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A macaxeira cozinhou: Pedrinho volta às origens, revê o CSA e tenta pôr fim a jejum do Corinthians

Por Bruno Cassucci — Maceió

Os relatos soavam como exagerados. Um garoto de extrema habilidade, praticamente imparável quando driblava e acostumado a decidir sozinho jogos nos campos e nas quadras de Maceió. Aos 12 anos, Pedrinho já demonstrava algumas das qualidades que o tornariam titular absoluto do Corinthians e da seleção brasileira olímpica, mas gerava suspeita em quem só ouvia falar dele.

– Todo vendedor diz que a macaxeira cozinha, né? (risos) Eu falava do talento dele, mas o pessoal do Vitória achava que era exagero, não acreditava muito – conta o professor Romildo, treinador de Pedrinho no time de futsal do CSA e responsável por levá-lo para testes no time baiano.

Hoje, quase dez anos depois, não restam dúvidas: a macaxeira (mandioca ou aipim, dependendo da região do Brasil) cozinhou. Após superar desconfianças e insucessos, Pedrinho volta a Alagoas, sua terra natal, para enfrentar pela primeira vez o CSA, clube para o qual torceu e jogou na infância.

Às 21h30 desta quarta-feira, no estádio Rei Pelé, ele realizará o sonho de atuar como profissional na cidade em que deu os primeiros chutes e tentará acabar com um jejum do Corinthians de seis jogos sem vitória.

A partida entre CSA x Corinthians é válida pela 29ª rodada do Brasileirão e terá transmissão ao vivo da TV Globo para os estados de SP, AL, SE, PE, PR, GO, TO e PA com narração de Cleber Machado e comentários de Casagrande, Roger Flores e Sálvio Spínola. O Premiere transmite ao vivo para todo o Brasil com Jota Jr e Vagner Vilaron. O GloboEsporte.com acompanha em tempo real, com vídeos, e transmite ao vivo as entrevistas pós-jogo.

Fotos de Pedrinho na infância, com a camisa do CSA — Foto: Arquivo pessoalFotos de Pedrinho na infância, com a camisa do CSA — Foto: Arquivo pessoal

Fotos de Pedrinho na infância, com a camisa do CSA — Foto: Arquivo pessoal

Driblando até o físico

A volta a Maceió tem um significado especial para Pedrinho. Quando deixou família e amigos para trás e foi a Salvador tentar a sorte no Vitória, aos 12 anos, o garoto prometeu ao pai que só retornaria à cidade como jogador profissional.

A profecia se cumpriu, mas não exatamente como ele imaginava. Cerca de um ano após ser aprovado em teste no clube baiano, Pedrinho foi dispensado. Dirigentes e profissionais do Vitória alegaram que ele não tinha se desenvolvido fisicamente como deveria.

Antes de fechar com o Corinthians, ele também foi rejeitado no São Paulo e cogitou desistir.

– Ele chorava e, então, me disse: “Acho que futebol não é para mim, vou parar” – conta seu Pedro, como é conhecido o pai do jogador, que conseguiu demovê-lo da ideia.

O porte franzino sempre levantou suspeitas sobre o futuro de Pedrinho como atleta. Ou melhor, quase sempre. Na infância, embora muito magro, ele jogava futsal como fixo, a posição mais recuada.

– O Pedrinho era um monstro defensivamente. Aí, quando o time recuperava a bola, ele ficava à vontade para sair para o jogo. Era muito diferenciado, liso demais. No um contra um, sempre levava a melhor – comenta o professor Romildo, que se orgulha de ter vencido o primeiro e único título de um clube alagoano nas olimpíadas escolares, em 2011.

Pedrinho era o craque do Santíssima, colégio particular no qual estudou graças a uma bolsa de estudos.

Romildo, professor de Pedrinho no futsal — Foto: Bruno CassucciRomildo, professor de Pedrinho no futsal — Foto: Bruno Cassucci

Romildo, professor de Pedrinho no futsal — Foto: Bruno Cassucci

Azulino

Pedrinho chegou ao CSA aos seis anos e jogou futsal e futebol de campo pelo clube. Ele nunca possuiu contrato ou registro na federação. A relação sempre foi mais afetiva do que profissional, motivo pelo qual o jogador promete não comemorar caso faça um gol nesta quarta-feira.

