Gaby Amarantos sobre relação com o corpo: “Fiz muita cirurgia plástica. Mais de seis”

Há três meses, Gaby Amarantos viu seu mundo virar de ponta cabeça por causa de uma série de ataques racistas em suas redes sociais. Foram mais de 30 mil mensagens de ódio contra ela – lidas uma a uma pela cantora e sua equipe. “Estou acostumada com racismo desde criança. Mas o que vi naqueles dias foi incomum, pesado… agressivo”, recorda.

“Se te encontro na rua, acabo contigo porque você é preta e estraga este mundo” foi apenas uma das mensagens que desencadearam em Gaby uma crise de pânico paralisante. “Não tinha coragem de abrir a porta de casa, quanto mais sair dali”, conta. “Até gosto de quem discorda de mim com elegância. Respeito quem me traz um novo ponto de vista. Só que as mensagens não eram nada elegantes. ‘Por que as pessoas estão tão agressivas?’, eu pensava. ‘Por que logo comigo toda essa violência?’ Entendi que precisava levar esse episódio a sério e cuidar do que ele tinha feito comigo.”

Acabei chegando na bioenergética.” Quem indicou a terapia para a cantora foi a filósofa Djamila Ribeiro – uma estudiosa de negritude e também colunista de Marie Claire. A psiquiatra que atende Gaby desde então se chama Viviane Anibal. “A Vivi cuida de abusos, mais especificamente episódios de racismo. Também é negra, e isso foi importantíssimo para o meu processo”, diz. “Queria alguém que realmente entendesse a dor que eu estava vivendo.” A bioenergética, criada em 1955 por dois psiquiatras norte-americanos, é como uma “ioga da psicanálise” porque mistura exercícios corporais e respiratórios. O objetivo do tratamento é desbloquear emoções reprimidas e dores – emocionais ou físicas – geradas por traumas.

Além da bioenergética, mais uma ferramenta de bem-estar passou a fazer parte da rotina da artista. Juliana Luna, outra mulher negra, lhe apresentou a ioga. Mas não qualquer ioga. “Juliana estuda uma linha da prática que vem dos africanos, a kemética [que tem como diferencial a busca pela conexão com a ancestralidade negra através da meditação]. Ela me trouxe um olhar mais atento para a respiração. Porque nós, enquanto mulheres, somos silenciadas. E as mulheres negras, somos mais ainda. É como se a gente fosse se asfixiando aos poucos. Quando percebe não está nem mais respirando. Fui reaprender a respirar, tomar fôlego. Agora, a ioga é tão parte da minha vida que não fico mais sem. Quando estou no Rio de Janeiro [a cidade é uma das casas dela] faço todos os dias.”

Gaby Amarantos para a Marie Claire (Foto: Karine Basílio)

Cuidar da cabeça foi só o primeiro passo para um estilo de vida mais “leve”, ela diz. Gaby também mexeu na alimentação e até tentou o veganismo por sete meses. “Minha vontade era conseguir ser vegana, mas furei com a dieta. Atualmente, comer é seguir um cardápio quase sem carne e derivados dela. É o que consigo fazer e tá tudo bem.”

Em relação a sua rotina de sono, diz que se adapta “ao que a vida pede”. Acorda cedo, se preciso, dorme tarde, se preciso. “Tenho uma facilidade incrível de dançar conforme a música. Meu corpo não se cansa de uma rotina instável. Pelo contrário, me divirto.”
Desde que decidiu seguir a carreira musical – isso lá em Belém do Pará, aos 24 anos –, Gaby tem enfrentado adversidades por ser uma mulher negra, nordestina e “acima do peso do que se considera padrão”.

Ela já até lutou contra si mesma. “Aos 20, era cheia de neuras. Me odiava, só usava preto para parecer mais magra. Vivia me escondendo. Fiz muita cirurgia plástica. Coisa de meia dúzia ou mais.” Lipoaspiração, abdominoplastia, silicone nos seios. Aos 40, a idade de agora, “não faria nada disso”.

O tempo, Gaby diz, ajudou. Mas encontrar seus pares – “outras mulheres negras, poderosas e orgulhosas de sua ancestralidade” – foi a cereja do bolo de um processo no qual estava desde que “me entendia por gente”. “Sou de uma geração que cresceu sem representatividade. Não vi mulher plus size quando criança. Negra tinha uma na TV e olhe lá. Hoje, minhas manas estão conquistando o mundo. Festejo por elas e me vejo nelas. O amor que aprendi a ter pelo meu corpo tem muito da influência dessa rede de apoio.”

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