Esportes

Cris Cyborg desabafa sobre relação com Dana White e futuro no UFC: “É uma luta e deu”

Por Evelyn Rodrigues — Las Vegas, EUA

Ex-campeã peso-pena do UFC, Cris Cyborg fez, no último sábado, a sua sétima luta pela organização. A vitória por decisão unânime contra Felicia Spencer, no UFC 240, em Edmonton, no Canadá, marcou também a última luta do contrato atual da curitibana com o maior evento de MMA do mundo. O Ultimate já sinalizou que gostaria de renovar o acordo com a brasileira, que tem 21 vitórias, duas derrotas e um combate sem resultado na carreira – e ficou 13 anos invicta no topo do esporte. Cyborg, por sua vez, já avisou que vai explorar todas as opções que tiver antes de decidir se permanece no UFC. E um dos motivos para a postura da brasileira é que ela não se sente respeitada dentro da organização.

Cris Cyborg analisa futuro no UFC: "É uma luta e deu"

Cris Cyborg analisa futuro no UFC: “É uma luta e deu”

Em entrevista exclusiva ao Combate.com, Cyborg analisou sua passagem pela companhia e desabafou sobre a relação conturbada com Dana White, presidente do Ultimate. A atleta curitibana disse que não sabe se a relação com o UFC tem “conserto”, mas que está disposta a chegar a um acordo para que a revanche contra Amanda Nunes saia do papel.

– Se ele aceitar o contrato de uma luta e a gente entrar num acordo, mas não com cláusula de campeão, só pra fazer a luta que a galera gostaria de ver, Amanda Nunes e eu novamente, a gente pode fazer essa luta. Mas vamos ter que sentar e conversar. (…) Se for só uma luta, não precisa consertar (a relação). Só uma luta é de boa. Agora dar continuidade disso, eu não vejo que conserte (no futuro), porque a gente está tentando desde a minha primeira luta no UFC. Desde o primeiro corte de peso, então não sei. Eu já dei oportunidade pra mudar, e estamos aguardando, esperando, mas se for uma luta não tem problema nenhum, é uma luta e deu – declarou.

Confira a entrevista abaixo, na íntegra:

Combate.com: Como você se sente depois de ter conseguido a vitória sobre a Felicia Spencer?

Cris Cyborg: Eu estou muito feliz. Depois da luta com a Amanda é difícil, eu treinei muito para a luta e aconteceu, então eu tinha que treinar novamente. É um novo desafio. E eu estou feliz que eu consegui a vitória, estou feliz que foi uma luta boa, fiz algo bom, a galera viu a luta. Fico feliz com os fãs, com o carinho dos fãs que mandaram mensagem pra mim depois da Amanda, durante o camp pra essa luta, e estão junto comigo desde o começo. Acho que eu só tenho que agradecer. O Nação Cyborg está comigo desde o início e muitas coisas só aconteceram por causa deles. Estou feliz com a minha família, todo mundo está feliz, essa vitória foi muito importante especialmente nesse momento. Então a gente só tem que aguardar e curtir esse momento pra em breve voltar a treinar. O corte da cabeça já está bom, já tirei uns pontos, falta tirar alguns ainda, não posso tomar sol, então vou ter que usar faixa e boné por um tempo. Vou ter que mudar meu estilo por uns quatro meses, e é isso aí galera.

Nas semanas anteriores à sua luta em Edmonton o presidente do UFC, Dana White, acabou dando algumas declarações sobre a sua revanche com a Amanda Nunes, dando a entender que você não queria a luta. Como foram essas semanas pra você, isso chegou ate você lá na África?

