Saiba por que psicopatas são pessoas tão queridas

Ele é duas caras. Simpático. Agradável. Bonitão. Engraçado. Querido pelos amigos. Generoso até. Entre quatro paredes, ele muda. Bate, xinga, humilha. A culpa de ser agredida é sempre dela.

Ela fez, não fez. Falou o que não devia. Riu demais. Ele pode ser simpático. Até visivelmente sedutor. Ela não pode nem rir? Não. Está é dando mole.

Depois da agressão ela chora, se encolhe. Termina tudo. Vai embora. Ele desespera. Faz cena de filme. Pede perdão. Diz que ama. Agrada. Fala manso. Diz que nunca mais. Que ficou nervoso. Por culpa dela, sempre.

Importante deixar claro, ele faz a cena. Representa bem o papel. Ele sabe o script exato para reconquistar. Mas, de verdade, não se vê vestígios de culpa. De remorsos. Nada. Ele apenas sabe o que fazer para ela ficar mais uma vez. E aí, cuidado!

Se não há remorsos, nem dó pelo sofrimento do outro, ali pode estar um psicopata. Fuja. Só a distância protege a vítima da garra do psicopata.

Ele dizia que amava. Amava? Não. Onde há humilhação não há amor. O que ele sente é ciúme. Essa parte do discurso é verdade. Quem muito trai, muito teme ser traído. Quem trai tem medo. Medo que o outro faça igual. É o fantasma do chifre ronda.

Cercado de amigos que lhe acobertavam. E amigas, muitas com senha e esperança, na fila de espera. Ele traía como quem bebe água. A moça não desconfiava? Provavelmente, sim. Mas ele era bom de desculpas. Os argumentos perfeitos. Justificativas para tudo. Um discurso de coitadinho. Ele enrolava a moça. Mentia com desenvoltura. Com detalhes. Com capricho. A moça, esperançosa, voltava. Na dúvida, insegura, a moça ia levando.

Parecia o homem ideal. Daqueles que você suspira e deseja. Mas só para uso externo. Ideal? Só se for para se manter distância. Perfeito para amigos. Imprestável para parceiras. No relacionamento amoroso, esse tipo de pessoa se transforma. E mostra o que tem de pior.

Psicopatas são maquiavélicos. Fora, mantêm a imagem de bom moço. O legal. Eles sabem exatamente como agradar cada pessoa. Eles dizem o que você precisa escutar. Eles se fazem essenciais para você. São como mágicos. Ilusionistas. Te enfeitiçam.

Aparentemente sem interesses, vão tecendo uma teia de delicadezas que te encantam. E te prendem. São aranhas. Esperam tranquilos para dar o golpe. Eles conquistam fãs, amigos, seguidores. Não por serem boas pessoas. Mas por saberem fingir que são.

Dentro de quatro paredes, sem testemunhas, a violência come solta. Muitas vezes, a violência só verbal. Ele não quer correr o risco de vestígios. Nada que apareça no laudo do IML. Mancha roxa, nem sempre tem. Mas quem disse que alma não dói?

Confusa, perdida entre ficar e partir, sozinha sem ter com quem contar, a moça sofria em silêncio. Afinal, entre a história dela e a dele, o bonitão maravilhoso, quem ia acreditar? Ninguém.

No Brasil, a mulher é absolutamente solitária em sua luta contra o agressor. Em seu clamor por justiça. Ela é humilhada. Desacreditada. Vítima de deboche. Passa por louca, histérica, mentirosa. Criadora de casos. Insuportável. Interesseira.

Os amigos não acreditam nela. As amigas cochicham críticas cruéis. Que homens não ajudem, ok. Não concordo. Mas até entendo. Tudo está mudando rápido. Muitos têm dificuldade de ter um olhar novo, diferente.

Mas mulheres esculachando a vítima? Dando razão ao agressor? Justificando o injustificável? Tripudiando das próprias mulheres? Desunidas. Desrespeitosas. É muito triste. Mulheres, por favor! Acordem! Vamos buscar a empatia no fundo da bolsa. Empatia é como batom. Usem porque embeleza.

O relacionamento abusivo é um círculo vicioso construído a dois. A qualquer pretexto, a fera ataca. Culpa. Xinga. Depois pede perdão. Ela perdoa. Fica. Por amor. Insegurança. Autoestima esfarrapada. Medo de solidão. Sei lá.

