“Eles não agem de forma intempestiva como se constrói aqui no ocidente. Agem de forma muito prudente, muito pensada, em médio e longo prazo. É improvável que ajam em um ataque aéreo ou em bateria militar. Nunca fizeram e não é agora que vão fazer. O Irã vai ser ainda mais precavido e não vai haver contra-ataque”, assinala.
Em sua opinião, a iniciativa dos EUA vai gerar coesão interna entre os grupos políticos do Irã, e vai aumentar a influência do país na região como ocorreu em outros momentos beligerantes na região. “Nos anos de guerra no Afeganistão e no Iraque, o Irã aumentou a influência política, militar e econômica na região. Ele cresceu à medida que seus vizinhos enfraqueceram, inclusive por causa das intervenções norte-americanas”, descreve Nasser.
O professor chama atenção que o general iraniano assassinado pelos americanos, era considerado “low-profile” e “não era terrorista”. Conforme o acadêmico, Qassem Soleimani defendia as estratégias do Irã de combater o Estado Islâmico e o Taleban.
Território protegido e estoques garantido
Reginaldo Nasser afirma que o aumento de tensão na região não afeta a segurança do território norte-americano, a única exceção na história dos EUA foi o atentado de 11 de setembro de 2001.
Se em termos militares os Estados Unidos mantêm segurança, por causa da distância do território e da superioridade bélica em relação a outros países, em termos econômicos o episódio contra o Irã também terá poucas consequências. Quem acrescenta essa avaliação é de Jorge Camargo, ex-presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) e hoje vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
“Os Estados Unidos tornaram-se autossuficientes e exportadores de petróleo e gás. Em dez anos, os norte-americanos aumentaram a produção de petróleo em 10 milhões de barris [por dia], o que é equivalente a uma Arábia Saudita”, contabiliza Camargo. Segundo ele, essa capacidade de produção de petróleo, especialmente a partir do xisto, “serve como colchão.”
O mercado mundial de petróleo “está abastecido”, descreve Camargo, a ponto de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) recentemente ter decido retirar 2 milhões de barris de petróleo por dia de circulação e os preços do petróleo terem oscilado por pouco após o ataque de drones na principal refinaria da Arábia Saudita em setembro passado, “aquilo praticamente não mexeu no preço do petróleo.”
Conforme o especialista, o Brasil também “não corre risco de desabastecimento”. O país, no entanto, sofrerá impacto com o aumento já previsto do preço do combustível. Ele não sabe quando ocorrerão os ajustes nas refinarias e, consequentemente, nas bombas de diesel e de gasolina.
Clima positivo de mercado
Jorge Camargo não recomenda que haja subsídio e que eventuais aumentos do preço de petróleo deixem de ser repassados. “O país está em transição para mercado mais aberto de petróleo. A Petrobras está desinvestindo em refinaria para acabar com o monopólio do refino. É fundamental para quem quer investir tenha convicção de que não vai haver intervenção”, recomenda.
De acordo com o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, “os mercados ainda estão avaliando pontais desdobramentos [da nova crise no Oriente Médio}. Há muita incerteza sobre isso.” O seu palpite é que “pode se pensar em uma certa acomodação, mesmo que em um grau de nervosismo mais alto ou com agravamento dessas tensões.”
“Nos próximos dias, o mercado vai conseguir precificar melhor o grau de risco desse fato novo. Por ora, está estacando o otimismo recente, gerando correção no preço dos ativos”. O economista pondera que antes do ataque, “havia um clima positivo de mercado, somando fatores externos [por causa da trégua comercial entre os EUA e China} e perspectivas melhores para economia brasileira.”
(com informações da EBC Agência Brasil)