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Carrasco de brasileiros, Cabañas retoma vida no México quase dez anos após levar tiro na cabeça

Por Rodrigo Cerqueira — Rio de Janeiro

Em janeiro de 2010, em um bar na Cidade do México, o então atacante do América-MEX Salvador Cabañas levou um tiro na cabeça, algo que mudou para sempre sua vida. Ficou em situação delicada, sua vida esteve sob risco. Tentou voltar a jogar (inclusive no Tanabi, de São Paulo), sem sucesso, perdeu quase tudo. Viu a fama e o dinheiro se transformarem em esquecimento e dificuldades. Quase dez anos depois do atentado que sofreu, ele voltou ao México e ao futebol. Mas desta vez para trabalhar fora das quatro linhas, como auxiliar técnico no Cafetaleros de Chiapas.

Cabañas tenta escrever no México novos capítulos da sua história pessoal e profissional, em um clube novo e com aspirações maiores (veja abaixo mais sobre o Cafetaleros de Chiapas). Querido por todos no elenco, ele tem relação especial com um brasileiro, Bruno Tiago. Nas resenhas diárias, o Brasil sempre está no assunto.

Bruno Tiago posa para foto com Cabañas — Foto: Arquivo PessoalBruno Tiago posa para foto com Cabañas — Foto: Arquivo Pessoal

Bruno Tiago posa para foto com Cabañas — Foto: Arquivo Pessoal

O paraguaio já foi carrasco de Flamengo e Santos na Copa Libertadores, e da seleção brasileira nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Sobre o Rubro-Negro, a histórica vitória por 3 a 0 no Maracanã nas oitavas de final da Libertadores de 2008, na despedida do técnico Joel Santana (havia acertado com a seleção da África do Sul), ainda está na memória do ex-atacante.

– É um cara que temos maior carinho, respeito. E automaticamente brinco muito com ele. Tem até um fato que conversamos em uma viagem. Ele até falou quando foi jogar contra o Flamengo pelo América-MEX, que tinha uma festa feita para o treinador (Joel Santana). Os brasileiros o chamavam de gordinho, e depois pela seleção paraguaia acabou fazendo gol sobre o Brasil – disse Bruno Tiago.

Cabañas chegou a jogar no Brasil.

Cabañas é apresentado pelo Tanabi com a camisa 10

Cabañas é apresentado pelo Tanabi com a camisa 10

Cabanãs foi o carrasco da eliminação do Flamengo na Libertadores de 2008 e também do Santos. Nas quartas de final, no México, ele fez os dois gols na vitória por 2 a 0 no jogo de ida sobre o Peixe. Na volta, o América perdeu por 1 a 0 e avançou. Nas eliminatórias para a Copa de 2010, o Paraguai venceu o Brasil em Assunção por 2 a 0, o ex-atacante deixou sua marca. Mas o sentimento com o Brasil é de muito carinho, segundo Bruno Tiago:

– Ele tem um carinho enorme pelo Brasil, é uma coisa admirável. Sobre o carinho que tem pelos brasileiros, pergunto qual é o motivo. Ele diz: “Ir ao Brasil, jogar contra o Flamengo no Maracanã, jogar em times brasileiros sempre foi uma vontade que eu tive. Infelizmente não consegui realizar esse sonho. Mas o Brasil é um lugar que amo e tenho maior carinho, pela alegria das pessoas, a felicidade que tem na arquibancada”. É legal a gente ver que um cara com a potência dele, o nome dele, ter esse carinho todo pelo nosso país.

Cabañas comandou o América-MEX em grande vitória sobre o Flamengo em 2008 — Foto: AP    Cabañas comandou o América-MEX em grande vitória sobre o Flamengo em 2008 — Foto: AP

Cabañas comandou o América-MEX em grande vitória sobre o Flamengo em 2008 — Foto: AP

Cabanãs trata a oportunidade no Cafetaleros de Chiapas como a maior chance de voltar a ter uma carreira no futebol. É próximo aos jogadores, tenta passar tudo o que viveu no mundo da bola, aproveita ao máximo o contato com o técnico argentino Gabriel Pereyra. Quer fazer parte do crescimento do clube, quer crescer fora das quatros linhas para seguir seu próprio e novo caminho:

– O mais legal disso tudo é que sempre tenta aprender bastante, buscando alternativas, conhecimento com outros treinadores, ouvindo bastante os jogadores. É uma coisa que ele já passou, tem muito mais conhecimento do que a gente. É uma coisa que agrega muito para o vestiário. Tem um peso muito grande, você olhar para o banco de reservas e ver a imagem dele. Cabañas, sempre que pode, senta com dois ou três para conversar. Passa um pouco o que ele vê do lado de fora do campo, acaba com uma visão um pouco melhor. E a gente acaba aceitando numa boa, agregando coisas positivas.

Cabanãs participa de evento com jogadores do Cafeteleros — Foto: Reprodução/TwitterCabanãs participa de evento com jogadores do Cafeteleros — Foto: Reprodução/Twitter

Cabanãs participa de evento com jogadores do Cafeteleros — Foto: Reprodução/Twitter

As resenhas de Bruno Tiago com Cabañas vão além do campo/bola. Segundo o brasileiro, família e situações vividas pelo paraguaio são comuns no bate-papo. A triste história que ele viveu hoje serve de exemplo para os jogadores e como combustível para novas páginas em sua biografia:

– Eu tenho um carinho e aproximação muito grande. Conversamos bastante sobre diversos assuntos, a maioria é sobre família. E um pouco também de futebol, tem uma ideia de futebol muito boa. É um exemplo de vida, a história que passou no futebol, perdeu muitas coisas, muitos amigos se esconderam. Muitas pessoas deram as costas para ele. Então, são coisas que a gente tem que ouvir mais e trazer para nossas vidas. É triste o que aconteceu, mas hoje em dia ele superou tudo, é um cara totalmente diferente. A vida ensinou também, é um cara que tenho carinho, respeito e admiração.

Cafetaleros: de Tapachula para Tuxtla Gutiérrez

O clube é novo, foi fundado em 2015, tinha como sede a cidade de Tapachula. Cresceu esportivamente, ganhou seguidores e conquistou o torneio Clasura de acesso em 2018. Venceu o playoff para jogar a elite mexicana, mas não tinha requisitos exigidos pela Federação Mexicana de Futebol. Faltava futebol de base e infraestrutura. Por isso, não subiu naquele ano. Então, se mudou para Tuxtla Gutiérrez, capital do estado de Chiapas.

Paraguaio chegou a trabalhar como padeiro

Salvador cabañas fazendo pão — Foto: Agência AFPSalvador cabañas fazendo pão — Foto: Agência AFP

Salvador cabañas fazendo pão — Foto: Agência AFP

Ganhou corpo, estrutura, é o representante do estado agora no futebol mexicano. Com Cabañas & Cia, o sonho é disputar a elite. Conseguiu os certificados da Federação Mexicana e, portanto, precisa mais uma vez ganhar em campo a vaga entre os maiores do México.

– Com a transferências para Chiapas, o clube mudou o nome de Cafetaleros de Tapachula para Cafetaleros de Chiapas. Mudou por alguns requisitos da Federação Mexicana. São quatro anos, comecei junto com o clube nesse processo em 2015. Estou muito feliz. Foi bom, foi legal nosso título da Clausura e da competição do acesso. Porém, como não tínhamos o certificado com alguns requisitos da Federação Mexicana, tivemos que fazer essa mudança para Tuxtla Gutiérrez. Agora temos todos os requisitos, então foi uma mudança obrigatória para o clube por conta das leis – lembra Bruno Tiago.

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