Ela dá uma chance. Outra. Mais outra. Sem perceber que nada vai mudar. Que amor não é isso. Que amor não maltrata. Aos poucos a moça vai se encolhendo. O brilho ficando fosco. A autoestima murcha. A confiança vazia.

A moça não é burra. Não entrou nessa porque é abestada. Nem porque gosta de apanhar ou de ser maltratada. Ninguém gosta de ser maltratado. Psicopatas são ardilosos. Maquiavélicos. Sabem armar armadilhas.

Qualquer um pode entrar num buraco desses. Não há garantias. Como areia movediça, a gente só percebe o estrago quando só sobrou a cabeça de fora. O importante é não entrar? Certamente. E sair viva, o mais rápido possível. Tendo em mente que quem ama e quer bem não machuca, cuida. Não humilha, eleva. Não enterra, voa junto.

Nossa moça é valente. Cansou. Deu um basta. Percebeu o buraco que vinha cavando para ela mesma. E, dessa vez, não perdoou o traste. Ao contrário. Perdoou a ela mesma por ter ficado tanto tempo numa relação tão ruim, sem perceber o estrago que vinha permitindo que ele fizesse com ela. Que ela fizesse com ela também.

Vítimas não gostam de apanhar. Não gostam de ser humilhadas. Ninguém gosta. Muitas ficam por não perceber que, ficando, permitem que a agressão aconteça. Muitas não têm para onde ir. Essa foi.

O coitadinho, com raiva, se vingou. Lembra que ele era bom de mentiras? Então. Espalhou que a moça era piranha, vagabunda, puta. Inventou historias. Inverteu situações. Para aumentar o raio de destruição, adicionou muitos amigos da moça. E a difamou de inbox em inbox. De whatsapp em whatsapp. Incansavelmente.

Fez por que gostava dela e sofria? Não. Fez por ódio. Orgulho ferido. Por ter sido abandonado. Por não admitir perder quem ele achava que fosse posse sua.

Os amigos dele? Acreditaram. Os dela? Infelizmente, também. Nem todo amigo é amigo. Só nessas horas é que a gente descobre. Alegaram que não tinha nada provado. Não podiam julgar assim. Não quiseram se meter. Preferiram não tomar partido. Não se iluda. Não tomar partido em caso de agressão, é escolher o agressor.

A moça não é piranha. E se fosse, era o problema dela. Aliás, nem era problema. A vida é dela. Para ser o que ela quiser. Ninguém tem nada a ver com isso. Cada um que cuide do que é seu. Que ela vai tratar é de ser feliz.

Aliás piranha, vagabunda, puta? Vem cá, isso é exatamente o que? Já parou para pensar? O que é uma piranha?

Piranha pode ser uma pessoa com baixa autoestima que, buscando carinho, se expõe em várias parcerias. Muitas só interessadas em transar e que não lhe dão retorno afetivo nenhum. Nesse caso, quando for apontar o dedo e seu cruel julgamento, tenha dó. A piranha é só uma pessoa carente, precisando de ajuda. Nessa situação, ser piranha é triste.

Mas ser piranha pode ser apenas a mulher que assume e toma posse do seu tesão. Que tem a coragem de se embrenhar na sua sexualidade sem medo. Que toma atitudes guiada por seus desejos. Então viva! Sejamos piranhas!

Num país onde lindo é ser recatada e do lar, ser piranha pode ser bem legal. Ser piranha é agir como os homens fazem? Eles fazem e não são piranha. E a gente, fazendo, é? Por que? Vale pensar.

Ser piranha é tomar posse do nosso corpo. Da nossa sexualidade. Do caminho para o próprio prazer, sem esperar passivamente pelo salvador. Mulheres, vamos piranhar! Não precisa trocar de parceiro. Experimente com quem já está do lado. Deguste. Saboreie. Inove.

Vou lançar aqui um lema: Piranha nada, eu sou é animada. Ouse ser piranha também!

Leia mais: http://extra.globo.com/mulher/um-dedo-de-prosa/saiba-por-que-psicopatas-sao-pessoas-tao-queridas-21069087.html#ixzz4bVtjWaxK

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