Reforma previdenciária fará jovem trabalhar mais para se aposentar; entenda

O cálculo da aposentadoria para quem é jovem e já está ou nem entrou no mercado de trabalho ficará arrochado pela reforma da Previdência apresentada pela equipe de Michel Temer no dia 06 de dezembro. Tudo porque o Governo levará ao Congresso uma proposta que estabelece a idade mínima de 65 anos e o tempo de contribuição de 25 anos para que o brasileiro consiga se aposentar pelo INSS.

Se aprovada, a reforma previdenciária atingirá diretamente homens com menos de 50 anos e mulheres com até 45 anos. Se você tem mais de 50 anos, haverá uma fórmula de transição diferente para calcular o quanto você receberá assim que parar de trabalhar (leia mais sobre a regra de transição no final da matéria).

Os jovens, portanto, devem ficar atentos às mudanças das regras da aposentadoria; para isso, fizemos uma simulação com o tempo por qual trabalhadores de diferentes faixas etárias terão que pegar no batente para garantir a aposentadoria. Os exemplos foram comentados pela advogada previdenciária Deborah C. S. Quintans.

Alguns detalhes oficiais foram divulgados pelo secretário da Previdência Marcelo Caetano, em coletiva de imprensa. Saiba tudo agora.

Reforma previdenciária: quem atingirá

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Atualmente, o cálculo para se aposentar funciona assim: a soma da idade da pessoa com o tempo de contribuição tem que ser de pelo menos 95 anos para homens e 85 anos para mulheres. É a chamada fórmula 85/95, que garante o benefício integral.

Esta regra e o fator previdenciário, que diminui o valor do benefício se o contribuinte o pedir antes dos 60 anos, cairão por terra. O que passa a valer é a idade mínima de 65 anos para homens e mulheres e o tempo de contribuição mínimo de 25 anos.

O secretário da Previdência detalhou a nova regra proposta pelo Governo em coletiva de imprensa.

“Com a nova regra, a aposentadoria será calculada sobre a média de salários na vida de contribuição da pessoa (e isso já acontece), com a aplicação de um percentual de 51% somado a um ponto percentual de cada ano que ela contribuiu”, explica. Não haverá aposentadoria menor do que o salário mínimo.

“A fórmula do cálculo do benefício vai mudar. Claro que não agora, porque existe processo de negociação no Congresso. Mas, quando a proposta for aprovada, passa a valer. A fórmula 85/95 e o fator previdenciário acabam”.

O que o Governo Temer espera, portanto, é que o pagamento da aposentadoria aos brasileiros vá se encaixando ao aumento da expectativa de vida das pessoas.

Esta é uma das justificativas para a reforma da Previdência: com o envelhecimento da população: a conta da aposentadoria ficaria alta para os cofres públicos.

O que se imagina, então, é que pagar tanta aposentadoria poderia aumentar o chamado rombo na Previdência. Por isso, a proposta aperta o cerco aos segurados mais jovens.

Impacto nos mais jovens

Essa regra “vai atingir integralmente os mais jovens”, disse Temer na noite de segunda-feira (5). De fato, a medida fará com que o jovem trabalhe mais tempo (ou comece mais cedo) para conquistar a aposentadoria.

Por outro lado, Temer afirmou em transmissão ao vivo no Facebook do Planalto que, se não houver uma grande reforma, “nós vamos condenar aqueles que vierem depois de nós a baterem nas portas do Poder Público e nada poderem receber”. Veja comunicado completo abaixo:

Simulação de aposentadoria para jovem

Consultamos a advogada especialista em Previdência Deborah C. S. Quintans para analisar a proposta de aposentadoria e como impactará a vida dos mais jovens. Acompanhe como ficará o cálculo do benefício se a reforma previdenciária passar a valer:

O trabalhador tem uma média de salário de toda sua vida. Sobre ela, aplica-se um percentual de 51% com 1 ponto percentual a cada ano que contribuiu.

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DRAGANA991/GETTY IMAGES

Se ele trabalhar o mínimo que a proposta prevê

Quando o jovem de hoje completar as condições mínimas para se aposentar, ou seja, 65 anos de idade e 25 anos de contribuição, receberá 76% do valor médio de seus salários (51% + 25) para se sustentar na velhice.

Se ele chegar aos 65 anos com 40 anos de contribuição

Para essa conta chegar a esse valor, é preciso que o trabalhador tenha contribuído com a Previdência desde, pelo menos, 25 anos. Aí, ele terá 91% (51% + 40) sobre o valor médio do salário.

Se ele quiser receber 100% do valor médio de seu salário

Com a nova regra, para o jovem receber 100% do valor em sua velhice, aos 65 anos, terá que contribuir por 49 anos.

Isso significa que as novas gerações terão que começar a trabalhar mais cedo: se o jovem de hoje quiser se aposentar com esta idade, ele terá que entrar no mercado de trabalho aos 16 anos.

O que diz a especialista

“Ou o jovem vai contribuir mais ou vai trabalhar mais”, analisa a advogada previdenciária Deborah C. S. Quintans. “Para quem tem 20 anos agora e está no mercado de trabalho, minha orientação é fazer uma previdência privada, mesmo nas regras atuais”.

Ela explica que, caso a reforma seja aprovada, uma das saídas para o trabalhador jovem é combinar os tipos de seguro. “Ele pode fazer uma previdência privada até 40 anos de idade e, então, passar a contribuir com o INSS. Assim, recebe os 25 anos de contribuição”.

Para Deborah, “com essa nova regra, o jovem só conseguirá se aposentar mais cedo se houver uma mudança ou um fator proposto pelo Governo, ou mesmo um ‘pedágio’, como na regra de transição”.

Regra de transição

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Se você tem mais de 50 anos, não entra nesta nova fórmula, mas está sujeito a uma regra de transição. Nesta regra, o contribuinte pagaria uma espécie de “pedágio” de 50% do que falta para se aposentar para, finalmente, receber o benefício.

O próprio secretário da Previdência Social, Marcelo Caetano, deu dois exemplos com trabalhadores de idades e tempo de contribuição diferentes. Veja:

“Se um trabalhador entrou em uma empresa com 16 anos e está hoje com 50 anos e um dia, ele tem, portanto, 34 anos de contribuição e um dia. [Nas regras atuais] falta um ano para se aposentar”.

Na regra de transição, entretanto, e ele vai pagar mais a metade do que falta.

“Se um trabalhador entra na mesma empresa e tem 49 anos, 11 meses e um dia, ele está fora da transição. Teria que se aposentar só aos 65 anos”.

Vale lembrar que esses exemplos se aplicam a trabalhadores urbanos, trabalhadores rurais. Servidores públicos, policiais militares e bombeiros terão outras regras de transição. Forças Armadas estão fora da proposta.

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