Histerossalpingografia: este exame pode te ajudar a engravidar

Conheça todos os detalhes que envolvem o procedimento que ajuda no diagnóstico da infertilidade na mulher

O nome é um tanto complicado, mas, a histerossalpingografia é bastante conhecida entre algumas mulheres, já que se trata de exame pedido frequentemente quando a mulher está realizando pesquisas para ver se tem algum problema para engravidar.

Luiz Eduardo Albuquerque, diretor clínico da Fertivitro, ginecologista especialista em Reprodução Humana, explica que a histerossalpingografia é um exame de raio-X do aparelho reprodutor feminino (útero e tubas). “É realizado por meio de uma injeção de contraste através do canal cervical, que desenhará a cavidade do útero e a parte interna das tubas. O objetivo é avaliar a morfologia dos órgãos, permitindo fazer o diagnóstico de lesões internas da cavidade uterina, como as aderências (sinéquias), pólipos ou miomas; ou lesões nas tubas, como as obstruções, dilatações ou lesões”, diz.

Armindo Dias Teixeira, ginecologista especialista em Reprodução Assistida, Videolaparoscopia e Endoscopia Ginecológica, ressalta que a histerossalpingografia é indicada para diagnosticar causas da dificuldade em engravidar, má formações do útero, alterações nas trompas, aderências, tumores da cavidade uterina, entre outros casos.

Albuquerque destaca que esse exame está indicado em todas as mulheres quando o casal está sendo pesquisado por infertilidade conjugal.

Como é feita a Histerossalpingografia?

O ginecologista Rogério A. Gomes, do Hospital Sírio Libanês, explica que a histerossalpingografia é feita com um aparelho de raio-X em conjunto com o uso de contraste.

  • A paciente fica deitada de barriga para cima e com os joelhos dobrados (como se fosse colher um exame de Papanicolaou).
  • O contraste (normalmente à base de iodo) é colocado dentro do útero através da inserção de um cateter no colo do útero.
  • Como o raio-X não atravessa o contraste, é possível avaliar a anatomia do útero e das tubas.
  • Ao longo do exame, o médico costuma pedir para a paciente mudar sua posição, o que ajuda a distribuir melhor o contraste, fornecendo mais informações.
  • Após o procedimento, o cateter é removido e a paciente pode ir para casa normalmente.

“O tempo total de procedimento é de cerca de 20 minutos”, afirma Gomes.

Albuquerque ressalta que o exame é realizado entre o 7° e o 10° dia do ciclo menstrual (contando como o primeiro dia do ciclo o primeiro dia de fluxo menstrual). “É realizado um exame ginecológico (igual à coleta do exame preventivo anual), em que será inserida dentro do colo uterino uma sonda para que seja introduzido o contraste. Durante a injeção do contraste são realizados vários raios-X para a documentação das imagens”, acrescenta o especialista.

Uma dúvida bastante comum é em relação ao uso do contraste. Muita gente não tem conhecimento do que significa e até certo medo de efeitos colaterais.

Gomes explica que o contraste é um líquido que tem como propriedade não ser atravessado pelo raio-X. “O produto de contraste utilizado habitualmente é substância hidrossolúvel com 25% de iodo, que é bem tolerado, eliminando-se ao fim de 30 minutos”, diz.

Albuquerque esclarece que os efeitos colaterais são extremamente raros, sendo mais comuns nos contrastes iodados, tais como:

  • Sensação de calor no corpo
  • Náuseas
  • Sudorese
  • Hipotensão
  • Gosto metálico na boca

“O risco da utilização dos contrastes iodados se restringe aos pacientes com alergia ao iodo, gestantes ou pacientes em uso de DIU”, acrescenta Albuquerque.

Gomes ressalta que, em alguns casos, pode ocorrer a alergia ao contraste. “É fundamental a paciente relatar ao médico caso tenha alergia a iodo ou frutos do mar, e ela deverá retornar ao médico em caso de inchaço, coceira na região genital, coceira na pele ou falta de ar”, alerta.

