Justiça determina prisão de Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral

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O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, determinou na tarde desta terça-feira (6) a prisão de Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador Sérgio Cabral. A decisão saiu após ele aceitar a denúncia da Operação Calicute do Ministério Público Federal. Por volta das 15h53, agentes da Polícia Federal chegaram ao apartamento onde Adriana morava com Cabral, no Leblon. O local logo ficou tomado de curiosos.

Na mesma decisão que determinou a prisão de Adriana, o ex-governador virou réu por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e organização criminosa.

“A requerida, advogada de grande prestígio no meio forense, não está sendo investigada pela prática de atos que ela teria cometido no exercício de função pública, e sim por participar de uma grande Organização Criminosa que, como apontam as investigações, teria se instalado na sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, a partir do então Governador do Estado Sérgio Cabral, seu marido”, diz o juiz, em sua decisão.

Ele também comenta a possibilidade da advogada estar ocultando joias que teriam sido usadas para lavar dinheiro. “Embora as investigações tenham identificado registros nas joalherias investigadas de que Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo adquiriram pelo menos 189 joias desde o ano 2000, somente 40 peças foram apreendidas pela Polícia Federal por ocasião das buscas e apreensões, as quais foram encontradas no cofre do quarto da residência do casal. Tal constatação, como afirma o MPF, permite a conclusão de que a investigada Adriana Ancelmo permanece ocultando tais valiosos ativos, criminosamente adquiridos, eis que ainda não apreendidos pela Polícia Federal no cumprimento da ordem cautelar emanada deste Juízo, demonstrando a necessidade de renovação da medida cautelar anteriormente deferida”, diz o texto da decisão.

Inquérito concluído dia 30
A Polícia Federal concluiu no dia (30) o inquérito policial relativo à 1º fase da Operação Calicute. As investigações resultaram em 16 pessoas indiciadas pelos Delegados Federais que conduziram o procedimento por crimes que vão de corrupção passiva e ativa, organização criminosa a lavagem de dinheiro. Serão instaurados ainda outros inquéritos policiais para aprofundamento de novas vertentes da investigação. Entre os indiciados pela PF estavam Cabral e a mulher dele, Adriana Ancelmo.

A mulher do ex-governador, Adriana Ancelmo, é suspeita de lavagem de dinheiro e de ser beneficiária do esquema criminoso do grupo ligado ao marido. Ela foi alvo de mandado de condução coercitiva no mesmo dia em que o marido foi preso e chegou a ter a prisão temporária pedida pelo MPF, mas, na ocasião o pedido foi negado por Bretas, para quem que a eventual participação dela no esquema não justificaria a medida.

O esquema
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Cabral cobrava propina das empreiteiras para que estas fechassem contratos com o governo do estado. As construtoras, por sua vez, se consorciavam para fraudar as licitações e sabiam previamente quem iria ganhar as concorrências.

Os investigadores dizem que 5% do valor de cada contrato ia para Cabral e 1% para a Secretaria Estadual de Obras – percentual conhecido como “taxa de oxigênio”. Cabral recebia das empreiteiras “mesadas” entre R$ 200 mil e R$ 500 mil. De acordo com as investigações, o ex-governador chefiava uma organização criminosa e tinha como principais operadores os ex-secretários estaduais de Obras, Hudson Braga, e de Governo, Wilson Carlos Carvalho, também presos.

O esquema criminoso teria desviado R$ 220 milhões, segundo estimativa dos investigadores. Eles acreditam que mais empresas possam estar envolvidas no esquema. O dinheiro das propinas teria sido lavado em contratos falsos de consultorias e na compra de bens de luxo, como joias, vestidos de festa, obras de arte, um helicóptero e uma lancha avaliada em R$ 5 milhões.

Joias

Peritos da Polícia Federal avaliaram em pouco mais de R$ 2 milhões as 40 joias apreendidas, no último dia 17 de novembro, no apartamento do ex-governador Sérgio Cabral. Todos os brincos, colares e relógios foram adquiridos em dinheiro e sem nota fiscal, de acordo com os investigadores. A avaliação consta do laudo anexado ao inquérito da Operação Calicute que foi entregue ao Ministério Público Federal.

Agora, a Polícia Federal tenta descobrir se há joias escondidas ou se as notas fiscais são verdadeiras.De acordo com os investigadores, os peritos fizeram o cruzamento entre as joias apreendidas no apartamento do ex-governador e as notas fiscais apresentadas pelas joalherias H.Stern e Antonio Bernardo para saber de onde são as peças. As duas joalherias apresentaram R$ 7,1 milhões em notas fiscais de compras realizadas pelo casal Cabral a partir de 2007, ano em que Sérgio Cabral assumiu o governo do RJ. Ou seja, valor bem acima das joias apreendidas. Agora, os investigadores querem investigar se o ex-governador, ou sua mulher, mantém outras peças preciosas escondidas.

Em depoimento, a diretora comercial da H.Stern, Maria Luiza Trotta disse que “chegou a vender joias no valor de até R$ 100 mil a Sérgio Cabral, tais como anéis de brilhante ou outros tipos de pedras preciosas, sendo o pagamento ainda que em tais quantias realizado em dinheiro”. Nas notas fiscais, entregue pela joalheria à PF, um dia após a operação Calicute, mostra que o valor das joias está acima do declarado pela diretora.

Na lista entregue pela H.Stern, há informações de que o ex-governador adquiriu um anel de ouro branco de 18 quilates, com esmeralda, avaliado em R$ 342 mil; além de um colar denominado Blue Paradise, no valor de R$ 229 mil. Em seu depoimento, Sérgio Cabral disse “não se recordar desta compra”.

Já na Joalheria Antônio Bernardo, a PF obteve notas fiscais que mostram a compra de mais R$ 5,1 milhões em joias.

 

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