Curiosidades

Jovem chamado de ‘monstro’ e ‘babão’ passa por cirurgia e aprenderá a falar: ‘Não vou ser mais humilhado’

Por Mariane Rossi, G1 Santos

Cleiton Bezerra antes (à esquerda) e depois da cirurgia (à direita) — Foto: Marcelo QuintelaCleiton Bezerra antes (à esquerda) e depois da cirurgia (à direita) — Foto: Marcelo Quintela

Cleiton Bezerra antes (à esquerda) e depois da cirurgia (à direita) — Foto: Marcelo Quintela

Desde pequeno, o jovem Cleiton Bezerra teve uma vida marcada por preconceito por causa de sua aparência. O morador de Cubatão (SP), que tem uma má formação muscular e esquelética, nunca conseguiu fechar a boca, falar ou comer direito. Com a ajuda de dentistas e o esforço de voluntários, aos 25 anos, ele finalmente realizou uma cirurgia para corrigir o problema: “Nunca mais vou ser humilhado”.

Apesar dos inúmeros problemas físicos, Cleiton nunca teve dificuldades cognitivas. Apesar disso, por conta das limitações, só conseguiu concluir os estudos em uma escola de educação especial. As dificuldades de Cleiton também refletiam em sua vida social. Por conta da aparência, ele nunca conseguiu namorar ou ter um emprego fixo.

Além disso, Cleiton passou por episódios de discriminação. “Ele sofre muito preconceito. Ele baba e o rosto dele é diferente. Devido à boca, o chamam de babão e monstro. Até quando ele pega ônibus tem gente que não senta do lado dele por medo ou nojo”, relatou o amigo Maiko Santana, em 2018, quando o G1 fez a primeira reportagem sobre o caso do jovem.

Cleiton não consegue fechar a boca — Foto: Marcelo QuintelaCleiton não consegue fechar a boca — Foto: Marcelo Quintela

Cleiton não consegue fechar a boca — Foto: Marcelo Quintela

O dentista Marcelo Quintela e o cirurgião buco-maxilofacial Alessandro Silva souberam do caso do jovem e resolveram ajudá-lo por meio do projeto Corrente do Bem. Os profissionais realizam, de forma voluntária, cirurgias e tratamentos e, assim, conseguem melhorar a vida de pessoas com problemas odontológicos e faciais.

Segundo os dentistas, a deficiência muscular e esquelética ocasionou um crescimento vertical dos ossos da face. Os maxilares cresceram tanto que não comportam a parte óssea, dentária e gengival, por isso, ele não consegue fechar a boca. “Ficando tudo assim exposto ao ar, o que é agressivo, ele acaba ficando com a garganta inflamada, bem como com a gengiva e céu da boca inchados”, explica Quintela.

Cleiton iniciou o tratamento gratuito na clínica odontológica da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes). Em julho de 2018, após doações e arrecadação de dinheiro para o pagamento de despesas, Cleiton passou por uma palatoplastia, que visa a reconstrução do palato, divisão óssea e muscular entre as cavidades oral e nasal.

Cleiton, o dentista Alessandro Silva e a mãe Fabíola — Foto: Alessandro SilvaCleiton, o dentista Alessandro Silva e a mãe Fabíola — Foto: Alessandro Silva

Cleiton, o dentista Alessandro Silva e a mãe Fabíola — Foto: Alessandro Silva

O procedimento foi realizado com sucesso no centro cirúrgico do Hospital Vitória, em Santos. A previsão era que a segunda operação, bem mais complexa que a primeira, acontecesse em 40 dias. O plano de saúde, porém, não aprovou a compra das próteses. A família entrou com uma liminar na Justiça e, depois de meses, o convênio foi obrigado a comprar os materiais.