Cuidados pré e pós-exame de Histerossalpingografia

Foto: Getty Images

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Conheça os pré-requisitos para realização do exame, de acordo com os médicos:

  • A paciente não pode estar grávida (não podendo haver nem esta suspeita);
  • A paciente tem que estar entre o 7° e o 10° dia do ciclo menstrual;
  • A paciente deve estar em abstinência sexual de dois dias antes do exame;
  • A paciente não deve estar ainda com corrimento ou qualquer secreção vaginal;
  • A paciente deve ter certeza de não ser alérgica a iodo.

Preparo para o exame

Albuquerque explica que o preparo para o exame pode variar de laboratório para laboratório. Porém, normalmente, pede-se:

  • Jejum de pelo menos quatro horas;
  • Abstinência sexual de dois dias;
  • Não estar com fluxo menstrual presente;
  • Preparo intestinal e analgésico 30 minutos antes do exame.

Gomes reforça que pode ser necessária a limpeza do intestino, usando laxantes no dia anterior. “Isso para que os gases e fezes na região pélvica não atrapalhem na visualização do resultado”.

Ainda de acordo com Gomes, antiespasmódicos e anti-inflamatórios podem ser utilizados para evitar desconfortos. “Também é importante o esvaziamento da bexiga antes de começar o exame”, diz.

Pós-exame

Albuquerque destaca que, assim como no preparo para o exame, as orientações podem variar conforme o laboratório, mas, geralmente, recomenda-se:

  • Repouso no dia do exame;
  • Utilizar analgésicos se necessário.

Gomes acrescenta que pode-se recomendar abstinência sexual nos 5 dias após a realização do exame.

Contraindicações da Histerossalpingografia

Teixeira ressalta que as principais contraindicações são:

  • Infecções pélvicas agudas;
  • Alergia ao contraste;
  • Suspeita de gravidez.

Gomes reforça que grávidas são proibidas de realizar o exame pelo risco de aborto. “Pacientes que tiveram reação alérgica ao iodo ao fazerem outros exames ou que apresentem alergia a frutos do mar devem informar o médico que vai realizar o procedimento, isso para que algumas precauções sejam tomadas”, orienta.

Riscos da Histerossalpingografia

De acordo com Albuquerque, o maior risco seria quanto à reação alérgica ao iodo. “Em casos raros, o exame pode agravar uma infecção quando ela for pré-existente. Neste caso, quando o radiologista faz o diagnóstico de uma hidrossalpinge (dilatação tubária), recomenda-se que o paciente utilize antibióticos após o exame”, diz.

Teixeira destaca que todos os procedimentos têm certo grau de risco. “Mas, nesse exame, os riscos mais comuns são a dor, pequenos sangramentos e, eventualmente, alguma alteração na pressão arterial, e muito raramente infecção”, diz.

Resultados da Histerossalpingografia

Foto: Getty Images

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Mas, afinal, quais costumam ser os resultados do exame? O que eles podem mostrar? O especialista Albuquerque explica abaixo:

Análise do útero

Resultados normais: na cavidade uterina normal, nota-se um “pregueamento” (plissado) característico do canal cervical, uma cavidade uterina com paredes lisas de forma geralmente triangular com a sua base voltada para cima, como mostra o desenho: ▼.

Resultados alterados: podem ser vistas no exame as doenças que invadem a cavidade do útero, tais como: os pólipos endometriais, os miomas submucosos e as aderências (sinéquias), que causam falha de enchimento, no momento da injeção do contraste no interior da cavidade do útero.

“Algumas vezes, podemos notar uma invasão do contraste na musculatura do útero, formando discretos acúmulos de contraste. Neste caso, é possível suspeitar de adenomiose e, assim, necessitamos mais exames para chegar ao diagnóstico”, acrescenta Albuquerque.