Na verdade eu terminei o meu camp na África. Eu comecei na Califórnia e terminei na África. A intenção de ir pra África já era pra ficar fora de tudo, de entrevista, de mídia, focar na Cris Cyborg, focar em mim, não aceitar as provocações do Dana White, que ele já vinha fazendo. Na semana da luta eu nem tinha meu telefone, tiraram todas as senhas do meu telefone, eu não tinha nada, pra não ter contato, não ver nada e não me desfocar. Eu estava 100% focada na Felícia, não estava pensando em Amanda, em nada, em Dana White…estava focada na luta. Até as perguntas que estavam fazendo, que estava tentando tirar, eu falava: “Vamos tentar, mas eu estou focada 100% na Felícia, depois da luta a gente conversa sobre isso”. Acho que primeiro a gente tem que dar um passo de cada vez. Então era importante eu respeitar e estar no tempo de lutar com a Felícia e, após essa luta poder conversar sobre a revanche, a Amanda, o Dana White, o que fosse. Mas era especial esse momento pra mim. E fizemos um trabalho perfeito. Treinei muito, gostei do treino. Fui na África pra treinar em março, fiquei um mês treinando, gostei muito. Antes deu saber que eu ia lutar, eu já tinha uma passagem comprada pro Sul da África pra treinar, daí meu manager me ligou: “Cris você vai lutar contra a Felicia dia 27 de julho”. Eu já tinha a passagem comprada e eu até ia voltar pra cá no dia 22, eu ia ficar lá dois meses e voltar pros EUA. Então eu terminei meu camp lá, foi perfeito, adorei participar da equipe lá. Treinei com o Richie Quan, a equipe todo mundo novinho. Eu e um outro menino lá que somos “lendas”. Chamam a gente de lenda, acham que a gente é velho. Eu tenho 34 anos ainda (risos), mas legal ver as pessoas novinhas treinar, porque você começa a lembrar como você era inocente também no começo da sua carreira. E você vê aquele brilho no olhinho, mas eles não sabem a realidade daquilo ainda…mas é legal porque motiva. E me ajudou muito ficar do lado deles, treinando, eles são da nova geração. Antigamente quando você começava no MMA, perguntavam de onde você veio: “Ah vim do jiu-jítsu”. Lá não a nova geração do MMA começou no MMA, eles sabem de tudo um pouco. Então é totalmente diferente e tive um momento perfeito lá. Treinei feliz.

Contra Felicia Spencer, em Edmonton, Cris Cyborg sofreu o primeiro corte no rosto em toda a sua carreira — Foto: Jeff Bottari/Getty ImagesContra Felicia Spencer, em Edmonton, Cris Cyborg sofreu o primeiro corte no rosto em toda a sua carreira — Foto: Jeff Bottari/Getty Images

Contra Felicia Spencer, em Edmonton, Cris Cyborg sofreu o primeiro corte no rosto em toda a sua carreira — Foto: Jeff Bottari/Getty Images

A sua ida pra Edmonton foi um pouco conturbada, certo? Como você foi informada de que teria que pagar do seu bolso as passagens pra luta?

Na verdade eles falaram: “Cris a sua base não é na África, a sua base é na Califórnia…nunca tivemos esse problema, nunca. “Nós não vamos pagar sua passagem”, aí eu falei: “Sabe do que? Deixa que eu pago”. Paguei minha passagem, a do meu treinador, paguei a passagem do outro córner. Falei que não tinha problema, que eu pagava a passagem, só não quero problema, quero ficar livre de problema e isso não vai me atrapalhar. Porque eles estavam sempre tentando achar um problema pra me deixar com raiva, me prejudicar. Então eu falei: “Vamos fazer tudo do jeito certo. Não querem pagar? Beleza, eu pago”. Fui pra eu só focar na luta. Tentaram, mas eu estava muito focada e não estava deixando as coisas ao redor me influenciar. Na luta contra a Amanda eu tive muito problema dentro do meu camp mesmo, fora, tive com o UFC, então isso me atrapalhou. Não que mudou o resultado da luta, porque eu acredito que o resultado da luta era o que era pra ser. Mas esses nove meses foram bem turbulentos pra mim. Foram muito turbulentos. E isso eu aprendi pra evitar, por isso que eu saí da minha área de conforto, não estava na minha casa, estava só treinando e voltando pra casa, não aqui na minha casa da Califórnia, mas lá. Não estava junto com a minha família, não falei com a minha família, não falei com a Gabi (filha), fiquei dois meses sem falar com ela, só falava às vezes com o Ray (meu noivo). Eu estava totalmente direcionada pra luta e pronta pra guerra.

