A Inter conseguiu segurar o resultado, derrubou Messi e companhia e se classificou para disputar a final. E Mourinho definiu o resultado como “derrota mais maravilhosa” que já sofreu.
– Nas arquibancadas você tem tempo para viver o drama, no limite até poder rezar. No campo, você precisa encontrar soluções. Disse que foi a derrota mais maravilhosa da minha carreira: não perdemos por 1 a 0, mas vencemos por 3 a 2 em condições épicas – pontuou.