“Nas alterações de malformação do útero, as imagens podem mostrar a presença de dupla cavidade uterina (útero bicorno), grande falha de enchimento que divide a cavidade uterina (septo uterino) ou mesmo o desenho de apenas metade da cavidade do útero (útero unicorno)… Neste último, temos que pesquisar um pouco mais, pois podemos estar diante de uma alteração de malformação uterina que pode ser acompanhada por outra cavidade ou por ausência de outra cavidade”, destaca o especialista em Reprodução Humana.

Análise das trompas

Resultados normais: uma trompa normal aparece na histerossalpingografia como uma imagem linear a partir da saída da cavidade uterina por, aproximadamente, dois terços do tamanho total da trompa e, em seguida, uma discreta dilatação (região ampolar), aonde nota-se um “pregueamento” (plissado) longitudinal característico, seguido por uma dilatação um pouco maior que antecede a saída do contraste para a cavidade abdominal (infundíbulo ou fimbrias).

“O importante é que a passagem do contraste no interior da luz das trompas normalmente não é interrompida e, na maioria das vezes, não causa retenção deste no seu interior”, explica Albuquerque.

“Ao final do exame, o radiologista experiente espera a paciente andar e, após alguns minutos, repete o exame de raio-X com o objetivo de eliminar totalmente o contraste do interior da cavidade uterina, pois, uma vez não havendo mais contraste na cavidade uterina, também não se deve mais contraste no interior das trompas. E, assim, podemos concluir que as trompas não retêm contraste, portanto são normais”, acrescenta o especialista.

Resultados alterados: as obstruções da passagem do contraste representam uma lesão das trompas, que podem ser devido a um procedimento cirúrgico (laqueadura tubária) ou a uma sequela de um processo infeccioso.

“Nas sequelas de infecções das trompas, vários tipos de imagem podem aparecer além da obstrução, como as dilatações importantes, mostrando um desarranjo do ‘pregueamento’ normal das trompas (hidrossalpinge) e estreitamento importante da saída do contraste pelo infundíbulo (parafimose)”, diz Albuquerque.

“Pequenas falhas de enchimento na região ístmica das trompas (segmento mais fino) podem representar pólipos no seu interior, mas parece que tal doença não compromete a fertilidade da paciente”, explica o especialista.

“Podemos notar uma infiltração (pequenos divertículos ou nódulos) na parede das trompas na região ístmica, sugestivo de salpingite nodosa, ou seja, infecção da trompa causada por doenças sexualmente transmissíveis, como a clamídia, neisseria gonorreia, ureaplasma e micoplasma, podendo ainda ter como agente causador a tuberculose”, destaca o especialista.

“Mesmo com trompas aparentemente pérvias, podemos notar imagens sugestivas de infecção como: enovelamento das trompas, falta de mobilidade das trompas no decorrer do exame (trompas fixas) e sequestro de moderada quantidade de contraste em determinadas regiões peritubárias”, ressalta Albuquerque.

Onde fazer a Histerossalpingografia

Albuquerque diz que geralmente os laboratórios que fazem exames de raio X fazem a histerossalpingografia. A grande maioria dos planos de saúde dá cobertura ao exame.

Gomes reforça que esse exame normalmente é coberto pelos planos de saúde (para isso, consulte sua operadora) e também está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). “O exame pode ser feito em laboratórios ou até mesmo dentro do Hospital conforme as peculiaridades da paciente”, diz.

Teixeira explica ainda que o exame habitualmente é realizado por médico radiologista com experiência em doenças ginecológicas.

Dúvidas comuns sobre a histerossalpingografia

Abaixo, os ginecologistas consultados esclarecem as principais dúvidas existentes sobre o exame:

1. Histerossalpingografia dói?

Luiz Eduardo Albuquerque: a histerossalpingografia não é um exame isento de dor, porém, não se faz necessária uma anestesia. Em mãos de profissionais cuidadosos, que se preocupam em utilizar o equipamento correto, utilizar contraste previamente aquecido e analgésico pré-exame, o procedimento torna-se praticamente indolor. Claro que dor é uma condição subjetiva e cada paciente pode relatar mais ou menos dor, variando a sua intensidade.

