– Infelizmente não deu tempo para que o presidente pudesse se deslocar para dar o último adeus ao Vavá. Nós já estávamos com corpo no túmulo (quando chegou a notícia da decisão de Toffoli). Então não tinha como parar o enterro, e as condições do corpo não permitiam adiar (a cerimônia) – disse a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT.
Acompanhada por familiares de Vavá e militantes do PT, a cerimônia ocorreu sob protestos contra a ausência de Lula. Houve gritos de “viva o Vavá”, “viva o Lula” e “Lula livre”. Gleisi fez um breve discurso em que classificou como “maldade” a negativa da juíza Carolina Lebbos e do desembargador Leandro Paulsen, que entenderam Lula não poderia ir ao ABC. O ex-presidente recorreu ao STF após essas duas negativas . Apesar desse clima, o tom do velório não foi de todo político. Houve tempo para que a família ficasse sozinha.
A notícia da decisão de Toffoli veio assim que o caixão começou a ser carregado. Gleisi informou aos jornalistas que não havia como atrasar a cerimônia e que a hipótese não chegou a ser considerada antes em respeito aos familiares. Gleisi disse que não valweria a pena deslocar Lula até São Paulo já que a família pretendia visitá-lo já nesta quinta-feira na Polícia Federal, em Curitiba.
– Infelizmente, a ilegalidade começou com a Polícia Federal. O delegado, que foi o delegado que tomou o depoimento do Lula naquela coercitiva ilegal em Congonhas, foi o delegado que disse que a PF não tinha as condições. E o ministro Sérgio Moro, que é o ministro responsável pela Polícia Federal não teve nenhuma atitude para fazer prevalecer a lei. A gente lamenta muito isso.
Mais cedo no Twitter, Gleisi havia criticado as justificativas dadas para negar a presença de Lula no enterro: “Se não consegue garantir a segurança a um velório, como a PF garantirá o combate ao crime organizado? O PT ofereceu transporte ao Lula e aos agentes de segurança. Só tem duas palavras que resumem essa decisão: incompetência e perseguição”.
Também irmão de Lula, Frei Chico lembrou que o petista chegou a ser autorizado a acompanhar o enterro da mãe durante a ditadura, em 1980:
– Em 1980, Lula estava preso no Dops quando nossa mãe morreu. Veja vocês o quadro que estamos vivendo no Brasil. A repressão mudou, mas mudou de tal forma que ninguém vê hoje, mas ela existe e até mais violenta -, aponta Frei Chico.
Há 38 anos, Lula foi autorizado pelo então diretor do Dops, Romeu Tuma, a comparecer ao velório de sua mãe, Euridice Ferreria, conhecida como dona Lindu . Na ocasião, o petista estava preso havia 24 dias por liderar uma greve no ABC paulista.
– Em um país civilizado onde há uma Constituição em que é claro o direito do preso, fazer o que esses caras fizeram é absurdo. É sinal que o país foi apropriado por meia dúzia de pessoas – disse Chico.
Segundo o irmão de Lula, Vavá estava internado havia uma semana e isso foi informado à Justiça.
– O Lula é uma pessoa que viria para cá e voltaria sozinho, não precisaria nem da polícia. Eles não tem noção do caráter do Lula. Lamentavelmente o Brasil está passando por uma fase muito complicada.
O ex-ministro e ex-prefeito de São Bernardo do Campo Luiz Marinho narrou o clima do velório:
– O Vavá foi servidor da cidade por mais de 30 anos e é uma pessoa muito querida. Seja na relação política, família, comunidade, ele era muito pra cima. Até nos momentos de mais crueldade contra si próprio. Por exemplo quando a Polícia Federal invadiu seu apartamento em um clima de perseguição, o Vavá falava “nós vamos superar isso, vai passar”. Ou mesmo quando teve sua perna amputada, brincava com isso também – disse Marinho.
Além de Gleisi e Marinho, estavam no enterro o ex-candidato à Presidência Fernando Haddad, o deputado Paulo Teixeira, o ex-senador Eduardo Suplicy e o ex-presidente do PT José Genoíno.