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Dois gays e uma transexual são agredidos no carnaval de São Paulo

Maquiadora teria sido espancada por ao menos 20 pessoas.
Ativista levou pontos no olho e queixo e teve a máquina roubada.

Ativista e artista Dudu Quintanilha, agredido no carnaval (Foto: Arquivo Pessoal)
Ativista e artista Dudu Quintanilha, agredido no carnaval (Foto: Arquivo Pessoal)

Ao menos dois gays e uma transexual relataram ter sido vítimas de agressões e homofobia durante o período das festas de carnaval em São Paulo (do dia 29 de janeiro a 14 de fevereiro pelo calendário oficial da Prefeitura de São Paulo).

Dudu Quintanilha, 28 anos, artista e ativista do MEXA, Movimento e Encontro da Diversidade LGBT que integra Fórum LGBT da População em situação de rua, foi agredido a pauladas e socos por quatro pessoas na Praça Roosevelt, Centro da capital paulista, após ter participado do bloco carnavalesco Gran Coqueluche, na madrugada de terça-feira (9).

Naquela noite, choveu muito e Dudu contou que emprestou seu shorts e regata para uma amiga que perdeu a fantasia e precisava entrar no táxi. Ele ficou de cueca e voltava para casa quando foi atacado pelo grupo.

“Primeiro levei uma paulada, depois socos. Fiquei no chão, consegui ver que tinha três homens e também uma mulher. Me xingaram de viado, de filha da puta, como se eu estivesse faltando com respeito”, afirmou.

Dudu disse que foi à Santa Casa, na Santa Cecília, onde levou quatro pontos no olho e três no queixo. Na saída do hospital, uma amiga que o acompanhava chutou um saco preto e viu que era a câmera fotógrafica que Dudu usa profissionalmente. A vítima disse que conseguiu recuperar a câmera que estava com um morador de rua.

“Você percebe quando a pessoa vai te roubar, é ladrão. É diferente de quando vem gritando com um pau e uma pedra”, disse Dudu que concluiu que foi vítima de crime de homofobia.

“Fiquei muito triste, chorei muito. Chorei a noite inteira. Depois, fiquei dois dias sem sair de casa”, completou.

Dudu conta que fez boletim de ocorrência no 4º Distrito Policial (DP), na Consolação, mas diz que foi registrado apenas como roubo, sem mencionar que ele havia sido xingado. Depois, ele foi orientado a registrar boletim de ocorrência no Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

“Lá no Decradi me disseram que há grupos que atacam gays na Augusta e na Roosevelt durante o carnaval”, disse.

Agredida por 20 pessoas
Foi o que ocorreu com uma maquiadora transexual de 22 anos, na madrugada do último domingo (14), na Rua Augusta, agredida por ao menos 20 pessoas. Grupos ligados aos direitos dos homossexuais informaram ao G1 que o caso foi registrado no 78º DP, nos Jardins, como “roubo a transeunte”, ignorando a suspeita de que o crime teria ocorrido por homofobia.

Outra crítica feita pelos movimentos é a de que o nome social da vítima não foi usado no boletim de ocorrência, o que fere determinação do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Em novembro, ele anunciou que os registros policiais passariam a ter espaços para preenchimento do nome social e para a inserção do crime, em decorrência da orientação sexual ou identidade de gênero da vítima.

A transexual contou estar acompanhada por algumas amigas quando foi atingida por uma garrafa na cabeça. Ao menos 20 pessoas a teriam cercado e espancado. Em seguida, foi derrubada no chão, levou socos e chutes, e teve o celular roubado. Durante as agressões, ela disse ter ouvido insultos contra sua orientação sexual.

Apesar de o caso ter sido registrado no 78º DP, ele será investigado pelo 4º DP. A Polícia Civil informou, por meio de nota, que a ocorrência foi registrada como roubo, crime mais grave cometido no caso, mas a agressão está presente no relato do Boletim de Ocorrência. Foi requisitado exame de corpo de delito para a vítima.

“O caso está sendo investigado pelo 4º DP, distrito responsável pela região dos fatos. A Polícia Civil esclarece que a falta do nome social da vítima no boletim de ocorrência será apurada”.

Outro caso ocorrido no carnaval ocorreu no dia 5 de fevereiro nas esquinas das ruas João Ramalho com Monte Alegre, onde fica a Pontifícia Universidade Católica (PUC) em São Paulo. A Decradi investiga o caso como suspeita de homofobia.

A vítima acusa um grupo de pessoas de agredí-lo durante um baile carnavalesco perto da PUC por causa da sua orientação sexual. Câmeras de segurança são analisadas pela investigação da Decradi para tentar esclarecer o crime. A equipe de reportagem não teve acesso às imagens.

Segundo Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, o carnaval é uma época em que ocorre muitas agressões a homossexuais e, atuamente, os casos estão sendo registrados e divulgados.

Para o MEXA, “ninguém merece apanhar e muito menos morrer por ser gay, isso é tão arcaico, isso mostra um atraso tão grande da  nossa sociedade. a gente luta pelo básico, pelo direito de aceitação, por não sermos tão vulneráveis nas ruas. Queremos uma cidade que acolhe e não que agrida. A rua é espaço de convivência, não de medo e riscos sérios à vida”.

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