Armindo Dias Teixeira: o exame pode causar desconforto, podendo ser minimizado pela administração de analgésicos antes do procedimento. Ainda é um exame que provoca muito medo nas mulheres, porque, no passado, se utilizavam cânulas rígidas e grossas para a introdução do contraste, o que causava muita dor. Hoje são utilizadas cânulas flexíveis e finas, mas o estigma do passado ainda persiste. Felizmente a técnica está menos dolorosa. Outro ponto importante é a tolerância à dor que difere de pessoa para pessoa.

2. Qual é o preço aproximado?

Luiz Eduardo Albuquerque: o preço pode variar bastante, mas deve ficar em cerca de R$500.

3. A histerossalpingografia ajuda a engravidar?

Luiz Eduardo Albuquerque: não podemos afirmar que a realização da histerossalpingografia poderia ajudar um casal a ter filhos, pois a infertilidade, na maioria das vezes, é multifatorial, porém, algumas pacientes relatam gestação espontânea após a realização do exame.

Armindo Teixeira: algumas mulheres engravidam após o exame. Uma provável explicação seria alguma obstrução parcial nas trompas que se desfez com a injeção do contraste.

Rogério Gomes: não se pode afirmar isso. Ela é uma ferramenta para diagnosticar possíveis fatores que estão atrapalhando a mulher engravidar e, a partir dos resultados, corrigir anomalias uterinas ou tubárias observadas durante o exame.

4. Toda mulher que está com dificuldade para engravidar terá que fazer a histerossalpingografia?

Armindo Teixeira: não necessariamente. Depende de cada caso e do relato da paciente sobre eventuais problemas, mas é, sem dúvida, um exame muito útil no diagnóstico de uma série de problemas que levam à dificuldade em engravidar.

Luiz Eduardo Albuquerque: se o casal está iniciando a pesquisa de infertilidade conjugal, é muito importante a solicitação deste exame. Se a causa da infertilidade já for conhecida e a indicação do tratamento seja uma Fertilização in vitro, a histerossalpingografia pode ser dispensada, pois para este tratamento não será utilizada a função das tubas, pois os ócitos (óvulos) serão fertilizados em laboratório e os embriões serão transferidos diretamente para a cavidade do útero e, portanto, fazendo as vezes das tubas.

Depoimentos de quem fez histerossalpingografia

Foto: Getty Images

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Glaucia Teves, dona de casa, 42 anos, conta que estava tentando engravidar havia mais de um ano, até que sua médica recomendou o exame. “Pesquisando um pouco sobre o assunto fiquei meio assustada, mas resolvi enfrentar, pois eu tinha que saber se tinha algum problema com as trompas. No dia do exame, tomei anti-inflamatório cerca de uma hora e meia antes… A médica me tranquilizou, e eu tentei relaxar ao máximo. Na hora, senti uma pequena cólica, até meio parecida com a da menstruação e muito rápida”, relata.

Ana Maria de Fátima Pereira, fisioterapeuta, 38 anos, diz que tinha certo medo de fazer o exame, pois achava que doeria muito. “Enfrentei meus medos… Fiz o exame em fevereiro e, em março, peguei meu positivo! No fim, achei até tranquilo… Senti um pouco de cólica e nada mais. Fui muito bem atendida pelo médico e pela enfermeira, que me perguntavam o tempo todo se eu estava bem. No meu caso, valeu a pena o exame! Meu médico disse que eu não tinha nenhum problema nas trompas, então, que deveria ter alguma ‘interrupção’ que com a histerossalpingografia foi resolvida”, relata.

Agora, provavelmente você já esclareceu suas principais dúvidas em relação à histerossalpingografia. Vale destacar que, caso este exame seja solicitado pelo seu médico, vale a pena deixar de lado medos e/ou ansiedade e realizá-lo tranquilamente.

Afinal, a histerossalpingografia é uma importante ferramenta para diagnosticar possíveis fatores que estejam atrapalhando a mulher a engravidar. E permitirá, a partir dos resultados, corrigir possíveis anomalias uterinas ou tubárias.

 

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