– Sempre tive uma paixão grande pelo CSA, a torcida deles é menor, mas no mesmo estilo que a do Corinthians, muito apaixonada, que acompanha bastante. Isso fez com que eu torcesse para o CSA.

– Meu pai sempre me levou aos jogos. Quando minha mãe estava grávida, ela foi ao Rei Pelé e, quando o CSA fez um gol, eu comecei a chutar a barriga dela. Acho que isso me motivou a ser CSA, tenho um carinho enorme – relata o meia.

Pedrinho ao lado do pai, com a camisa do CSA — Foto: Arquivo pessoalPedrinho ao lado do pai, com a camisa do CSA — Foto: Arquivo pessoal

Pedrinho ao lado do pai, com a camisa do CSA — Foto: Arquivo pessoal

Seu Pedro foi o principal responsável não só por fazer Pedrinho torcer pelo CSA, mas também para que ele se tornasse um jogador profissional. Sem conseguir seguir carreira no mundo da bola, ele apostou todas as fichas no filho.

– Esse era meu sonho, eu fiz de tudo para dar certo. Na época, eu era maqueiro e até de ambulância eu levei o Pedrinho para treinar – conta.

Luciana, a mãe do jogador, também se desdobrava para ter dinheiro para manter a casa e ainda conseguir levar o filho para jogar futebol.

Doméstica, ela complementava a renda vendendo batatas fritas em uma praça em Chã da Jaqueira, bairro da periferia de Maceió, onde viviam.

– Eu não falo muito, mas é algo que me marcou bastante. Minha mãe vendia batatinha na pracinha para me ajudar a ir para o colégio, pegar ônibus para ir para os treinamentos. Lá era um lugar perigoso de noite. Meu pai trabalhava no hospital e chegava cansado. Ele ajudava minha mãe a descascar batatinha. Eu estudava de manhã, treinava à tarde e, à noite, ajudava a descascar batatinha também. Levávamos o carrinho que era pesado, às vezes quebrava no caminho, mas sempre dávamos um jeito. Só quem conviveu com a gente sabe o que passamos para chegar aqui – relata Pedrinho.

Nesta mesma praça onde Luciana vendia batatas, seu Pedro criou um projeto social chamado Craque do Futuro, no qual dava aulas de futebol a crianças e adolescentes. Foi lá que o professor Romildo viu Pedrinho e o levou para o colégio Santíssima e o CSA.

Praça onde Pedrinho jogava e onde a mãe dele vendia batatas — Foto: Bruno CassucciPraça onde Pedrinho jogava e onde a mãe dele vendia batatas — Foto: Bruno Cassucci

Praça onde Pedrinho jogava e onde a mãe dele vendia batatas — Foto: Bruno Cassucci

Na linha

A origem pobre fez com que o camisa 38 do Timão crescesse em um ambiente violento. Felipe, um dos melhores amigos dele na juventude, foi morto aos 15 anos, por conta do envolvimento com o tráfico de drogas.

A rigidez da família, entretanto, nunca deixou Pedrinho sair da linha.

– Ele sempre foi um excelente aluno, nunca deu trabalho, não faltava, era educado e interagia bem com os colegas. Eu falava: se o futebol não te der resultado, com certeza a educação vai te dar – afirma Célia Pereira, diretora do colégio em que o jogador estudou na infância.

Graças ao sucesso com a bola, Pedrinho comprou carros e um apartamento para a família em um dos bairros mais nobres de Maceió. Também pôde dar melhores condições para Luana, sua irmã, que hoje cursa faculdade de Marketing, em São Paulo.

A macaxeira não só cozinhou, como também serviu um banquete.

Pai de Pedrinho em frente a casa onde o jogador morou na infância — Foto: Bruno CassucciPai de Pedrinho em frente a casa onde o jogador morou na infância — Foto: Bruno Cassucci

Pai de Pedrinho em frente a casa onde o jogador morou na infância — Foto: Bruno Cassucci

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