Matérias

Entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional ganha sobrevida nas redes e alimenta guerra de versões

Jair Bolsonaro na sabatina do Jornal Nacional Reprodução/TV Globo

Nas redes sociais — tão caras às estratégias bolsonaristas — a repercussão da entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Jornal Nacional, segunda-feira, reacendeu assuntos que estavam mornos na corrida às urnas, como pandemia e corrupção, indicam análises de pesquisadores. No dia seguinte à sabatina, uma disputa de narrativas sobre as falas do candidato dominavam postagens, dividindo opiniões. No Google, termos como “asfixia” explodiram em buscas (alta superior a 5.000% junto ao nome do presidente), após Bolsonaro negar que, na emergência da Covid-19, houvesse imitado um paciente com falta de ar.

Foi questão de minutos para o vídeo em que ele simulava uma pessoa sem ar, gravado no auge da crise mundial, em 2021, ser resgatado e inundar a internet. A ponto de o postulante à reeleição, por volta das 23h de terça, ir ao Twitter e ao Instagram se justificar: “Eu defendi essas pessoas, não era deboche, estava criticando o protocolo Mandetta”, escreveu.

O assunto foi um dos pontos focais das críticas a Bolsonaro nas redes. Durante os 40 minutos de entrevista, a Quaest Pesquisa e Consultoria aponta que 65% das menções ao presidente foram negativas. Diretor do instituto, Felipe Nunes analisa que três pontos foram mais desfavoráveis ao sabatinado: quando o debate abordou a pandemia e a imitação feita por Bolsonaro; no momento em que ele questionou a legitimidade das urnas eletrônicas; e no trecho em que se discutiu corrupção e denúncias contra o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.

— Nas menções negativas, corrupção foi o tema que mais me surpreendeu, porque o combate a ela tinha sido um dos pilares da eleição de 2018 — diz Nunes, antes de ressaltar as positivas. — Os melhores momentos têm a ver com a performance de Bolsonaro como debatedor, e não tanto com o conteúdo.

Ele se refere às respostas do candidato com relação a xingamentos contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF; quando foi questionado sobre sua aliança com o Centrão e retrucou com a frase “você está me estimulando a ser ditador”; e no instante em que assume um compromisso com o resultado do pleito.

— Em seguida, porém, as menções se tornam negativas, após Bolsonaro condicionar que as urnas serão respeitadas desde que as eleições sejam limpas — afirma Nunes.

Outro levantamento, da Escola de Comunicação, Mídia e Informação (FGV) permite uma comparação com a entrevista do candidato ao JN em 2018. Naquele ano, valores conservadores e segurança pública renderam engajamento positivo. Enquanto questões de gênero e educação sexual geraram polêmica.

Desta vez, na nuvem de palavras tuitadas entre 20 e 22 de agosto, apareceram termos como “Mentiroso no JN”. E a análise da escola, assim como a da Quaest, conclui que pandemia e corrupção geraram majoritariamente um tom crítico a Bolsonaro. A economia também, diz Marco Ruediger, diretor da FGV-ECMI. Segundo ele, o candidato usou a Covid-19 e a Guerra da Ucrânia para fundamentar problemas como a inflação:

— Ele insiste que foi vitimado por dois acontecimentos históricos. Isso gerou uma imagem de que ele foi injustiçado, retomando uma retórica adotada em 2018.

A batata e o homem simples

Mais uma tática da eleição passada repetida foi a ideia de um “homem simples”. Depois da entrevista, Bolsonaro foi à Batata de Marechal Hermes, no Rio. Ele próprio postou um vídeo em meio à população, que imediatamente gerou um pico de buscas no Google pelo tradicional petisco — interesse, no entanto, que não passou de horas. Ontem, o que continuava a repercutir eram assuntos ligados, sobretudo, à atuação de Bolsonaro na pandemia.

No Twitter, às 14h45, apareciam nos trending topics as expressões “lockdown” e “psicopata no Planalto”. Na primeira, travava-se uma guerra de versões sobre se houve ou não lockdown no país e sobre a recomendação “fique em casa se puder”, com direito a postagem de Eduardo Bolsonaro (PL), filho do presidente. A segunda virou uma hashtag de opositores do candidato em resposta a declarações dele no Jornal Nacional.

Deixe seu comentário

TV

Rádios

Arquivos

  • Arquivos

  • Links

    Links