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Análise: a exigência (e eficiência) defensiva que ajuda a desvendar o “Mistério de Ribeiro” no Flamengo

Atenção, alerta de dualidade! Ao término desse texto, provavelmente você estará em um desses dois grupos: os que ficarão abraçados ao conceito raso de passada de pano ou os que terão argumentos e um novo ponto de vista para tirar suas próprias conclusões para um dos questionamentos mais recorrentes do Flamengo em 2021. O que aconteceu com o futebol de Everton Ribeiro?

Everton Ribeiro dá combate em Wesley, do Palmeiras, na Supercopa — Foto: Pedro Martins / Foto FC

Everton Ribeiro dá combate em Wesley, do Palmeiras, na Supercopa — Foto: Pedro Martins / Foto FC

De cara, a definição “má fase” não será utilizada. Visto que há uma mudança de rendimento do camisa 7 já desde janeiro, o conceito de fase fica para trás e nos abre os olhos para a necessidade de ponderar uma relação que cada vez mais condiciona avaliações de jogadores de futebol: expectativa x realidade.

Será que Ribeiro está realmente mal como muito é falado ou apenas tem atribuições diferentes da que o torcedor estava acostumado? Depois de muito quebrar a cabeça, fatos e números apontam para a segunda opção.

Everton Ribeiro pré x pós mudança de função

  • Jogos: 11 x 18
  • Desarmes: 19 x 47 (média: 1.7 x 2.6)
  • Faltas cometidas: 9 x 21 (média: 0.8 x 1.2)
  • Faltas recebidas: 19 x 27 (média: 1.7 x 1.5)
  • Gols: 1 x 1
  • Assistências: 0 x 4
  • Finalizações: 17 x 32 (média: 1.7 x 1.8)

É uma situação que lembra muito aquele clichê de nota de atuação de laterais: “Praticamente não foi ao ataque. Nota 3!”. Mas espera aí: será que ir ao ataque era o que ele se propunha a fazer por orientação do técnico quando entrou em campo? É necessário contextualizar o papel de cada um na engrenagem de uma equipe, e está cada vez mais claro que a Everton Ribeiro não tem mais tanta obrigação ou liberdade ofensiva.

Qualquer análise do futebol com camisa 7 do Flamengo de 21 de janeiro para cá passa fundamentalmente por um tripé: tático, físico e técnico. Foi no 2 a 0 contra o Palmeiras, em Brasília, pela 31ª rodada do Brasileirão, que Rogério Ceni promoveu a mudança que levou a equipe ao oitavo título da competição. Willian Arão virou zagueiro e Diego primeiro volante.

Mapa de calor de Everton Ribeiro antes e depois da mudança de função — Foto: Bruno Imaizumi / ge

Mapa de calor de Everton Ribeiro antes e depois da mudança de função — Foto: Bruno Imaizumi / ge

De maneira simplória, foram mudanças de posição que afetaram diretamente o agora ex-volante e o ex-meia. Não é bem assim. Gérson é outro que tem impacto evidente por dividir com o camisa 10 a missão do combate no meio de campo, mas discretamente e sem muito alarde Everton Ribeiro também se viu obrigado a sacrificar o fôlego para ações ofensivas em prol do equilíbrio defensivo.

A equação é simples: por mudança tática, Ribeiro se desgasta mais na parte física e tem menos perna e liberdade para desenvolver a técnica com a bola nos pés. Simples, mas muitas vezes (quase sempre) ignorado. Pois bem, estamos aqui para exemplificar em fatos e fotos. Literalmente.

A imagem abaixo é do segundo jogo do Flamengo nesta formação e mostra um Everton Ribeiro chegando atrasado na área de defesa para marcar finalização de Abner, do Athletico-PR, na derrota por 2 a 1 na Arena da Baixada. Minutos antes, o camisa 7 não deu esse suporte a Isla e o próprio Abner tinha aberto o placar.

Everton Ribeiro marca Abner na área de defesa — Foto: Reprodução

Everton Ribeiro marca Abner na área de defesa — Foto: Reprodução

A construção da jogada é diferente, mas a exigência defensiva é a mesma do lance do primeiro gol da LDU no 3 a 2 da última terça-feira na altitude de Quito. É Ribeiro quem chega desesperado para tentar cortar cruzamento que resulta na cabeçada de Borja.

Everton Ribeiro se esforça de carrinho para evitar cruzamento em gol da LDU — Foto: Reprodução

Everton Ribeiro se esforça de carrinho para evitar cruzamento em gol da LDU — Foto: Reprodução

Sem a eficiência de Willian Arão na cobertura dos laterais como primeiro volante, Ribeiro e Arrascaeta têm exigências defensivas muito maiores fechando o corredor e auxiliando Diego e Gérson. A réplica de que o uruguaio não teve impacto em seu rendimento é óbvia, mas também é óbvio que Filipe Luís oferece muito menos espaços a serem cobertos do que Isla do outro lado.

Se precisa muitas vezes estar na própria área defensiva para ajudar na marcação, Ribeiro na mesma proporção perderá fôlego para chegar na ofensiva e ser efetivo na construção como de costume. É fisiológico, e é uma compensação que está no pacote escolhido por Rogério Ceni quando opta por ter um Flamengo que jogue com maior qualidade técnica desde os zagueiros.

Construção de gols sofridos após mudança

  • Pela direita da defesa: 18
  • Pela esquerda da defesa: 13
  • Pelo meio: 10

Os questionamentos são naturais. Everton Ribeiro acostumou o torcedor brasileiro, não só do Flamengo, a ser peça que carimbava todas as bolas no setor de ataque. Mas com a ajuda dos espiões estatísticos Roberto Maleson e Bruno Imaizumi conseguimos mostrar em números o que foi dito nos muitos parágrafos anteriores.

Em recorte somente na passagem de Rogério Ceni, Everton soma 11 jogos em sua função de origem e 18 desde que Willian Arão e Diego mudaram de posição. O aumento das atividades defensivas é marcante. O camisa 7 aumentou em 51% o número de desarmes (média de 1.7 para 2.6) e em 47% as faltas cometidas (média de 0.8 para 1.2).

Vibração de Everton Ribeiro em jogo no Brasileirão — Foto: Pedro Martins / Foto FC

Vibração de Everton Ribeiro em jogo no Brasileirão — Foto: Pedro Martins / Foto FC

Nossos espiões mostram no mapa de calor ainda uma presença maior no campo defensivo pelo corredor direito e indicam números que justificam tudo que falamos até aqui. Com Rogério Ceni, o Flamengo sofreu 18 gols em jogadas construídas pelo lado direito da defesa contra 13 do oposto e 10 pelo centro.

Os números mostram ainda regularidade no desempenho ofensivo, com praticamente a mesma média de finalizações (1.7 x 1.8) e de faltas recebidas (1.7 x 1.5). Na nova função, Ribeiro marcou um gol, diante do Grêmio, em Porto Alegre, e deu quatro assistências.

Argumentos na tela, a escolha é sua: passada de pano ou faz sentido? Fiquem à vontade.

(Com informações do ge).

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