Na semana da sua luta contra a Felicia Spencer, o Dana White chegou a dizer aceitaria fazer um contrato de apenas uma luta só pra você aceitar a revanche contra a Amanda Nunes…

Eu nem sabia disso, a minha equipe que toma conta (das minhas redes sociais), principalmente quando eu estou em camp. Na verdade se acontecer de fazer só uma luta com certeza (eu aceitaria), mas aí ele falou que se eu ganhasse o cinturão tem a cláusula de campeão de um ano e é por isso que eu fiquei no UFC todo esse tempo, já aconteceu isso também. Então na verdade não é só uma luta, uma luta é uma coisa, mas se eu pegar o cinturão eu ter que ficar… Eu não cheguei a prestar atenção, não vi tudo o que ele falou, mas com certeza se ele aceitar o contrato de uma luta e a gente entrar num acordo, não com cláusula de campeão, só pra fazer a luta que a galera gostaria de ver, Amanda Nunes e eu novamente, a gente pode fazer essa luta. Mas vamos ter que sentar e conversar.

O Joe Rogan, comentarista do UFC, acabou recebendo muitas críticas na internet pela forma como narrou a sua luta aqui nos EUA. Te surpreendeu ver tantos comentários sobre isso nas redes sociais?

Na verdade eles são um time, né? Dana White, UFC, Joe Rogan eles são um time. Então o que eles estão fazendo ali é um jogo. O que eles estão querendo é tentar manipular as pessoas. A nossa luta não foi pau a pau. Ela acertou um cotovelo no começo da luta, e cada vez que ela encostava em mim eu dava cinco socos nela. Se você ver a análise da luta, eu acertei 122 socos em 15 minutos e foi o melhor que eu fiz em toda a minha carreira, eu acho. Eu acertei mais golpes certeiros do que em toda a minha carreira, sem contar com golpe que não acertou porque deve ter sido bem mais. O Joe Rogan narrando a luta como se tivesse pau a pau, que eu estava cansada, eu fiquei sabendo disso depois, mas faz sentido. Eles estão trabalhando juntos. O Dana White falando que eu estou com medo da Amanda Nunes, e que eu tenho medo de perder. Na verdade todo mundo viu após a minha luta com a Amanda como eu me comportei após a derrota. Não foi um trauma, claro que eu não gosto de perder, quem gosta? Mas aconteceu. Se isso me atrapalhasse muito, eu não teria feito a coletiva de imprensa, a galera não tinha visto o que eu fiz. Após a luta da Amanda eu tive que ir pra festa. Eu fui pra festa com meus fãs porque eles estavam me esperando. Independente de vitória ou derrota, eu fiz o meu melhor. Quando ele falou que eu estava com medo, eles falando tudo na semana da luta. Quando eu vi o Joe Rogan narrando não me surpreendeu. A mesma pessoa que falou que eu tinha que cortar o pinto pra bater o peso. Eles são um time e estão tentando manipular meus fãs, manchar a minha marca Nação Cyborg com a galera, mas meus fãs sabem quem eu sou. Foi por isso que eu comecei os vídeos do Nação Cyborg, porque as pessoas começam a ver realmente quem eu sou. E eu acredito que a verdade te liberta.

Cris Cyborg e Dana White: Relação marcada por altos e baixos — Foto: Reprodução / YouTubeCris Cyborg e Dana White: Relação marcada por altos e baixos — Foto: Reprodução / YouTube

Cris Cyborg e Dana White: Relação marcada por altos e baixos — Foto: Reprodução / YouTube

Por que você decidiu relembrar as ofensas que sofreu no passado nos vídeos que está publicando agora nas suas redes sociais?

Então todo mundo me perguntou: “Por que você está postando agora o vídeo do Dana White (fazendo bullying contra você)? Ele pediu desculpas”. Se ele tivesse realmente pedido desculpa de coração, que realmente ele estava arrependido do que ele fez, ele não ia dar continuidade de tentar manchar minha marca, a gente ia poder trabalhar juntos. Mas ele continua fazendo isso. Por exemplo, que nem o Joe Rogan, ele veio pessoalmente pedir desculpas. Mas quando falam de mim, eles não falam pessoalmente, eles vão lá na mídia e falam na mídia. E esse vídeo que o Joe Rogan e o Dana falam de mim num avião, eles nunca deletaram o vídeo. O vídeo sempre está lá. E eu já trabalhava pro UFC, já era funcionária do UFC, já tinha contrato. Então é uma desculpa. Tudo bem, se você está pedindo desculpa, mas não quer me prejudicar, para de me prejudicar. Na verdade eu coloquei pra pessoas lembrarem das atitudes deles, lembrar porque ele pega tanto no meu pé desde o começo da minha carreira. Não é de agora isso, é desde o começo, quando eu estava no Invicta ou antes até.

