11/06/13 – Os moradores das áreas alagadiças da orla de Manaus devem tomar cuidado com as chamadas doenças de veiculação hídrica, no período da cheia do Rio Negro, que deve alcançar maior volume das águas nos meses de junho e julho. O alerta é da diretora-presidente da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), médica Graça Alecrim.
A diretora explica que, durante a cheia e também no período de recuo do rio, é necessário manter a vigilância, a fim de se prevenir das doenças causadas por protozoários, vírus e bactérias, presentes na água contaminada das regiões de alagadas. O cuidado deve ser redobrado, ainda, para evitar acidentes com animais peçonhentos, bastante comuns nesses períodos.
Órgão do Governo do Estado vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (Susam), a FMT-HVD é referência no tratamento de doenças infectoparasitárias, tropicais e dermatológicas, na região Amazônica.
Devido ao contato com a água contaminada, as pessoas ficam suscetíveis a contrair doenças como hepatites A e E, leptospirose, febre tifóide, verminoses, gastrenterites, dermatites (doenças de pele), conjuntivites, doenças diarréicas, além de ficarem mais expostas a acidentes com animais peçonhentos, principalmente serpentes, aranhas e escorpiões.
Graça Alecrim afirma que o risco de transmissão de doenças se eleva, neste período, pois a água do rio passa a concentrar maior quantidade de agentes infecciosos e coliformes fecais, em função da formação de poças, o que aumenta as chances de infecção.
De acordo com Graça Alecrim, o ideal é que as pessoas evitem contato com a água suja. Quando não for possível, deve-se optar pelo uso de equipamentos de proteção como luvas, máscaras e botas. Os pais devem impedir, também, que as crianças brinquem nas áreas de alagações, para evitar que os agentes de infecção entrem em contato com a pele.
Entre as doenças que podem ser evitadas com a utilização dos equipamentos está a leptospirose, que é transmitida pela urina de ratos. A principal complicação dessa doença, na fase grave, é a insuficiência renal, que pode levar o paciente ao óbito. Os principais sinais são icterícia (olhos amarelados), dor muscular e dor de cabeça. O diagnóstico da doença é feito por meio de exame de sangue.
Animais Peçonhentos – O chefe do Departamento Clínico da FMT-HVD, Antônio Magela Tavares, afirma que, no caso de acidentes com serpentes, escorpião, aranhas, entre outros bichos peçonhentos, a medida correta é lavar o ferimento com bastante água e sabão e buscar atendimento imediato, na unidade de urgência mais próxima do acidente ou na FMT-HVD, que é a unidade de referência, no Estado, para este tipo de tratamento.
O médico frisa que, nesses casos, as pessoas não devem adotar qualquer outra medida sem orientação médica. É comum as pessoas tentarem evitar, de imediato, que o veneno se espalhe pelo organismo, adotando medidas inadequadas como, por exemplo, amarrar o membro atingido, colocar produtos como café e álcool sobre o ferimento, sugar o veneno com a boca ou cortar o local da picada. Ações desse tipo podem, inclusive, acelerar o surgimento de hemorragias no paciente, que fica naturalmente vulnerável à ocorrência deste sintoma. “O correto é buscar atendimento médico, imediatamente”, frisa.
Tentar identificar o bicho que ocasionou o ferimento também é uma medida importante para o tratamento. “Conhecendo o animal, podemos administrar no paciente um soro específico para neutralizar aquele tipo de veneno. Se for possível capturar o animal, é importante trazê-lo em um recipiente para mostrá-lo ao profissional na hora do atendimento”, frisou. Nem sempre a pessoa que sofreu acidente será medicada com antiveneno. Às vezes, diz Magela, a quantidade de veneno injetado pelo animal é insuficiente para causar envenenamento. Essa avaliação, entretanto, deverá ser feita por um profissional de saúde. Os sintomas de envenenamento mais comuns são dor, inchaço e sangramentos progressivos.
No período de janeiro a março desse ano, a FMT-HVD registrou 65 casos de hepatite A; e 8 casos de leptospirose. Atendeu, também, 124 pacientes que sofreram acidentes com animais peçonhentos.