Aprenda a usar somente dinheiro em espécie e salve suas contas

As amigas Daniela Arrais e Juliana Morganti, decidiram usar apenas dinheiro em espécie durante um mês. Depois de ler o resultado dessa experiência, você vai querer deixar deus cartões em casa!

 

Quem são

Daniela Arrais é jornalista, autora do blog @donttouchmymoleskine e sócia da Contente (www.contente.vc), empresa que tem a missão de criar conexões mais humanas na internet, e faz isso por meio de eventos, publicações e projetos, como @instamission, @amoresanonimos, @vailasp, @vailario e @minhacartadeamor.

Juliana Morganti (@jumorganti) é publicitária, planejadora e apaixonada por comportamento humano, internet e bons encontros. Não acha que sabe escrever muito bem, mas tem um monte de coisas pra dizer.

Ilustração de dinheiro

(Ilustração/Brunna Mancuso)

A motivação

DANI
Adoro me impor desafios. Ficar sem Facebook por um ano, passar três meses sem beber, viver um mês só usando dinheiro vivo e deixando o cartão de crédito em casa… E foi exatamente isso que fiz entre novembro e dezembro do ano passado. A motivação: Gastos estratosféricos sem um grande motivo por trás — uma viagem, por exemplo. Quando me dei conta de que tinha ganhado mais através de uns frilas e nem tinha percebido direito o dinheiro na conta (tamanha era a fatura do cartão), o alerta vermelho piscou. E tomei a decisão. O motivo principal foi esse caos repentino na organização financeira, mas também veio de uma vontade maior de entender a relação que estabeleço com o dinheiro. Quanto ele vale de verdade no nosso dia a dia? Quando foi que a gente se perdeu no caminho e passou a usar o cartão de débito e o de crédito indiscriminadamente? Parar, pensar e tomar consciência, em relação ao assunto que for, é sempre bom, né? E superimportante. Por isso, eu e minha amiga Ju decidimos viver com dinheiro em espécie durante um mês.

JU
De uns tempos pra cá, tenho questionado muitas coisas na minha vida (acho que tem a ver com os 30 anos que chegaram), e a relação com o dinheiro e com o consumo é um assunto que não sai da minha cabeça. Sempre achei que tenho tendência ao consumismo. Não que eu seja louca por roupas de marca ou joias, mas não deixo de fazer uma coisa que quero por causa de dinheiro. Jantares, festas, presentes, viagens, análise, cursos e ioga são prioridades pra mim porque me dão prazer e não quero abrir mão disso. Sinto que é muito fácil sair gastando e no fim do mês nem perceber onde o dinheiro foi parar. Organização das finanças nunca foi meu forte, e, apesar de nunca ter passado grandes apertos, também não tinha a menor noção de como eram divididos os meus gastos. Ao topar o desafio, a prioridade não era apenas economizar, mas repensar um pouco meus hábitos de consumo.

Ilustração de dinheiro

(Ilustração)

Pra conseguir fazer isso:

  1. Pagamos todas as contas de casa antes de começar o experimento.
  2. Fomos ao banco e tiramos a quantidade estabelecida.
  3. Dividi a grana em envelopes: transporte, comida, saídas/compras, emergência (no caso da Dani).
  4. Dividi semanadas (no caso da Ju).
  5. Deixamos o cartão trancado em uma gaveta (na maior parte do tempo).
  6. Passei a anotar todos os gastos nos envelopes (também no caso da Dani).

 

Como foi

DANI
A primeira semana passou voando. Foi divertido ressignificar a relação com o dinheiro. A coisa muda de figura quando a gente vê as notas, e não apenas passa um valor que só vai ser cobrado depois. Cada 20 reais valem muito mais! Mas o mundo quer que a gente seja refém do cartão. Afinal, os juros movimentam milhões, né? Quando tentei excluir o cartão como método de pagamento do Uber, vi que não dá. Mas dá pra usar apenas a opção pagar em dinheiro. E foi aí que tive as maiores conquistas. Reduzi em dois terços meus gastos com transporte. Passei a pegar muito mais ônibus e metrô, além de andar a pé. A gente vive apressada, mas, se pararmos pra pensar, muitas vezes o tempo que gastaríamos no trânsito é bem parecido com o que andaríamos a pé, sem contar que dá para movimentar o corpo e ver mais da cidade.