No vídeo em que você vai tirar satisfações com o Dana nos bastidores, após a sua luta contra a Felicia Spencer, ele te fala no final que ele costuma dizer coisas pra promover as lutas, e que nem sempre é tudo verdade…

Mas se você quer promover a luta, promove do lado certo. Promove correto, fala: “A Cris fez uma grande luta, a Felicia é uma grande guerreira, a Cris ganhou os três rounds, está preparada, vai lutar com a Amanda, vai ser uma grande luta, Amanda x Cris Cyborg”. Faz na forma de uma pessoa normal, de um promotor fazer. Você promove os dois atletas. Agora você quer denegrir um atleta, falando que ela está com medo, ou falando que a luta estava pau a pau quando não estava, narrando uma luta errado…você está promovendo correto? Não está. Tentando falar que eu estava velha, que se eu for pro Bellator ou pra outros eventos é porque eu estou procurando luta fácil. Na verdade, no UFC tem duas meninas na minha categoria: a Felicia Spencer e a Megan Anderson. Ok, a Amanda subiu, a Holly Holm subiu, mas não tem mais menina. Não tem. Eles ofereceram pra mim um contrato de seis lutas, seis lutas não dá. Eu vou lutar uma vez por ano e com quem? Não tem com quem eu lutar e eu não consigo baixar de categoria. E eles não falaram que a próxima seria a revanche com a Amanda, não falaram. Se eu assino um contrato com seis lutas, quanto tempo eu vou ficar lá? É a minha vida! Tenho que pensar em tudo isso. Vamos aguardar pra ver o que vai acontecer, mas não dá pra eu ficar lutando uma vez no ano. Tem que lutar mais, eu estou bem, me sentindo bem…

O fato de você e do UFC não terem a mesma visão sobre os rumos que a categoria peso-pena deveriam tomar na organização também pesa nessa decisão sobre renovar ou não com o Ultimate?

Quando eu estava no Invicta ainda, que eu assinei com o UFC, eles tiveram a oportunidade de colocar mais meninas no UFC. E não colocaram. Às vezes eu falava: “Assina essa menina, tem essa também”, eu mandava pra eles, porque elas estavam assinando tudo com o Bellator. Então o Bellator tem a minha categoria completa lá. Todas as gurias estão lá. A Julia Budd que é a campeã, tudo bem a Amanda ganhou dela, só que depois que a Amanda ganhou dela, a Amanda perdeu quatro vezes. A Julia Budd, depois da luta com a Amanda, não perdeu mais. A categoria está melhorando, só que não está melhorando do lado que eu estou, porque não tem menina pra eu lutar. Eu lutei com a Felicia, tem a Megan Anderson, mas ela vai lutar com quem a próxima? Vai lutar com a Felicia? Só tem as duas. Não tem adversária e ela não consegue bater o peso-galo. A gente tem que pensar na próxima luta, mas também no futuro. Se for o caso de eu fazer só uma luta com a Amanda eu estou dentro, se eles trabalharem de acordo, e colocarem no contrato, seguir o contrato e conversar com o meu manager, eu estou dentro.

Cris Cyborg: "A categoria está melhorando, só que não está melhorando do lado que eu estou, porque não tem menina pra eu lutar" — Foto: Evelyn RodriguesCris Cyborg: "A categoria está melhorando, só que não está melhorando do lado que eu estou, porque não tem menina pra eu lutar" — Foto: Evelyn Rodrigues

Cris Cyborg: “A categoria está melhorando, só que não está melhorando do lado que eu estou, porque não tem menina pra eu lutar” — Foto: Evelyn Rodrigues

Você também chegou a dizer que só assinaria um novo contrato após um pedido público de desculpas do Dana White. É isso mesmo?

