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Ex-lutador do UFC, enfermeiro relata situação “horrível” na luta contra COVID-19 em Nova York

Por Combate.com — Nova York

O americano de raízes filipinas Phillipe Nover já esteve na luta dentro do octógono do UFC. O ex-participante do “The Ultimate Fighter” inclusive enfrentou Renan Barão em Brasília em 2016. Um ano depois, Nover se aposentou do MMA e passou a se dedicar à enfermagem em Nova York, cidade onde reside. Agora, o ex-lutador está envolvido na maior batalha que já encarou: contra a pandemia global do COVID-19, o novo coronavírus.

Membro do laboratório de cateterismo cardíaco, Phillip Nover é um dos profissionais convocados a reforçar as emergências e unidades de tratamento intensivo, cada vez mais lotadas de pessoas que contraíram o novo coronavírus. O estado de Nova York é considerado o epicentro da pandemia nos EUA; até terça-feira, a capital já contava 932 mortos e mais de 40 mil infectados confirmados.

– As coisas viraram de cabeça para baixo em poucos dias ou semanas. Eu diria que a cidade de Nova York estava muito mal preparada. Especialmente, como podem ver, com o equipamento de proteção pessoal, que são as máscaras, aventais, máscaras N95 (máscara respiratória especial). Inicialmente, havia muitos problemas em conseguir o suficiente para a equipe médica. Ter testes o suficiente, que apenas na semana passada eu diria que conseguimos realmente testar dentro do hospital. Esta pandemia está se espalhando muito rapidamente – contou o ex-lutador, em entrevista ao site americano “MMA Fighting”.

Phillipe Nover (centro), ex-lutador do UFC, posa com suas colegas enfermeiras em Nova York — Foto: Reprodução/InstagramPhillipe Nover (centro), ex-lutador do UFC, posa com suas colegas enfermeiras em Nova York — Foto: Reprodução/Instagram

Phillipe Nover (centro), ex-lutador do UFC, posa com suas colegas enfermeiras em Nova York — Foto: Reprodução/Instagram

Segundo Nover, os números oficiais relatados pelas autoridades provavelmente não são próximos da realidade que ele tem observado diariamente, porque a quantidade de exames para o novo coronavírus está aquém da necessidade – testes só são administrados se o paciente estiver em estado crítico e com muitos sintomas. Salas de emergência e UTIs estão lotadas na maior parte do tempo. Além disso, há os problemas de emergências de saúde comuns para se cuidar.

– Semana passada, eu tive um paciente que teve um ataque cardíaco, nós entramos e colocamos um stent, e não tinha leito de UTI. As unidades de UTI estão cheias de pacientes de COVID-19. Fora isso, eu não gostaria de ter um parente meu em uma UTI, logo depois de ter um ataque cardíaco, perto de um paciente que tem COVID-19, que está se espalhando como uma queimada. Há um problema de contaminação cruzada. Nova York está uma bagunça. Está rapidamente se espalhando e é manejável, mas em algum momento, não vai ser, a não ser que esses números caiam – comentou o ex-lutador.

Lidar com o coronavírus tem sido uma situação mais assustadora para Nover do que enfrentar qualquer lutador no MMA. Doenças contagiosas não costumam ser parte de seu trabalho na equipe de cardiologia. Ele teve de engolir o medo, e se proteger como pode no trabalho. O ex-lutador veste uma máscara N95 e outra máscara por cima, dois pares de luvas, coberturas para seus sapatos, um avental esterilizado, uma touca e um escudo para os olhos. Alguns de seus colegas já contraíram o vírus.

Phillipe Nover (dir.) encara Renan Barão na pesagem do UFC Brasília, em 2016: ele se aposentou em 2017 — Foto: Getty ImagesPhillipe Nover (dir.) encara Renan Barão na pesagem do UFC Brasília, em 2016: ele se aposentou em 2017 — Foto: Getty Images

Phillipe Nover (dir.) encara Renan Barão na pesagem do UFC Brasília, em 2016: ele se aposentou em 2017 — Foto: Getty Images

Apesar de não lutar mais MMA profissionalmente, Phillip Nover ainda treina jiu-jítsu. O ex-lutador, porém, não tem treinado ultimamente, pois entende que, mesmo que não tenha sintomas, pode ser hospedeiro do vírus e espalhá-lo. Por seu conhecimento do meio da luta, ele entende o desejo de seus colegas de MMA de seguir em atividade, assim como a insistência de Dana White, presidente do UFC, em realizar eventos. Contudo, adverte que o perigo do contágio é ainda maior na modalidade.

– Esta é a pior coisa a acontecer para lutadores de MMA e jiu-jítsu, pois ficamos literalmente um em cima do outro, absorvendo o suor um do outro. Temos epidemias de (infecção por) estafilococos e outras coisas toda hora. Isto (coronavírus) é muito facilmente transmissível. Eu não os culpo; se eu fosse mais novo, como quando entrei no UFC com 24 anos, eu provavelmente estaria treinando também. Mas, hoje em dia, sou muito mais maduro e penso em outras coisas na vida. Vejo o UFC pelo que é: uma corporação. Eles têm de realizar eventos de qualquer maneira.

Além disso, Nover avisa que o risco maior não é com os lutadores, mas com seus círculos mais próximos.

– As chances desses jovens atletas saudáveis adoecerem é bem baixa. O mundo do MMA é cheio de jovens fortes, que basicamente acham que nunca vão morrer. É uma população de alto risco. Eles provavelmente farão auto quarentena por duas semanas, mas o grande risco é eles contraírem, serem hospedeiros e depois espalhar para pessoas que não são jovens atletas. E os pais deles? E as pessoas ao seu redor? É muito complicado. (…) Vi coisas horríveis com o COVID-19. Pacientes morrendo na minha frente, lutando por ar. Não é algo que eu queira ver mais, e acho que fazer quarentena e ficar em casa ajudaria.

Para o enfermeiro e ex-lutador, a única forma que o UFC poderia realizar eventos seria se conseguisse testar todos os envolvidos na sua realização – algo que, como ele mesmo disse, vem sendo uma grande dificuldade para a rede hospitalar de Nova York.

– A coisa número 1 para vencer este vírus serão os testes. Não há testes o bastante sendo produzidos. Dizem a nós, trabalhadores da saúde, que temos de racionar os testes. (…) Até termos centenas de testes para a população em massa, o vírus vai continuar se espalhando. (…) Talvez Dana White possa fazer um evento se ele conseguir 250 exames, testar todo mundo e todos saiam negativos. Aí eles podem fazer um evento – concluiu.

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