Tragédia aérea vitimou 71 pessoas, entre jogadores, dirigentes, jornalistas e convidados
As famílias das vítimas do acidente aéreo da Chapecoense ainda tentam na justiça a indenização do seguro da aeronave que fazia o transporte da delegação para a final da Copa Sul-Americana, em 29 de novembro de 2016. Foram 71 vítimas fatais entre jogadores, funcionários, convidados e jornalistas. A busca por respostas é incansável. Embora alguns passos tenham sido dados em cinco anos, nada foi resolvido.
O avanço da CPI no Senado em determinados temas conseguiu que pessoas diretamente ligadas à tragédia, como o dono da LaMia, Ricardo Albacete, e responsáveis pelas seguradoras e resseguradoras da aeronave, fossem ouvidas.
O avião da LaMia, que caiu nas proximidades de Medellín, possuía uma apólice de seguro contratada no valor de US$ 25 milhões – valor abaixo do usado para voos deste tipo –, mas a seguradora se recusa a fazer o pagamento por considerar que havia problemas no voo. As famílias, por sua vez, apontam outras irregularidades na contratação do seguro e na liberação do voo e buscam reparação.
– Fazendo um apanhado desses cinco anos, acho que foi um período de muito esforço, muita luta, muito trabalho. O principal de todos, acredito eu, que tenha sido das famílias para lidar com as questões emocionais que surgiram a partir desse luto. Esse é o trabalho mais pesado e mais difícil de todos. Infelizmente, não se pode falar pelo grupo, pois é muito particular. Mas quando falamos da associação, acho que podemos falar de pequenas vitórias, de degraus que conseguimos subir. Um deles é uma ação criminal que trâmita na Bolívia. Outro é uma ação cível que busca explicaçãoes e justiça cobrando da aerocivil, que é o órgão regulador do espaço aéreo da Colômbia. Nos Estados Unidos, há uma ação de 42 familias que não aceitaram o fundo humanitário – explicou Mara Paiva, viúva do ex-comentarista Mário Sérgio e presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo da Chapecoense.
Apenas o zagueiro Neto sobreviveu na queda do avião — Foto: Nelson Almeida / AFP
Abaixo, confira a linha do tempo dos cinco anos de luta:
29 de novembro de 2016
- O avião da LaMia cai a caminho de Medellín. A equipe da Chapecoense se deslocava para a decisão da Copa Sul-Americana.
Avião que caiu com a delegação da Chapecoense na Colômbia — Foto: Agência Reuters
15 de março de 2017
- Em uma reunião em Florianópolis, os familiares recebem uma proposta, não negociável, de indenização individual e igualitária de US$ 200 mil (cerca de R$ 775 mil na atual cotação), da Bisa, seguradora da aeronave. Porém, a empresa solicita a assinatura de um termo de quitação de dívida por parte de todos os familiares. O acordo não é aceito, e algumas pessoas se incomodam com a postura da Chapecoense.
24 de agosto de 2017
- Chapecoense e associações de vítimas (AFAV-C e Abravic) se reúnem em Chapecó, unificam discurso e tratam encontro como marco histórico na busca por respostas.
20 de outubro 2017
- Bisa Seguros mantém oferta de US$ 200 mil (cerca de R$ 775 mil na atual cotação), mas baixa para 51 o número de aceitações necessárias e a assinatura de um termo de quitação de dívida. O quórum não é atingido.
Familiares ainda tentam direitos dois anos após o acidente — Foto: Agência Getty Images
27 dezembro 2017
- Chapecoense e AFAV-C (Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo da Chapecoense), a mais atuante na busca de respostas sobre o acidente, assinam um protocolo de intenções com a previsão de criação de uma fundação de amparo.
Junho de 2018
- AFAV-C contrata um advogado para avaliar cerca de seis mil páginas de documentos levantados pela entidade.
01 a 05 de setembro de 2018
- Familiares, AFAV-C e equipe jurídica viajam para a Miami para se reunir com especialistas e escritórios de advocacia americanos.
1º de outubro 2018
- Familiares, AFAV-C e equipe jurídica viajam para a Colômbia e Bolívia em busca de novos documentos e respostas sobre o voo, como o plano e mensagens da caixa-preta. Na ocasião, eles se encontram com a Bisa.
Primeira quinzena de outubro
- Bisa Seguros aumenta oferta de “ajuda humanitária” de US$ 220 mil para US$ 225 mil, sem a necessidade de quórum para efetivar a doação. Quem aceitar, deve fazer a assinatura de um termo de quitação de dívida. Algumas famílias aceitam.
24 de outubro de 2018
- É lançada em Chapecó a Fundação Vidas, com prazo existência de quatro anos, mas prorrogável até o pagamento das indenizações às famílias das vítimas. O objetivo é garantir o acesso à moradia, saúde, educação e alimentação aos familiares.
Fundação Vidas foi lançada em outubro deste ano — Foto: Eduardo Florão
24 de outubro 2018
- Após ato de lançamento da fundação, vítimas se reúnem para conversar sobre as estratégias jurídicas na busca de indenizações. Há um alerta para agilizar o pedido de prorrogação do prazo de entrada de ações, que venceria em novembro de 2018.