A pessoa fala publicamente e pede desculpa pra você só na sua frente. E daí continua fazendo isso. A pessoa está mesmo arrependida do que ela fez? Quem sabe ele nunca… na verdade como é que você vai falar pra um cara de 50 anos que ele está mentindo e está errado? O cara já tem a cabeça dele formada. Ele nunca vai pedir desculpa pra ninguém, ele acha que está correto no que está fazendo e vai seguir. Talvez não seja só o ponto de pedir desculpa, eu só não gosto que ele fica denegrindo a minha imagem com os meus fãs . Eu acho que não é certo. Quer promover a luta, promove do lado certo, seja justo.

O que mais pesa nesse momento pra definir o seu futuro na organização?

Eu vou pensar exatamente no meu futuro. O próximo contrato que eu fizer, o próximo evento que eu ficar, eu realmente vou colocar em jogo o meu futuro, e com certeza respeito. Você não precisa gostar de mim, mas respeite. Se você me respeita, eu te respeito e a gente tem um respeito muito e dá pra trabalhar. Tem várias pessoas que trabalham e não gostam dos patrões, mas a gente tem respeito. Você não passa do limite ali, eu não passo do limite aqui e cada um segue o seu rumo. Mas com certeza uma coisa que vai pesar muito é o meu futuro. Eu não penso só no agora, isso que vai pesar. Vou ter a opção de conversar com o UFC, quero ver o que eles têm pra mim, se eles vão querer pedir desculpa ou não pedir desculpa, eu vou pensar no meu futuro. Quero pensar no meu futuro pro lado bom.

Você acha que essa sua relação com o Ultimate tem conserto? Consegue se ver lutando na companhia por mais tempo?

Olha se for só uma luta, não precisa consertar. Só uma luta é de boa. Agora dar continuidade disso, eu não vejo que conserte (no futuro), porque a gente está tentando desde a minha primeira luta no UFC. Desde o primeiro corte de peso, então não sei. Eu já dei oportunidade pra mudar, e estamos aguardando, esperando, mas se for uma luta não tem problema nenhum, é uma luta e deu.

Você já disse que quer a revanche contra a Amanda Nunes. Essa revanche tem um significado a mais pra você, por ser contra a pessoa que te impôs primeira derrota em 13 anos?

A gente sempre escuta o que os fãs querem. E os fãs querem essa revanche. Seria uma boa luta…na verdade eu não guardo rancor, perder acontece. Aquele dia foi o dia da Amanda, Deus tem um propósito maior pra mim, foi diferente, ela mereceu a vitória, passou várias coisas na carreira dela também, então ela mereceu a vitória dela. É lógico que eu gostaria da revanche, que todo atleta que luta quer revanche. Mas se não acontecer essa revanche no UFC, um dia quem sabe pode ser em outro evento, ou pode ser eu e a Amanda, a gente mesmo dividindo pay-per-view. É uma coisa que eu gostaria de fazer, mas se não acontecer não é uma coisa que se o UFC não quiser fazer junto vai me prejudicar, porque eu vou continuar caminhando, igual eu caminhei com a minha luta no sábado.

Cris Cyborg: "É uma coisa que eu gostaria de fazer, mas se não acontecer não é uma coisa que se o UFC não quiser fazer junto vai me prejudicar" — Foto: Jason SilvaCris Cyborg: "É uma coisa que eu gostaria de fazer, mas se não acontecer não é uma coisa que se o UFC não quiser fazer junto vai me prejudicar" — Foto: Jason Silva

Cris Cyborg: “É uma coisa que eu gostaria de fazer, mas se não acontecer não é uma coisa que se o UFC não quiser fazer junto vai me prejudicar” — Foto: Jason Silva

Pretende lutar por mais quanto tempo?

