Motorista do transporte coletivo de Manaus revela detalhes dos mais de 30 assaltos que sofreu em 20 anos de profissão e afirma que sentimento na categoria é de medo

– (fotos apenas ilustrativas: internet – reportagem: Andrea Vieira) – Com quase 25 anos como motorista de ônibus do transporte coletivo em Manaus, Leomário do Nascimento ganhou até um apelido entre os colegas de profissão: “homem-aranha”. A alcunha é devido às façanhas que tem feito para se livrar dos quase 30 assaltos sofridos ao longo da vida profissional. Com tantos anos de profissão e outros tantos de agonia e  medo, agora, de forma mais calma, ele conta o que passou. Leomário afirma que, depois de tantos riscos sofridos, já se acostumou, e faz um relato curioso e cheio de detalhes dos momentos de uma das ocorrências, na linguagem simples do trabalhador humilde.

“Eu ‘rodava’ na linha 011, ‘entrou dois cara’, (né ?). Um entrou e me ofereceu cerveja. ‘Não, parceiro’. Eu ‘tô’ trabalhando … só que o outro apareceu ‘do nada’, de dentro do mato, que e nem desconfiava. ‘Eu peguei’, fui embora, continuei viagem. Quando eu cheguei na Constantino Néry, na hora que eu ‘tava’ passando a marcha, eles puxaram o 38. Eles disseram não mexa nada, não mexe nada, aí! ‘Aí eu peguei’, não mexi nada, né? Aí, o que ‘tava’ com a arma pulou pra trás, pra assaltar ‘os passageiro’r eu fiquei lá na frente. Aí, o outro foi pro cobrador! Aí pegou o dinheiro lá ‘tudinho’, né? Aí, esse que pegou o dinheiro do cobrador falou assim: ei, motora, abre a porta, abre a porta! Eu disse, não, parceiro! Tô esperando a ordem do outro, que ta com a arma na mão, que disse que é pra eu não mexer nada, aqui! Ei, mano, tá ‘me tirando’, é? (o cara falou, né?). ‘Tá me tirando, é?’ Abre logo essa porta aí! Eu me agoniei, abri a porta dianteira, ele desceu. Aí o outro veio de lá com a arma na mão, pulu a catraca e falou pra mim: eu mandei tu abrir a catraca, eu mandei, eu mandei? Eu mandei? Aí  me deu quatro ‘coronhada’ na cabeça.”

Trabalhando atualmente na empresa São Pedro, Leomário revela que já ficou de cara com a morte, mas conseguiu se safar de forma inusitada, e, no fim, ainda ganhou o tal apelido do ‘herói’ das histórias em quadrinhos.

“Eu parei o ônibus na cabeça da ponte do Tarumã e desconfiei ‘dos cara’. Aí, disse pros ‘cara’: ei, vocês vão ficar ‘aonde’? Só que eu falei aquilo, mas foi pro cobrador, pra ver se descia com a renda. Só que ele é tão ‘bisonho’ – nunca trabalhou no sistema, né? – Aí, ficou contando a ‘renda’ (11 horas da noite e ‘os cara’ só de olho, né?) Aí, eu, rapaz, já sei até o que eu vou fazer, né? Se ‘os cara puxar’ o 38, eu não vou levar outra coronhada, não?! Quando chegou lá em cima, perto do bar do ‘ceará’, ‘os cara’ puxaram um ‘trintaeoitão’, digo ‘minha nossa senhora!’. Eu ainda nem saí daqui! Vou levar outra coronhada? Eu digo: nem amarrado! Eu só fiz diminuir a velocidade do ônibus, abri a janela do ônibus e pulei pela janela. O ônibus foi embora sozinho, andando, com ladrão, cobrador, passageiro… O ônibus entrou lá dentro do mato! ”

Com o passar dos anos, aprendeu a identificar os sinais dos criminosos e quando eles vão atacar. Segundo Leomário, os dias de trabalho são carregados de tensão e a categoria trabalha com medo.

“Eu e meu parceiro, nós já temos um código, já. Primeiro, o ladrão, quando ele entra no ônibus, quando entra de dois; quando é três, um passa a catraca; um fica perto do cobrador e o outro, perto do motorista. É a primeira ‘mancada’ deles. Quando ‘é dois’, eles sentam um do lado e um do outro. Eles se espalham, assim … aí eu já … o cara entrou, não passou a catraca, pra mim, já é suspeito.”

Somente em 2017, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram) registrou mais de 3800 assaltos, somente em Manaus.

Hoje é possível denunciar em tempo real ocorrências de assaltos a coletivos ou rotas de funcionários pelo aplicativo ‘Aviso Polícia’. Ele funciona como um ‘botão do pânico’, acionando a viatura que estiver mais próxima ao local da ocorrência.

O aplicativo está disponível para Android e, após baixar, é preciso fazer um cadastro, informando o nome, telefone, e-mail e endereço. Após o cadastro, o usuário poderá acionar a polícia em caso de ocorrências policiais.

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