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Brasil é um dos piores países em divisão de tarefas domésticas entre homens e mulheres

Por Isabel Filgueiras, Valor Investe — Vancouver

Em todo o mundo, mulheres trabalham mais que os homens quando consideradas as tarefas remuneradas e as não-remuneradas. Nenhum país, nem mesmo os escandinavos, conseguiram parear as horas que cada um gasta com atividades domésticas. No entanto, no Brasil a situação é ainda pior.

Levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que as mulheres no Brasil gastam quatro (QUATRO!!) vezes mais tempo em tarefas não-remuneradas que os homensO Brasil tem o 17º pior desempenho do mundo. Atrás da gente estão países como Paquistão, Índia, Cambodia, Tunísia e Albânia.

Entre os países com as melhores relações entre homens e mulheres no serviço doméstico estão Suécia, Timor-Leste, Noruega, Dinamarca e Holanda.

A lista foi publicada este ano e refere-se a quantidade de horas trabalhadas por mulheres em serviços domésticos frente a cada hora trabalhada pelos homens nesse mesmo tipo de função. Juntos, estima a consultoria McKinsey & Company, homens e mulheres deixam de receber US$ 10 trilhões por ano por essas atividades.

Relação de horas de trabalho não remunerado

Países menos desiguais Proporção Países mais desiguais Proporção
Suécia 1.26 Mali 11.01
Timor-Leste 1.27 Paquistão 10.24
Noruega 1.39 Cambodia 10.00
Dinamarca 1.39 Índia 9.67
Holanda 1.48 Tunísia 7.49
Vietnã 1.48 Marrocos 6.97
Canadá 1.51 Burkina Faso 6.65
Alemanha 1.51 Albânia 6.26
Nigéria 1.51 Argélia 5.89
Finlândia 1.55 Guatemala 5.81
Bélgica 1.55 Iraque 5.78
Estônia 1.54 Palestina 5.32
Estados Unidos 1.59 Armênia 4.95
França 1.61 Madagascar 4.85
Suíca 1.64 Japão 4.76
Cabo Verde 1.65 Coreia 4.43
Quirguistão 1.69 Brasil 4.27
Nova Zelândia 1.71 Laos 4.17
Eslovênia 1.78 Portugal 3.92
Moldova 1.78 Irã 3.91

Como resolver?

Todos os dias, elas têm de 30 minutos a 60 minutos a mais de responsabilidades a cumprir. Considerando um tempo médio de 45 minutos, elas trabalham o equivalente a cerca de 10 dias a mais que os homens por ano. Imagina quantas séries da Netflix daria para ver? Momentos de descanso? Horas de estudo, de leitura? Ou até de convívio social com amigos e a família?

Se os homens fizessem 50 minutos a mais de trabalhos domésticos por dia e as mulheres fizessem 50 minutos a menos haveria paridade entre as horas de trabalho não-remuneradas, segundo a organização não-governamental Promundo, que atua na masculinidade saudável e igualdade de gênero, com pesquisas e cursos.

Ou seja, ninguém está pedindo para os homens assumirem todas as tarefas domésticas e as mulheres irem ao shopping. O que se sugeri é algo igualitário, para que ambos façam suas obrigações, mas que também tenham mais tempo livre. Razoável não? Ninguém está querendo descobrir a roda ou mudar o movimento do Sol.

“No Brasil, as mulheres fazem quase mais de quatro vezes mais trabalho doméstico que o homem. Mesmo com empregada, ela chega em casa e tem essa dupla jornada. Nós homens não estamos fazendo nossa parte. Por isso, elas ficam fora do mercado, não conseguem crescer nas carreiras. Elas continuam a carregar desproporcionalmente o peso do trabalho não-remunerado”, afirma Gary Barker, fundador e diretor da Promundo.

Esses 50 minutos parecem pouco, mas a verdade é que nos últimos 20 anos a jornada não-remunerada dos homens aumentou somente 7 minutos em média, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

De acordo com a Promundo, o problema começa ainda na infância. Em geral, 40% das meninas fazem muito mais trabalho doméstico quando crianças. Para atingir a paridade desse tipo de tarefas, é preciso mudança na forma de educar.

A situação é ainda pior em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). “Nos países pobres, quando você é um menino na idade escolar as portas se abrem e você pode fazer muitas coisas, estudar, jogar bola, conhecer pessoas. Para garotas, é o contrário. As portas se fecham, o tempo se divide em cuidar da casa e dos mais velhos ou mais novos na família”, afirma a diretora-executiva da Unicef, Henrietta Fore.

Outros dados

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres trabalham pelo menos o dobro que os homens no cuidado de pessoas da família e nas tarefas domésticas.

Segundo o estudo Outras Formas de Trabalho 2018, divulgado em abril, elas devotam 21,3 horas por semana a esses ofícios de casa e família, enquanto eles dedicam 10,9 horas, ou seja, a metade.

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