Ao fim da segunda semana, eu estava me achando muito ninja. Ainda tinha mais da metade do meu montante, e o desafio já tinha passado da metade! Essa sensação dá um gás pra continuar.

 

JU
Diferentemente da Dani, eu não dividi o dinheiro do mês em envelopes destinados a cada tipo de gasto; me dei uma verba por semana e toda segunda de manhã eu passava no banco pra sacar esse valor. Fui anotando todos os gastos em uma planilha, que me ajuda a controlar e evitar ficar zerada antes do tempo. Teve uma semana em que passei um pouquinho da meta, mas foi porque comprei um presente que não tinha me lembrado de planejar. Teve semana em que fiquei abaixo da meta sem nem perceber ou sofrer. Em outra, fiquei muito irritada porque fiquei sem troco muitas vezes. Acabei gastando a mais porque precisei arredondar todas as corridas de táxi e Uber porque ninguém tinha troco. Nesse ponto, usar cartão ajuda muito!

 

DANI
A terceira semana começou bem, mas de repente me veio uma comichão. Eu precisava comprar. Verbo intransitivo. Comprar. Qualquer coisa. Foi até meio físico, me deu uma agonia. Queria entrar em um restaurante caro e pedir entrada, prato principal e sobremesa. Queria gastar. Quão louco é isso! Aproveitei para subir as escadas e conhecer uma lojinha de cosméticos na rua de casa. Uma ponta de estoque de várias marcas. Supri o desejo com um creme para as mãos, outro para os pés — e ainda levei um de presente. Gastei 30 reais e a agonia passou.

Uma coisa que percebi é que, durante esse período, acabei falando bastante sobre dinheiro, que não é o melhor papo do mundo. Mas foi meio inevitável contar aos amigos sobre o experimento, falar das conquistas e das dificuldades. E incentivá-los a olhar mais para a relação que eles têm com a grana. E como tem gente que nem pensa nisso, né? Que gasta tudo o que ganha, que usa o cartão indiscriminadamente, que não consegue economizar e investir uma parcela do que recebe por mês…

Nesse sentido, temos uma musa: Denise Damiani, consultora financeira e autora do livro Ganhar, Gastar e Investir (Sextante), uma excelente leitura para todo mundo que quer mudar sua relação com o dinheiro. Dinheiro é energia. Com dinheiro a gente faz planos, conquista desejos. Também pode ser um buraco em que nos enterramos e do qual temos dificuldade para sair. No livro, ela vai contando casos de mulheres de vários perfis e classes sociais e mostra que, por mais que a gente ache chato fazer conta, devemos colocar na rotina. E, de preferência, ainda passar a gostar de um Excel.

Confesso que quando chegou a última semana bateu uma agonia. Deu vontade de voltar ao automático, essa coisa de passar o cartão e pronto. Quase quis desistir, mas resisti. Chegamos ao fim cumprindo o desafio com louvor.

Ilustração de dinheiro

(Ilustração/Brunna Mancuso)

Os aprendizados

  1. O valor das coisas muda. É quase impossível comprar por impulso.
  2. É muito bom criar mais consciência sobre um assunto, seja ele qual for.
  3. É importante sair do automático.
  4. Não é porque todo mundo gasta que você precisa ir no mesmo embalo.
  5. Saber quanto dinheiro investir é fundamental. Só assim dá para fazer planos futuros.
  6. Quando você entende o valor da grana, presta mais atenção no que gasta. Pode até comprar aquela bolsa cara que queria, mas vai ser uma decisão pensada, e vai ser ainda mais prazeroso dar um presente pra você mesma muito bem pensado.

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