Acusado de estuprar 62 adolescentes é condenado a mais de 28 anos de prisão

A possibilidade de conquistar namorado, casar com homem rico e bonito, integrar grupo de dança e de rock ou retirar a família de crise financeira levou um grupo de adolescentes, entre Parintins e Iranduba, que pode chegar a 62 vítimas, a ser estuprada por Renato Reis Fragata, 32. Ele se dizia “bruxo”, umbandista e macumbeiro, mantinha em casa velas pretas e vermelhas acesas, rezava orações do livro de São Cipriano e, na hora do estupro, obrigava as vítimas a rezar o cristão Pai Nosso, enquanto dizia ser “filho do Diabo”. O “monstro”, como é tratado na mídia, foi condenado pelo juiz Jorsenildo Dourado do Nascimento, da 1ª Vara Criminal de Iranduba, dia 21/03, a 28 anos e oito meses de reclusão.

O processo, que corre em segredo de Justiça por envolver menores em situação de constrangimento. Renato Fragata foi preso em 2013, quando repetia os golpes em Parintins, solto três meses depois e, finalmente, preso novamente, por ordem da juíza Rosália Guimarães Sarmento, então em Iranduba, e transferido para Manaus, onde permanece na cadeia. Ele ainda tem direito a recurso, mas, conforme a sentença de Jorsenildo, ficará recluso.

A investida de Renato que o levou à prisão atingiu cerca de 20 adolescentes, alunas da Escola Municipal Creuza Abess Farah, em Iranduba. Apenas dois dos casos de estupro, porém, ficaram cabalmente provados nos autos do processo e o levaram à condenação. Testemunhas disseram que ele oferecia, para obter a graça pretendida, as opções de matar os pais, matar um animal e beber o sangue ou manter relações sexuais com ele.

Um funcionário da escola de Iranduba testemunhou no processo que as vítimas passaram a gazetar aula e declarar crença em bruxarias. Renato tornava crível seu misticismo com mudança de voz durante orações e se queimando com cera quente, além de ameaçar de morte familiares das vítimas, entre outros artifícios. Ao depor, em juízo, ele negou tudo e chegou a dizer que “é católico e não sabia nada de magia negra”.

Renato chegou a usar uma menor, que dizia ser namorada dele, para atrair as vítimas para o “grupo de rock” ou “grupo de dança” e há sinais de que ela participava da dopagem das vítimas que se recusavam a aceitar os argumentos místicos dele. Os depoimentos mostram que várias adolescentes foram convencidas a entregar a virgindade ao monstro, que não demonstrava qualquer apego à dignidade humana.

O juiz afirma, na parte da sentença a que o portal teve acesso, que “o modus operandi do acusado não demonstra apenas a sua forma cruel e desumana, mas e, principalmente, a importância da família e da escola na formação de nossos jovens…” Em outro trecho acrescenta que “as vítimas deste processo não são apenas vítimas do acusado, mas, também, de um sociedade que, a pretexto de garantir a não intromissão na vida dos filhos, permite que eles sejam criados sem limites, colocando-os numa situação de fragilidade social, tornando-os presas fáceis de estupradores, traficantes e outras formas de delinquência”.

Jorsenildo lembra que as consequências do crime “fulminam para sempre” as vítimas que “jamais” se recuperarão dos traumas.

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