A “Ópera do Malandro”, composta por Chico Buarque em 1978, é uma expressão artística que transcende os limites da música e da poesia. Em meio à ditadura militar dos anos 70, o cantor e compositor usou sua genialidade para driblar a censura, inserindo críticas políticas e sociais nas entrelinhas da trama. A obra será encenada no Teatro Amazonas, pela Casa de Artes Trilhares, nos dias 17 e 18 de fevereiro, em pleno carnaval.
A comédia musical se passa no Rio de Janeiro dos anos 40. Com uma linguagem centrada na figura do malandro Max, Chico Buarque apresentou as condições políticas, sociais e econômicas do Brasil. A obra retrata a sociedade de forma que é muito atual e denuncia costumes enraizados, como corrupção política e exploração da classe trabalhadora.
A concepção da obra nasceu com a “Ópera do Mendigo” (1724) de John Gay, que serviu de inspiração para a “Ópera dos Três Vinténs” (1928), de Bertolt Brecht. Buarque, por sua vez, adaptou a peça ao contexto brasileiro, transformando-a em “Ópera do Malandro”.
“Seguimos o roteiro escrito por Chico Buarque, que nos traz a realidade dos malandros cariocas dos anos 40. Em meio ao romance de Max, o grande contrabandista carioca, e Teresinha, filha do maior cafetão da Lapa, histórias se cruzam sob uma perspectiva atemporal, retratando prostituição, contrabando, agiotagem, roubo, interesses políticos, econômicos e sociais, questões que ainda vemos e vivemos”, explica a diretora da peça, Dávilla Holanda.
“Apesar de ser uma crítica social em sua essência, a Ópera do Malandro é uma comédia musical que diverte, principalmente, através das músicas cativantes e traz um espetáculo que não deixa a desejar para os musicais americanos da Broadway”, afirma a diretora da Casa Trilhares, Rafaela Guimarães. “As músicas embalam com ritmos populares, como o samba e mambo, e são acompanhadas por danças, proporcionando um espetáculo completo”, adianta.
Músicas e críticas
As canções criadas para o musical na década de 70 sobreviveram ao tempo e são difundidas até hoje, como é o caso de “Geni e o Zepelim”, uma das mais icônicas canções de Chico Buarque, verdadeiro hino de resistência e crítica social. A canção conta a história de Geni, travesti que vivia às margens da sociedade, considerada apenas como um objeto sexual para os homens da cidade, representando um estigma sofrido na pele até hoje por pessoas da comunidade LGBTQIAPN+.
A obra também faz críticas a comportamentos como a ganância e conchavos por interesse. A cena que mostra o casamento do personagem principal é seguida da música “O Casamento dos Pequenos Burgueses”, que retrata uma união sem felicidade em que os cônjuges estão presos a “viver sob o mesmo teto”, mesmo que tudo dê errado.
Outra crítica feita durante a montagem se refere ao capitalismo. Não podendo criticar abertamente a sociedade da época e o governo vigente, Chico escolhe um contexto histórico com situações relativamente parecidas. Mas uma das maiores críticas abordadas é à segurança pública e à corrupção presente no sistema público. Quem são os verdadeiros transgressores da lei? As contradições da trama colocam a moralidade e a imoralidade frente a frente.
Espetáculo
A aguardada Ópera do Malandro, conduzida pela Casa de Artes Trilhares, terá apresentações nos dias 17 e 18 de fevereiro no Teatro Amazonas. A montagem, que promete uma abordagem única e totalmente cabocla, despertou grande interesse desde seu anúncio nas redes sociais. Os ingressos já estão disponíveis, e a expectativa é lotar o Teatro Amazonas nos dois dias de apresentações.
A versão amazonense envolve mais de 40 pessoas no palco e fora dele, e tem gerado grande repercussão nas redes sociais. Os vídeos de divulgação da peça já somam quase 70 mil visualizações nas redes sociais em menos de duas semanas.
Mais informações estão disponíveis nas redes sociais @casatrilhares e @operadomalandroam.
Trilhares
A Casa de Artes Trilhares atua na cidade há quase 9 anos e tem como principal característica as atividades formativas e grandes espetáculos que propõe experiência entre elenco e plateia, como meio de fortalecer e incentivar a que cada vez mais pessoas frequentem o teatro.
Embora tenha em seu portfólio grandes musicais, a Casa de Artes Trilhares mantém inúmeros outras produções. “Existem produções que conversam com o grande público e grandes marcas e é através delas que a gente dialoga para que as outras também sejam contempladas e prestigiadas”, diz Rafaela Guimarães, diretora da companhia.