28 de novembro de 2018
- Chapecoense e algumas famílias abrem processo conjunto contra a aerocivil colombiana. O prazo para ações encerrou na data que marcou os dois anos da tragédia aérea.
26 de março de 2019
- Morre, aos 45 anos, o jornalista Rafael Henzel, um dos sobreviventes da tragédia. Narrador sofreu um infarto enquanto jogava futebol com amigos.
18 de junho de 2019
5 de julho de 2019
- Chape sofre primeira condenação trabalhista por acidente aéreo na Colômbia. Clube foi condenado a pagar indenização aos pais de atacante Tiaguinho, mas recorreu em busca de acordo.
30 de setembro de 2019
- Neto e viúvas protestam em frente às sedes da corretora de seguros Aon e da seguradora Tokio Marine Kiln, em Londres, por falta de indenizações
Neto e viúvas protestaram, em Londres — Foto: Marcel Camilo/Divulgação
28 de novembro de 2019
- Ministério Público Federal (MPF) de Chapecó ingressa com uma ação civil pública pedindo condenação dos responsáveis e reparação de danos morais e materiais em favor da famílias de 68 vítimas brasileiras da tragédia. Valor pedido é de US$ 300 milhões.
11 de dezembro de 2019
- Senado instala CPI sobre situação de familiares de vítimas do acidente: a CPIChape. Objetivo é investigar a demora nas indenizações.
13 de dezembro de 2019
- Juiz da 2ª Vara Federal de Chapecó, Narciso Baez, aceita Ação Civil Pública proposta pelo MPF e torna rés na Justiça as seguradoras, resseguradoras e corretoras envolvidas com o voo da Chapecoense. São incluídas no processo, além da LaMia, proprietária da aeronave, a Tokio Marine Kiln Syndicates Limited, a Tokio Marine Kiln Group Limited, a Bisa Seguros y Reaseguros S.A., a Aon UK Limited, a Aon Benfield Limited, a Aon Benfield Brasil Corretora de Resseguros Ltda e a Tokio Marine Seguradora S.A.
Ricardo Albacete, sócio da LaMia, em audiência no Senado — Foto: Beto Barata/Agência Senado
13 de dezembro de 2019
- Sobrevivente, Neto anuncia aposentadoria dos gramados e se torna dirigente da Chapecoense. Ele segue atuante em busca de reparações às famílias.
4 de fevereiro de 2020
- Ocorre a primeira de nove reuniões da CPIChape no Senado Federal, em Brasília. O encontro conta com depoimentos de familiares das vítimas e do ex-jogador Neto, sobrevivente da tragédia. Pandemia prejudica trabalhos da CPI, que postergou atos.
12 de março de 2020
- Em depoimento à CPI no Senado, Ricardo Albacete, dono da LaMia, culpa controladora de voo, Yaneth Molin, por tragédia. Depois disso a CPI foi paralisada por conta da pandemia de Covid-19.
15 de abril de 2020
- Por falta de proposta, MPF encerra negociação com resseguradoras de acidente e dá seguimento em Ação Civil Pública.
18 de junho de 2020
- Chape é condenada a pagar R$ 800 mil a família de fisioterapeuta morto em acidente aéreo.
Agosto de 2020
- Justiça dos Estados Unidos define indenização de R$ 4,8 bilhões em ação proposta por familiares de 40 para vítimas de voo. Decisão é favorável à famílias.
23 de setembro de 2021
- Polícia Federal prende Célia Castedo Monasterio, controladora de voo responsável pela análise e aprovação do plano de voo da aeronave da LaMia. A decisão foi dada pelo Supremo Tribunal Federal, que determinou extradição para a Bolívia, mas ela segue presa em Corumbá, no Mato Grosso do Sul.
16 de outubro de 2021
- Documento aponta novas empresas responsáveis pelo seguro da aeronave. Além da seguradora do voo, a Bisa, da corretora, a Aon, e da resseguradora, a Tokio Marine Kiln, mais 12 empresas foram apontadas como resseguradoras e/ou agentes gestores para o pagamento do seguro.
28 de outubro de 2021
- Chapecoense é condenada a pagar R$ 14 milhões à família de William Thiego, um dos jogadores mortos na tragédia.
18 de novembro de 2021
- CPIChape retoma trabalhos no Senado, mas não há previsão para conclusão de relatório.
25 de novembro de 2021
- Celia Monasterio fala na CPI que não tinha autoridade para impedir a decolagem, mesmo identificando os erros. Ela afirma que chegou a comunicar por três vezes a linha aérea, o despachante e o piloto do avião sobre a falta de autonomia da aeronave para cumprir a rota com combustível, mas que teria sido informada de que a empresa teve autorização da direção-geral da aviação civil.
29 de novembro de 2021
Famílias seguem sem receber indenização do seguro por queda da aeronave cinco anos após acidente.
(Com informações da ge).