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Com defesa de pênalti, Francisco Dyogo volta como herói em goleada do sub-15 do Flamengo

Sobrevivente do incêndio do Flamengo, o goleiro Francisco Dyogo pega pênalti
Sobrevivente do incêndio do Flamengo, o goleiro Francisco Dyogo pega pênalti Foto: Márcio Alves / O Globo
Rafael Oliveira

Nem nos melhores sonhos Francisco Dyogo esperava uma volta tão cinematográfica. Em seu retorno aos gramados após o incêndio no Ninho do Urubu, o goleiro teve participação direta na goleada por 8 a 0 sobre o Barra da Tijuca, pelo Estadual sub-15. Iniciou a jogada de um gol e ainda defendeu um pênalti. Tudo isso diante dos olhos de seu pai, que pela primeira vez na vida o viu em ação com a camisa rubro-negra.

– Estou muto feliz por ter voltado. Foi a minha primeira partida como titular, e fui feliz em ter ajudado meus companheiros com um passe e pegando pênalti. Foi marcante também por ver meu pai na arquibancada – comentou o garoto de 15 anos.

No último fim de semana, Dyogo foi relacionado pela primeira vez. Mas,como havia treinado por apenas dois dias, ficou apenas no banco. Nesta quinta, foi ele quem abriu caminho para a goleada. Numa ligação direta, o goleiro acionou França, que marcou o primeiro gol. O camisa 10 balançou a rede duas vezes. Darlan e João Vitor também marcaram dois. Petterson e Mandovani completaram o placar.

Francisco Dyogo sorri ao cumprimentar os companheiros de Flamengo
Francisco Dyogo sorri ao cumprimentar os companheiros de Flamengo Foto: Márcio Alves / O Globo

O momento de maior emoção, contudo, não teve gol. Aos 9 do segundo tempo, a arbitragem marcou um pênalti para o Barra da Tijuca. Antes mesmo de a cobrança ser feita, Seu Francisco, pai do goleiro, já previa o que estava por vir.

– Pênalti é uma das especialidades dele – comentou, na arquibancada.

 

Não deu outra. Dyogo defendeu a cobrança feita quase no meio do gol. Passada a euforia, apontou para o pai e dedicou o feito a ele.

– Assim eu me emociono todo. Fico até com vontade de chorar – admitiu Seu Francisco, que apesar da voz embargada não cedeu às lágrimas.

Goleiro Francisco Dyogo, sobrevivente do Flamengo, recebe abraço do pai
Goleiro Francisco Dyogo, sobrevivente do Flamengo, recebe abraço do pai Foto: Márcio Alves / O Globo

Pai e filho são de Fortaleza. Como a Justiça determinou que os jovens da base do Flamengo só podem ficar no Rio com a presença de um responsável legal, Seu Francisco paralisou o trabalho e mudou-se para a capital fluminense. Mas torce para o clube regularizar logo sua situação. Afinal, precisa retornar para o trabalho e para o restante da família.

– É minha mulher quem está trabalhando e cuidando dos outros filhos. Mas eu preciso voltar. Tem uma vida que deixei lá. Mas faço esse esforço por ele. Quero vê-lo realizar o sonho de ser jogador. Mesmo que eu perca o emprego.

Francisco Dyogo, do Flamengo, sai abraçado com o pai após defender pênalti
Francisco Dyogo, do Flamengo, sai abraçado com o pai após defender pênalti Foto: Márcio Alves / O Globo

Sonhos não faltam para Dyogo. A começar por fazer sucesso pelos profissionais do Flamengo. Talento ele já mostrou que tem.

– Quero virar jogador profissional do Flamengo, conquistar vários títulos e dar uma vida melhor para minha família que vem sempre me apoiando – disse o goleiro.

Dyogo olha para frente. Mas não porque queira se esquecer do que ficou para trás. Além de jogar com uma camisa que estampa uma faixa de luto com o nome dos mortos no incêndio (usada em todas as categorias do Flamengo), ele fez uma tatuagem com a inscrição “Garotos do Ninho” e a data da tragédia: 08/02/19.

– São os meus irmãos que se foram. Vão estar sempre comigo. Fiz essa tatuagem por eles. Essa vitoria é dedicada a todos eles.

Francisco Dyogo fez tatuagem em homenagem às vítimas do incêndio do Flamengo
Francisco Dyogo fez tatuagem em homenagem às vítimas do incêndio do Flamengo Foto: Márcio Alves / O Globo

Quem também entrou em campo foi o atacante Cauan Emanuel, outro dos três jogadores que foram hospitalizados. Esta é sua terceira partida. Ele não balançou as redes, mas deu dois passes para gol. Jonatha Ventura, o terceiro sobrevivente, segue internado no Hospital Pedro II, em Santa Cruz.

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