As conquistas femininas que ajudaram a dar liberdade para as mulheres

Desde 1940, o corpo feminino está no centro da batalha por igualdade na moda e na lei. Veja as conquistas, década a década.

We can do it

40/50: Direito de voto (e de usar biquini!)

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As brasileiras ganharam o direito de votar e serem votadas em 1932. Mas foi só em 1946 que o voto passou a ser obrigatório para elas, como já era para os homens. Em 1959, uma mulher toma posse como prefeita de Quixeramobim, no Ceará. O empoderamento feminino reflete-se na moda. Atribui-se ao francês Louis Réard a invenção do biquíni, em 1946, batizado com o nome do atol no Pacífico onde os norte-americanos testavam a bomba atômica. No Brasil, ele foi estreado dois anos depois, pela imigrante alemã Miriam Katz no Arpoador. O modismo, no entanto, não pegou logo. Ainda na década de 1950, uma jovem teria sido expulsa de Copacabana “com punhados de areia atirados por homens e mulheres indignados com o traje”, escrevem João Braga e Luís André do Prado em História da Moda no Brasil (Pyxis, 640 págs., 120 reais).

60: Pílula e sexo por prazer / Minissaria nas ruas

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Pela primeira vez na história, a mulher pode escolher se quer ou não quer ter filhos. O advento do anticoncepcional oral, em 1960, nos Estados Unidos, revolucionou para sempre a vida sexual feminina – o ato pode ter somente a finalidade de dar prazer, sem o risco de uma gravidez indesejada. Para a mudança ser completa, faltava a autonomia financeira. Em 1962, João Goulart sanciona o que ficou conhecido como Estatuto da Mulher Casada. De acordo com a lei, a esposa não precisa mais de autorização do marido para trabalhar fora de casa e divide com ele as decisões sobre a família. O espírito libertário faz as mulheres colocarem as pernas de fora em minissaias, invenções reivindicadas pelo francês André Courrèges e pela inglesa Mary Quant. Com a onda hippie, expandiu-se o conceito da igualdade dos gêneros e da moda unissex. As mulheres adotam as calças compridas.

70: Casamentos se desfazem. A brasileira se desveste.

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A Lei do Divórcio, promulgada em 1977, permite que os casais ponham fim ao casamento e constituam uma nova família – mas, notem, apenas mais uma vez! Até então, os casais podiam se desquitar, ou seja, viver separados, mas permaneciam casados para sempre no papel. A liberação feminina e a contracultura se traduziam em uma moda jovem despojada. Foi no verão de 1974 que o resto do mundo começou a descobrir as particularidades do comportamento das brasileiras nas praias. Surge a tanga – dois pequenos triângulos de algum pano, presos nas laterais por fios finos. “Ela foi o primeiro produto legitimamente nacional no campo da moda. Não por acaso uma invenção que circulava em nosso território desde 1500, quando as caravelas de Cabral por aqui desembarcaram. Ou seja, demoramos 473 anos para descobrir que nossa vocação e nosso talento na moda tendiam mais para despir do que para vestir”, apontam João Braga e Luís André do Prado.

80: Nós = Eles/ Corpo Bonito = Curvas

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A Constituição de 1988 estabelece que homens e mulheres são iguais em direitos e deveres perante a lei. Ativistas do Lobby do Batom batalharam por licença-maternidade de 120 dias, igualdade salarial entre os gêneros e menor tempo de contribuição para a aposentadoria. O país ganhou sua primeira ministra de estado, Esther de Figueiredo Ferraz, da educação e cultura, em 1982. A relação das pessoas com seu corpo e o planeta mudou a partir da descoberta da aids e do acidente de Chernobyl. Nasce a geração saúde e a moda das formas arredondadas – lembra-se das curvas de Luiza Brunet? O culto às marcas se intensifica, e o jeans e o biquíni são os principais produtos da moda nacional. O bumbum nunca esteve tão exposto, com os modelos enroladinho, asa-delta e fio-dental. No design, assimilamos o racionalismo japonês, adequado aos yuppies, que valorizavam o trabalho acima de tudo. Vieram os paletós de ombreiras, sobrepostos a calças de preguinhas no cós e bolso faca, assim como tailleurs e macacões acinturados.

90: Cotas na política / Plástica e tattoo na pele

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O Brasil tem a primeira – e até hoje única – ministra da fazenda: Zélia Cardoso de Mello. A participação das mulheres na política, porém, é tímida. Em 1996, o Congresso Nacional institui o sistema de cotas na legislação eleitoral, obrigando os partidos a inscrever, no mínimo, 20% de mulheres em candidaturas. Pouco se avançou: hoje, cerca de 10% dos deputados e senadores do Congresso Nacional são do sexo feminino. Na estética, impera o culto ao corpo perfeito, com a proliferação das academias de ginástica, a democratização das cirurgias plásticas e a chegada do botox ao país. A música eletrônica e o rock ditam a moda jovem de clubbers e grunges – o minimalismo corre por fora. Tatuagens e piercings se popularizam. Em 1996, a Lei do Planejamento Familiar autoriza a laqueadura para mulheres com mais de 25 anos ou com dois filhos.

2000: Sem violência, sem padrões rígidos

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O aquecimento global traz à tona a sustentabilidade e o consumo consciente. A alimentação orgânica ganha adeptas, assim como a medicina preventiva. Os conceitos de real beleza e plus size permitem corpos diferentes. No direito, as conquistas são a retirada de termos sexistas do Código Penal (como “seduzir mulher virgem” e “raptar mulher honesta para fins libidinosos”), em 2005, e a Lei Maria da Penha, de 2006, que colocou o país na vanguarda no combate à violência contra a mulher. No entanto, dez anos depois, o número de homicídios contra mulheres não caiu. “A legislação não tem o poder de imediatamente modificar costumes”, afirma Cynthia Semíramis, pesquisadora da história dos direitos das mulheres e doutoranda na UFMG. “A Lei Maria da Penha tirou o debate sobre a violência contra as mulheres das sombras, estimulando a discussão e a capacitação de agentes de segurança para lidar com o tema.”

Hoje: Mulheres nas ruas / A briga para vestir o que quiser

ELLE Brasil

Na década em que o país elege a primeira presidenta, Dilma Rousseff, o ativismo feminista conquista as redes sociais. Mulheres quebram o silêncio, se manifestam sobre a violência contra elas e viram tema de redação do Enem e de campanhas como #MeuPrimeiroAssédio e #MeuAmigoSecreto, a respeito de atitudes machistas no dia a dia. De acordo com um levantamento feito pela ONG Think Olga e pela Agência Ideal, os assuntos mobilizaram, respectivamente, 106 mil posts nas redes sociais e 100 mil e 170 mil menções no Twitter em 2015. No mesmo ano, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que dificulta o acesso ao aborto legal. Protestos tomam as ruas de capitais. “O grande obstáculo ainda é o direito de a mulher decidir sobre o próprio corpo”, afirma Cynthia. “Trata-se do respeito às decisões dela, seja em relação a roupas e aparência, seja em relação a opções que impactem sua vida, como escolher se e quando terá filhos, ou se é necessário interromper a gravidez.”

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