É para poucos a experiência de rever alguns capítulos de sua vida numa obra de ficção. Cássia Kiss é uma das privilegiadas: a Odete de “Nada será como antes” a fez revisitar sua entrega à profissão de atriz. Na série, Cássia é a mãe dedicada de Beatriz (Bruna Marquezine), protagonista de novela que lutou para ser valorizada na arte. Em meados dos anos 70, a corajosa era Cássia. Aos 15 anos, a paulista sentiu o preconceito contra quem optava por emprestar o corpo a um papel.
— A série remexeu no meu passado. Lembro que chegava da rua tarde, depois de estudar, depois do teatro, e minha família achava que eu era prostituta. Minha mãe sentou comigo e disse: “Eu quero que você vá embora” — relembra a atriz, de 58 anos, que deixa hoje a série, depois de sua personagem morrer assassinada em meio a um incêndio na TV Guanabara.
Em vez de se deixar paralisar pela memória dolorosa, Cássia aposta no que a une a Dona Piedade Monteiro, apesar dos antigos conflitos:
— Eu enfiei todo o amor pela minha mãe dentro desta história. Eu a amo. Ponto. Não vou fazer um drama. Com quase 60 anos, vou guardar rancor? Não sou doida. Nem preciso perdoar o que passou. A vida é assim.
É desse jeito, de forma prática, que a artista passou a encarar a rotina e ter dias melhores. Após um ano sem tomar remédios pelo tratamento de transtorno bipolar, ela reforça, no entanto, não ser autossuficiente:
— Eu preciso de uma religião. Sem ela, eu não entendo a vida. Eu tenho um mestre, o Lama Michel (budista tibetano), que me ensina muito. É um terapeuta budista, está bom para você? Também estou tão feliz que consegui me livrar dos remédios! Foi uma conquista pessoal. Eu estou muito bem. Mas daqui a um ano espero estar 100%.
Nada é como antes
Fã de séries
Com a carreira iniciada no teatro, a veterana se rende às séries que bombam na internet: “Adoro a inglesa ‘The crown’. Tem tanta emoção que eu ajoelho e começo a chorar”.
Mochileira
Assim que os compromissos profissionais derem uma trégua, Cássia e a filha Maria, de 19 anos, devem fazer uma viagem.
“Planejamos um mochilão. Vamos da pontinha da Europa até o Butão”, conta a atriz.
Cidadã
Em novembro, Cássia foi fotografada pegando o BRT lotado no Rio. Ela reforça que não quer mostrar falso glamour: “Devemos usar o transporte público, sim, para ele melhorar. Nós precisamos disso. Eu tenho dois carros importados na porta, mas só vou usá-los quando me for útil para viajar. Pegar o metrô e estar com as pessoas é maravilhoso, não tem preço”.