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Jô admite erro, se vê com “lenha para queimar” no Corinthians e diz: “Queremos manter Mancini”

Veja o gol de Jô contra o Ituano

Aos 34 anos, Jô não é mais o centroavante artilheiro do Campeonato Brasileiro de 2017, com 18 gols pelo campeão Corinthians. Hoje, o centroavante é a soma de suas várias experiências na carreira, um cara veterano e ciente de suas limitações dentro de campo.

E mesmo diante de inúmeras críticas da Fiel, ele garante que ainda tem “lenha para queimar” e pode entregar mais ao Timão.

– Fico tranquilo com as críticas. As comparações são de ordem natural. Não me incomodo. Fisicamente, estou muito bem. Não podemos expor, mas os números dentro do clube são bons, a forma física é a ideal. Pelo ano que fiz em 2017, a cobrança vai existir, mas já se passaram quatro anos, ninguém no mundo vai ser igual. Mas eu ainda sou o Jô e posso fazer o melhor dentro da minha capacidade. Por isso, venho trabalhando, me esforçando, os resultados vêm. A gente pede paciência pela cobrança, mas sempre vai existir. Eu faço meu melhor. Os resultados estão aí, a evolução da equipe – disse Jô, em entrevista exclusiva ao ge e à TV Globo depois de marcar contra o Ituano, no último domingo.

Jô comemora gol do Corinthians contra o Ituano — Foto: Rodrigo Corsi/Paulistão

Jô comemora gol do Corinthians contra o Ituano — Foto: Rodrigo Corsi/Paulistão

Ele não nega, porém, ter perdido mobilidade e velocidade dentro de campo nos últimos anos. Ciente das limitações, tenta compensar de outras maneiras quando é escalado pelo técnico Vagner Mancini.

– Você vai perdendo velocidade, mobilidade, já não é mais a mesma, é natural. Acabamos tentando fazer outras coisas, tentando se reinventar dentro do que o corpo permite. Se a velocidade não é mais a mesma, você tem que tentar fazer algo diferente: controle de bola melhor, deslocamento mais preciso na hora de fazer o gol, tiro curto e não mais longo. Vamos nos readaptando. A experiência também conta. Já não precisa correr 13km por jogo, se correr entre 8 ou 9km para o atacante é normal. Consegue entregar resultados que treinador pede. Vamos nos adaptando. É normal receber críticas. Fiz bons anos em 2017 e 13 (no Atlético-MG), espetaculares. Não tem como ser aquele Jô, mas o Jô de 2021 ainda pode fazer muita coisa – completou.

“Queremos manter Mancini”

Jô diz nutrir profunda admiração pelos métodos de trabalho de Vagner Mancini. Para ele, mesmo depois de já ter trabalhado com tantos treinadores diferentes na carreira, a clareza de ideias e propostas de Mancini e a forma como trata os jogadores são diferenciadas, acima da média.

Por isso, Jô não tem receio em dizer que o grupo tem tentado entregar o melhor que pode para ajudar o técnico a ter sequência no Timão.

– O que eu falo do Mancini é a clareza. Independentemente do jogador, ele tem a mesma abertura, de conversar. Acho isso bacana demais para um técnico, chegar e trocar ideia, avisar o que está pensando. Explicar quando te tira ou te coloca. Não é obrigação dele, nenhum técnico precisa ficar dando satisfação para o jogador. Mas o caráter dele, a maneira de ele trabalhar te deixa tranquilo nessa questão. Aceitei numa boa. Ele fala que sou importante, que procura ser transparente. Isso faz a gente se sentir bem dentro do ambiente – comentou Jô.

– Estamos fazendo o melhor para poder mantê-lo, porque a gente sabe que são os resultados que vão dar sequência a ele.

Elenco do Corinthians recebe orientações do técnico Vagner Mancini — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Elenco do Corinthians recebe orientações do técnico Vagner Mancini — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Curiosamente, durante a temporada de Acesso Total, série do SporTV com os bastidores e o dia a dia do Corinthians em 2020, Jô acabou exposto ao ouvir do técnico que seria trocado por Léo Natel no time titular. Nada que fosse problema para o centroavante.

