Projeto do Hemoam prevê diagnóstico precoce em regiões indígenas remotas

A instituição já atingiu 38 municípios, somando 87 profissionais capacitados

Seis profissionais acabaram de ser treinados para realizarem diagnóstico laboratorial de doenças do sangue e doenças endêmicas em regiões remotas do município de São Gabriel da Cachoeira (a 862 quilômetros de Manaus). A qualificação faz parte de um projeto desenvolvido pela Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) para apoio ao diagnóstico laboratorial precoce em áreas indígenas. O projeto teve parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-AM) e financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

O treinamento aconteceu por duas semanas na Central de Análises Clínicas do Hemoam. O grupo treinado atua nos Distritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena (Dsei), responsáveis pela assistência de povos isolados dos centros urbanos.

“Nós identificamos que existem pessoas atuando nesses locais e decidimos ampliar o conhecimento delas para o diagnóstico de doenças hematológicas, tais como as leucemias e anemias. A consequência disso é poder identificar a necessidade de tratamento e promover saúde para essa parcela da população”, explicou o Dr. em hematologia e coordenador do projeto, Nelson Fraiji.

As estatísticas da Fundação Hemoam apontam que nos últimos cinco anos a incidência de pacientes com Leucemia Linfoide Aguda (LLA) oriundos de São Gabriel da Cachoeira é muito baixa, com registro de apenas três casos, considerando que esse é o tipo mais comum entre as leucemias.

“Não acreditamos na ausência dessas doenças nesses locais e sim na falta de diagnóstico”, ponderou Fraiji.

Além de incluir o diagnóstico de doenças hematológicas no currículo dos profissionais, o treinamento ainda incluiu o aperfeiçoamento do diagnóstico para doenças endêmicas, tais como, a hanseníase, leishmaniose, malária, tuberculose e doenças parasitárias. O treinamento sobre as doenças endêmicas contou com a parceria dos profissionais do LACEN-AM.

“Muitos aldeados convivem com doenças e nem sabem disso, morrem sem saber a causa e não têm a chance de tratá-las”, disse Dionísio Gonçalves, um dos técnicos que recebeu o treinamento.

 

Laboratório – O projeto de diagnóstico também inclui a instalação de uma infraestrutura laboratorial para análise das amostras, no distrito de Iauaretê (a 248 quilômetros da sede do município). O mini laboratório será equipado com espectrofotômetro, microscópio, contador de células, microcentrífugas, banho maria e refrigerador.

Ao contar como funciona o trabalho dele, Dionísio informou que as equipes de saúde indígena adentram as comunidades isoladas e colhem as amostras para serem processadas em laboratórios localizados em distritos, onde possui energia e internet. Em caso de resultado positivo para alguma doença é avaliado a necessidade de levar o paciente até o centro de saúde em São Gabriel ou até para Manaus, dependendo da complexidade”, explicou o técnico de laboratório. Ele também relatou que algumas comunidades têm acesso tão difícil que são necessárias horas de caminhada pela mata, além de horas em barco pequeno.

 

Consulta online – O treinamento presencial representa uma etapa do projeto. Agora os técnicos de laboratório terão um grupo virtual para troca de informações com os profissionais do Hemoam. O contato funcionará por um grupo no aplicativo whatsapp, por onde podem ser compartilhadas imagens das lâminas e informações para auxiliar no diagnóstico e identificação das doenças.

 

Diagnóstico Precoce – O diagnóstico precoce é uma estratégia que a Fundação Hemoam vem executando desde 2017, sempre nesse formato de treinamento presencial e acompanhamento remoto de informações por ferramentas digitais.

Na ânsia de ampliar o diagnóstico precoce no interior, a instituição já atingiu 38 municípios, somando 87 profissionais capacitados.

Estima-se que a realização dessas capacitações tenham resultado no aumento de 25% da demanda de pacientes com leucemias oriundos do interior. Em 2016, antes do projeto, 73% dos casos de leucemia estavam em Manaus. A partir desse trabalho, Manaus passou a corresponder a pouco mais de 50% dos casos, sendo a outra metade do interior.

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