Olha eu estou com 34 anos, acho que mais uns três ou quatro anos…Eu não tenho lesão nenhuma, gosto do meu trabalho, estou feliz, quero continuar lutando. Essa minha última luta eu curti cada momento. Eu curti com meus fãs, fui no shopping fiquei com meus fãs, tirei foto com eles, na semana da luta dei todas as entrevistas, tirei foto, assinei…eu aproveitei cada momento. Eu nunca tinha feito isso na vida. Só ia lutar… Esse momento que a gente está agora não vai durar pra sempre. É um momento que dura, mas não é pra sempre, daqui a um tempo você não luta mais, então aproveite. Quando eu entrei no octógono também, curti tudo, você pode ver na minha cara…eu roubei a bandeira lá de uma fã na entrada, mas aí assinei e devolvi a bandeira pra ela. Aproveitei cada momento…dentro do octógono ali com a Felícia, eu estava conversando comigo mesma ali dentro, vários pensamentos ali. Aproveitei cada momento da luta, se você vê, cada golpe, e é isso que eu quero fazer, eu quero aproveitar cada momento da minha vida, cada momento que eu lutar.

Você sempre teve o sonho de lutar no UFC, de entrar pra maior organização de MMA no mundo. Tem um gostinho amargo ter chegado até aqui de uma forma tão diferente da que você um dia imaginou que seria?

Quando você começa a lutar, você não vê como é o meio do MMA. Você é inocente, não sabe. Mas a gente sabe também que as coisas acontecem da forma que têm que acontecer. Eu acredito que Deus tem um plano maravilhoso pra você, antes de você nascer ele já tem o seu plano. Ele já sabia que isso ia acontecer, mas também já sabia que eu ia conseguir resolver isso comigo mesma. Eu não sou uma pessoa fraca de cabeça. Eu sofro, mas eu sofro lutando. É por isso que meus fãs se identificam comigo, e é isso que eu gosto de passar pros meus fãs. Se você está sofrendo, passando dificuldade, sofra lutando, porque eu sei que vai vir de outra forma a bênção pra você. O UFC foi muito especial pra mim, eu passei momentos especiais ali também. Deus sabia o quanto eu queria estar no UFC um dia, o quanto eu queria ser campeã dentro do UFC e ele me deu isso. Eu já passei por isso, então eu só tenho que agradecer tudo o que eu passei, e o que aconteceu era pra formar quem eu sou hoje.

Depois da sua derrota pra Amanda Nunes ela passou a ser apontada como a melhor lutadora de todos os tempos, por ser a única mulher na história campeã em duas categorias diferentes e de forma simultânea. Você concorda com isso? Como vê esse título de melhor de todos os tempos?

Eu nunca falei que eu era a melhor de todos os tempos. É uma coisa muito grande, é muita arrogância você falar de você mesmo. Eu acho que é melhor outra pessoa falar de você, porque é real. É a mesma coisa que você perguntar pro seu pai uma coisa, ele vai te colocar lá em cima. A mesma coisa a gente. Quando os fãs falam algo de você, se os fãs acham que a Amanda é a melhor do mundo, que ela seja a melhor do mundo. Mas aí são os fãs que vão falar dela. Por isso que eu nunca falei de mim, sempre deixei que os fãs falassem. Acho que ela fez muito pelo esporte, mas acho que uma diferença entre nós duas é que eu fiquei por 13 anos invicta, fui campeã de três organizações, não querendo ser melhor que ninguém, mas fazendo o meu melhor. E fazendo o meu melhor fez com que as pessoas achassem que eu fui a melhor de todos os tempos, mas isso é algo que não sou eu quem falo. O período que eu ajudei o MMA a crescer, junto com outras atletas, acho que isso que é importante, e dar o meu melhor, ser exemplo para as pessoas. É isso que fica, não é o cinturão que você leva, é o coração das pessoas, você coloca uma semente ali pro melhor. É isso que é especial. Quando a Ronda era a melhor do mundo… antes todo mundo falava que a Ronda era a melhor do mundo, e que a Ronda inventou o MMA, então são fases que você tem que saber lidar. É importante o UFC falar que a Amanda é a melhor de todos os tempos. Sim, porque é a campeã do evento deles. Claro que eles vão levantá-la. A Ronda na época era a melhor de todos os tempos…cada fase, cada momento, e é lógico que o evento vai fazer o melhor pra poder mostrar que as atletas deles são as melhores do mundo.

Deixe seu comentário

TV

Rádios

Arquivos

  • Arquivos

  • Links

    Links