– Foi muito legal o Acesso Total, exposto para o mundo todo, legal mostrar a transparência do treinador e a humildade do jogador em aceitar isso e continuar trabalhando e saber que as chances vão aparecer de novo. Fico muito feliz. Nunca tinha passado por isso de ser gravado o dia a a dia.

O Corinthians volta a campo nesta quinta-feira, às 21h30, para enfrentar o River Plate-PAR, no estádio Defensores del Chaco, em Assunção. Jô briga por uma vaga no ataque corintiano com o jovem Cauê, de 18 anos. Ambos fizeram um gol nos últimos quatro jogos.

Episódio do resort

Entre o gol marcado contra a Ponte Preta, em 7 de março, e o gol do último domingo, Jô não só viveu um jejum de gols, mas também passou dias de críticas severas.

No mês passado, aproveitou uma folga para ir com a esposa e com Otero a um resort, publicou o companheiro sem máscara e foi duramente criticado nas redes sociais. Ele admitiu que houve, sim, um erro ao se expor.

– Olha, existiu um erro, sim. Fui fazer uma brincadeira com Otero e expus algo em uma situação complicada no país e no clube. Mas em nenhum momento fui irresponsável na questão de ir fazer festa. Estava em um resort, na minha folga, com a minha esposa, que seguia o protocolo, como existe protocolo em shopping, em restaurante.

Jô publica Otero em piscina de resort durante folga no Corinthians — Foto: Reprodução

Jô publica Otero em piscina de resort durante folga no Corinthians — Foto: Reprodução

– Só que a gente vive em mundo de juízes, julgam o tempo inteiro, pessoas que nunca fizeram nada de errado. Como eu falei, a minha exposição, sim, foi errada, mas eu estava na minha folga, com a minha esposa, num resort com protocolos. Devido ao momento, foi errado, sim. Deixei claro no clube. Pedi desculpas perante o grupo, a diretoria, a comissão, o presidente, todo mundo. O assunto ficou encerrado. A gente fica triste pelo julgamento sem saber da história, mas é o mundo em que a gente vive hoje, infelizmente – finalizou.

Confira a entrevista exclusiva com Jô:

ge: Você marcou gol no último teste antes da Sul-Americana. Um belo momento para encerrar o jejum de gols, não é?
JÔ:
 – Acho que todo gol vem sempre em momento bom. Não só o Corinthians merecia uma boa vitória, mas uma boa partida, equilibrada. A gente se impôs. Isso coroa a sequência de um bom trabalho. Venho fazendo um bom trabalho. Nunca desacreditei do meu potencial, aceito críticas e comparações, mas tenho meu valor, tenho o que dar ainda ao Corinthians, com entrega dentro e fora de campo. Estou muito feliz pelo gol. Nos dá mais confiança para começar uma competição na quinta-feira que eu e o Corinthians ainda não temos.

Qual a história do quarto 05? Você e o Camacho concentram juntos, é isso?
– Quarto 05 somos eu e Camacho, todos passam ali. Almoço, jantar, jogar pôquer, brincadeiras. O quarto funcionou. Já tinha funcionado no primeiro tempo, mas no segundo inverteu do jeito certo, com ele dando passe para mim. É uma relação bacana que eu tenho com ele.

Confira os bastidores da vitória do Corinthians sobre o Ituano pelo Campeonato Paulista

O Xavier disse no vestiário a conversa que teve como você, na qual você disse que era para encarar o jogo como o jogo da vida. O Cauê te abraçou depois do gol. Como é esse Jô paizão dos meninos?
– Eu me vejo muito na situação dos garotos, por tudo que eu passei. Subi com 16 anos, era adolescente de rua. Tive jogadores que fizeram isso por mim, e me sinto no direito de fazer por eles, já que tive uma carreira consolidada graças a escutar jogadores no passado. Faço o que for possível para que não só os da minha posição, como Cauê, mas faço pelo Xavier, Raul, para todos que pedem auxílio, contar o que se vive no futebol. Passo que cada jogo é o jogo da vida, sim, porque é o ganha pão deles. Jogo de final de campeonato. Se Deus deu chance de jogar, é porque são capazes. Eles têm entrega. Temos que ter paciência com eles. Talvez não seja a solução direta, mas podem nos ajudar com o tempo, conforme a experiência vier, forem dados os jogos a eles.

