Presidente da entidade desde 2018, Cabloco assumiu na última terça-feira formalmente o o mandato válido até 2023, e aposta no pentacampeão mundial para mudar a desigualdade de calendário e de estrutura dos times considerados pequenos no Brasil.

– O Juninho representa o que queremos para o futebol brasileiro. É um vencedor dentro e fora de campo. Um exemplo de seriedade e profissionalismo. Pentacampeão do mundo com a seleção brasileira, ídolo dos clubes em que atuou e com sólida carreira como dirigente – disse Cabloco.

Pentacampeão mundial com a Seleção em 2002 e com currículo vitorioso no futebol, Juninho chamou atenção da CBF pelo trabalho realizado nos 10 anos à frente do Ituano, time do interior paulista que o revelou para o futebol.

– A minha principal área de atuação era a que eu estava, cuidando das equipes menores, buscando calendário e corrigindo esses detalhes. Essa área de atuação é de imediatismo. O desenvolvimento do futebol abrange todas as áreas, estamos falando de competições, registros, arbitragem, seleção brasileira e abrange um todo. Somos um setor pensante, o que podemos fazer para melhorar o futebol e executar. Essa questão tem de ser puramente técnica, temos que escudar todos os clubes. Acho que deu para o amadorismo no futebol brasileiro. Ou você é profissional ou amador – disse Juninho.

E qual o diferencial do trabalho realizado por Juninho Paulista no Ituano? O GloboEsporte.com lista abaixo o que foi feito pelo gestor no clube e que poderá ser replicado por ele na direção de desenvolvimento do futebol da CBF.

HISTÓRICO

Revelado pelo Ituano, Juninho Paulista estreou no profissional do clube em 1993. No mesmo ano, foi indicado por Telê Santana para jogar no São Paulo. Depois, teve passagens no Brasil por Vasco, Flamengo e Palmeiras. Na Europa, além de jogar pelo Atlético de Madrid e Celtic, foi ídolo do Middlesbrough, na Inglaterra. Antes de chegar ao Ituano em 2009, para encerrar sua carreira de jogador e, ao mesmo, começar a gestão, Juninho estava no futebol australiano, defendendo o Sydney FC.

O RETORNO DE JUNINHO AO ITUANO

Juninho Paulista vestiu novamente a camisa do Ituano no Paulistão de 2010, o último campeonato dele como jogador profissional, ao mesmo tempo em que atuava como gestor do clube. O Ituano escapou do rebaixamento na última rodada, depois de uma virada por 3 a 2, depois de estar perdendo por 2 a 0 para a Portuguesa, no Canindé. Juninho fez um dos três gols do Ituano pra encerrar sua carreira com lágrimas e abraçado por Doriva, que fazia parte da comissão técnica.

Nos quatro primeiros Campeonatos Paulista de Juninho como gestor, o Ituano lutou contra o rebaixamento em três deles. A exceção foi em 2012, quando o time terminou no 14° lugar. Os resultados dentro de campo não foram dos melhores no início da gestão do ex-jogador.

– Aprendi nesses anos que quanto mais simples e objetivo for o seu trabalho no futebol, melhor será o resultado – Juninho Paulista.

GESTÃO

Juninho Paulista começou sua gestão em junho de 2009, assumindo o Ituano em crise financeira, estrutural e administrativa. No futebol, o clube vinha em queda livre nas divisões nacionais: deixando a Série B em 2007 até ficar sem divisão em 2010. Em contrapartida, o clube não tinha mais times nas categorias de base, sem sequer ter campo para treinar. Sem receitas, as dívidas foram pagas pelo próprio Juninho, que reativou as categorias de base em 2011.

Outros pontos fortes da gestão de Juninho à frente do Ituano foram o respaldo dado aos treinadores que passaram pelo clube e a preocupação em melhorar a estrutura física do clube. Além disso, o clube tem um elogiado programa de sócios-torcedores.

O Ituano teve apenas oito técnicos em 10 anos de gestão de Juninho Paulista. Os principais nomes foram Doriva (2013 e 2014), Tarcisio Pugliese (2014 a 2017 – 2 anos e 9 meses no cargo) e Vinicius Bergantin (treinador desde novembro de 2017). Os outros cinco técnicos foram: Mazola Júnior, Ruy Scarpino, Roberto Fonseca, Fahel Júnior e Roque Júnior.