A cirurgia ortognática foi, finalmente, realizada em outubro, no hospital Alvorada, em São Paulo. Delicada e trabalhosa, a operação durou cerca de seis horas. Os dentistas cortaram e reposicionaram os ossos do jovem. “Cortamos a maxila e colocamos para dentro, para que apareçam só os dentes, e abrimos para que ela fique larga. Feito isso, cortamos a mandíbula e suspendemos para colocar os dentes na posição correta”, explica Quintela.

Duas próteses de titânio foram implantadas próxima a região do ouvido. Como os ossos de Cleiton são frágeis, os dentistas temiam que eles não suportassem a mudança de posição e pudessem quebrar. Por isso, as próteses foram colocadas para atuar como articulações metálicas, garantindo que o jovem possa comer qualquer tipo de alimento. Elas são feitas de titânio e biocompatíveis com o tecido ósseo e gengival, ou seja, se adaptam ao organismo e não necessitam serem trocadas com o passar do tempo.

Cleiton Bezerra passou pela última cirurgia em outubro deste ano, onde foram implantadas próteses de titânio — Foto: Alessandro SilvaCleiton Bezerra passou pela última cirurgia em outubro deste ano, onde foram implantadas próteses de titânio — Foto: Alessandro Silva

Cleiton Bezerra passou pela última cirurgia em outubro deste ano, onde foram implantadas próteses de titânio — Foto: Alessandro Silva

Recuperação

Após a cirurgia, Cleiton passou dois dias internado antes de receber alta médica. De acordo com o dentista, ele permanece com a ‘boca travada”. “Para os ossos cicatrizarem nessa posição precisa ficar imóvel. Ele está feliz, está diminuindo o inchaço no rosto, não sente dor”, diz Quintela.

O próximo passo será ensinar Cleiton a falar. Por conta da má formação, ele apenas emitia alguns sons por não conseguir fechar a boca e completar as palavras. Os dentistas estão buscando fisioterapeutas e fonoaudiológicos que possam atuar, de forma voluntária, e ajudar Cleiton nesta nova etapa.

“O ato de falar não é voluntário e espontâneo. Agora, o Cleiton tem condições para falar, mas ele precisa aprender a falar. Ele grunhia, agora, tem como falar direito, só precisa aprender, porque nunca falou. Como a musculatura fraca, precisa de uma fisioterapia. São esses dois profissionais que estamos buscando agora”.

Vida nova

Ainda em recuperação, Cleiton permanece em repouso em casa e com o acompanhamento de uma nutricionista, já que perdeu peso após a cirurgia e mantém uma dieta a base de líquidos. Apesar de ainda estar com o rosto inchado, ele diz que está se recuperando bem e conta que já sente significativas mudanças.

Por meio de mensagens de texto enviadas ao G1, ele explicou a situação. “Estou muito bem. Ainda estou em repouso. Hoje já consigo fazer biquinho, sorrir, encostar os dentes um no outro. Eu não estou sentindo nenhuma dor”, comenta.

Cleiton explicou, também, que a cirurgia foi a melhor coisa que aconteceu na sua vida. Com uma nova aparência, ele espera ser, finalmente, aceito pela sociedade. “Não vou mais ser xingado pelas pessoas, nem humilhado, desprezado, nunca mais. Minha vida era muito difícil. As pessoas ficavam me zoando, me chamando de aberração, de monstro e várias palavras fortes. Assim que eu acordei da cirurgia, quando eu vi meu rosto, olhei bem eu disse para mim mesmo: Está aí um novo homem. Vou fazer tudo que eu não podia sentir em toda minha vida”, diz ele.

Maiko Santana, amigo de Cleiton, a mãe dele, Fabíola, Cleiton e o dentista Alessandro Silva, após a cirurgia — Foto: Maiko SantanaMaiko Santana, amigo de Cleiton, a mãe dele, Fabíola, Cleiton e o dentista Alessandro Silva, após a cirurgia — Foto: Maiko Santana

Maiko Santana, amigo de Cleiton, a mãe dele, Fabíola, Cleiton e o dentista Alessandro Silva, após a cirurgia — Foto: Maiko Santana

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