Jô abraça Cauê após gol do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Jô abraça Cauê após gol do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Entre expectativa e realidade, qual o balanço do Corinthians que você encontrou nesse retorno?
– Eu, na verdade, vivi um Corinthians parecido. Cheguei em 2016, não era um bom momento. As contratações em 2017 eram Jadson, Gabriel, Kazim, todos vieram livres. Não teve investimento grande. Acredito que trabalhando, sendo um grupo unido, que entenda as limitações, você alcança os objetivos. Todo ano tem sua história. Esse ano de 2020 teve pandemia, temporada uma atrás da outra, e o clube decidiu não trazer jogadores, mas é acreditar no nosso trabalho. O Mancini é espetacular de conversar, trocar ideia, ver o jeito de jogar, como o jogador se sente. A gente está abraçando isso. Talvez não seja um futebol vistoso como muitos estão acostumados, mas está sendo bem feito, estamos nos dedicando. A prova são equipes diferentes correspondendo. A derrota contra a Ferroviária escondeu um bom jogo. Domingo, bom jogo com vitória. Acreditamos nesse tipo de trabalho. Reforços ajudam, mas temos que confiar nos que estão aqui. Se é esse o grupo, vamos com ele confiando até o final.

Não temeu colocar em xeque sua história e ficar marcado pela passagem de agora?
– Em nenhum momento. Nem pensei, nem parei para pensar. É meu clube do coração, toda a gratidão que eu tenho. Sem o Corinthians, eu não seria o Jô. Fiz pelo coração, era momento de voltar. Minha história não vai ser apagada. Estou aqui sempre falando, recebendo críticas, absorvendo o que me faz crescer como homem e jogador, e sempre pensando em fazer melhor. Não pensei na escolha, estou aqui de peito aberto na hora boa e na hora ruim, com gratidão enorme.

Já pensa em encerrar a carreira?
– Estou com 34 anos, me vejo novo ainda, mas é natural pensar em uma aposentadoria até para se preparar para o pós-carreira, mas ainda tenho lenha para queimar. Estou na reta final, é inevitável. Não estou mais com 20 anos, tenho uma carreira bem-sucedida. Agora é tentar encerrar bem. Sou jovem como ser humano, mas algumas coisas dentro do futebol já vêm, que estou velho, 34 anos e blá blá blá. A gente releva, mas sabemos que estamos na reta final.

Tem um prazo para isso?
– Isso todo mundo quer saber. Não tenho tempo, números exatos. Vou de acordo com o que meu corpo mostrar. Se o corpo não te ajuda mais, aí sim é momento de pensar em parar. A maioria do jogador fala em ir até os 38 ou 39, mas a gente sabe que se o corpo estiver à disposição, fazendo em alto nível, vale a pena continuar.

O que fará no pós-carreira do campo?
– Tenho bastante coisa em mente. A gente pensa em todo momento dentro do futebol. Não tem como não pensar. Empresário, diretor de futebol, treinador… Quem sabe? Não parei para pensar em qual área, mas certamente vai ser dentro do futebol.

Qual o balanço dessa terceira passagem pelo Corinthians?
– A minha passagem hoje é um pouco de altos e baixos. Tive uma chegada para jogar em meio de problemas dentro do clube, falta de atacante, e isso acelerou meu processo. A falta de ritmo me prejudicou, tive lesões, Covid, retornei com gols, fui bem no meio do Brasileiro, caí no final. Não é uma passagem consolidada ainda, mas tenho a evoluir bastante. Não deu um ano da volta. Acredito no meu potencial, tenho muito a crescer. Também foi assim na última passagem, e saí vitorioso. Acho que dessa vez será mais longa.

Sua esposa parece sofrer com as críticas a você nas redes sociais. Como você faz para acalmá-la para que isso não a afete tanto?
– Falo para minha esposa ter calma, evitar redes sociais. Há coisas boas e ruins, muitos juízes. Ela é uma pessoa impulsiva e, às vezes, fala não para criticar ou humilhar alguém, mas para defender alguém por quem ela tem um carinho, que é o marido dela, como profissional e ser humano. Você é julgado pelo que faz dentro do campo, mas fora é o ser humano que ela acredita que seja espetacular em casa. Então, isso incomoda ela. Falo para ela não misturar o profissional com o pessoal.

(Com informações do GE).

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