Em termos de estrutura, o clube teve a reforma do estádio Novelli Júnior, que se tornou um complexo com outros três campos de treinamentos. O local abrigou a seleção da Rússia durante a Copa do Mundo de 2014.

Fora de campo, o Ituano tem um projeto social com uma empresa onde visa obter certificados e ser um dos melhores locais para se trabalhar no Brasil. São metas que não envolvem apenas o futebol.

RESULTADOS DENTRO DE CAMPO

Em 2014, o Ituano foi campeão paulista e conseguiu voltar a disputar uma divisão nacional, depois de quatro anos seguidos disputando Copa Paulista, competição que reúne clubes do interior de São Paulo sem calendário nacional no segundo semestre. Nos estaduais de 2015 a 2018, o Ituano não se classificou à fase final, mas não correu risco de rebaixamento. Nesta temporada, foi o líder do grupo e voltou ao mata-mata, sendo derrotado pelo São Paulo nas quartas de final.

Juninho é defensor dos campeonatos estaduais, mas admite que o sucesso do Campeonato Paulista é um exemplo a ser seguido pelos demais estados brasileiros.

– É difícil acabar com os estaduais, é um consenso. É uma tradição, são clubes muito grandes jogando. Venho de um estadual que é diferente de outros, uma das melhores competições do primeiro semestre. Preciso ver a situação de outros estaduais, talvez 16 datas para São Paulo seja pouco, mas para outros seja muito. Precisamos encontrar esse equilíbrio, mas fazer com que os clubes que se tornem profissionais tenham ao menos oito, nove meses de calendário no ano – revela Juninho.

Em campeonatos nacionais, o Galo de Itu teve duas campanhas de destaque: a Copa do Brasil de 2015, chegando às oitavas de final (eliminado pelo Internacional-RS), e a Série D do Brasileiro de 2016, quando acabou eliminado pelo CSA-AL nas quartas de final. O time também disputou a Série D em 2014 e 2017, mas sem muito destaque.

E é no calendário dos times considerados pequenos que Juninho Paulista quer dar início ao seu trabalho na CBF.

– Venho de uma série um pouco deficitária, que é a Série D. Temos que ver o que podemos melhorar ali embaixo. Temos duas séries consolidadas que são a A e B, a C que precisamos fazer alguns ajustes, mas a D acho que precisamos mexer. É atuar diretamente nessas competições, mas também atuar no planejamento de como resgatamos a essência do futebol na base. Não é um trabalho que começaremos hoje e dará frutos amanhã, o torcedor precisa entender – disse Juninho.

Em competições estaduais, o Ituano foi finalista em 2015 e 2017. Em 2015, perdeu para o Linense nos pênaltis e foi vice-campeão da Copa Paulista. Em 2017, o time foi campeão do Troféu do Interior, depois de vencer o Santo André.

Juninho reativou as categorias de base do Ituano em 2011, depois de quatro anos de inatividade. O clube não disputava a Copa SP de Futebol Júnior desde 2005, retornando apenas em 2014. Nas cinco edições seguintes (2015, 2016, 2017, 2018 e 2019), chegou às fases de mata-mata. Destaque para a campanha de 2016, quando chegou às quartas de final, entre os oito melhores.

Atualmente, o clube tem as categorias sub-15, sub-17 e sub-20. O Ituano tem ainda parcerias nas gestões das categorias sub-13 e sub-11. Os frutos estão sendo colhidos pelo clube, que teve 10 dos 26 jogadores do elenco do Paulistão revelados na base durante a gestão do Juninho.

O maior promessa das categorias de base do Ituano é o atacante Gabriel Martinelli, autor de seis gols no Campeonato Paulista e alvo de grandes clubes brasileiros e do exterior. Além dele, o clube se orgulha de ter revelado dois treinadores: os ex-jogadores Doriva (campeão paulista em 2014 pelo clube) e Vinicius Bergantin (atual treinador e elogiado publicamente por Tite pelo modo de jogar).