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Passageiros ficam retidos por nove horas em atoleiro na BR-174

Um enorme atoleiro na altura do km-41, dentro na reserva Waimiri-Atroari, na BR-174, causado pela má conservação da rodovia e por conta das fortes chuvas ocorridas na região, impediu que mais de 650 pessoas seguissem viagem durante nove horas. Os passageiros dos ônibus levaram 23 horas tanto para chegar a Roraima como no Amazonas. Durante todo esse tempo, as centenas de passageiros de 15 ônibus intermunicipais, além de motoristas e ocupantes de mais de 20 carretas, caminhões e veículos pequenos sem tração, ficaram sem comer ou beber água enquanto ficaram retidos.

foto: Folha de Boa Vista. Passageiros ficaram retidos por mais de 9 horas em atoleiro da BR-174

O transtorno começou às 19h de domingo, quando o motorista Lindomar da Silva Viana, 32, condutor de uma carreta Scania, carregada de cerveja, que seguia sentido Manaus/Roraima, acabou não conseguindo seguir seu trajeto por conta do atoleiro. A carreta acabou presa ao buraco e à lama. Todos os outros veículos que se aproximavam do local foram obrigados a parar, formando uma imensa fila. Como era início da noite, todos os ônibus que saíram do Amazonas ou os que seguiam de Boa Vista, mesmo aqueles que deram início à viagem ainda na manhã de domingo, também não tiveram como prosseguir a viagem. Crianças recém-nascidas, jovens, adultos e idosos desesperados não sabiam o que fazer ou a quem recorrer. No meio do nada, em meio à mata fechada e na escuridão, a única solução foi esperar a chegada do socorro. Quando a madrugada se aproximou, as pessoas começaram a perder a paciência e entrar em desespero, principalmente as que estavam com crianças de colo ou com compromissos marcados para a manhã de ontem. Dezenas de pessoas ainda sugeriram aos motoristas dos ônibus que fosse realizada uma baldeação, ou seja, que todos fossem trocados de carro e que os ônibus apenas retornassem ao seu destino de origem, mas a alternativa não foi aceita, uma vez que os veículos, para saírem do local, teriam que fazer todo o trajeto inicial de ré. “Seria totalmente impossível. Não teríamos como fazer isso, aqui é uma completa escuridão e muito perigoso. A reserva está totalmente abandonada pelas autoridades. Fazemos esse percurso mais de três vezes na semana, mas a cada dia piora mais. Só hoje [domingo], três carretas tombaram e uma Toyota virou por causa das péssimas condições da estrada. Daqui uns dias isso aqui vai ficar intransitável e pessoas podem morrer”, alertou o motorista de um dos ônibus. “Logo no início da noite, uma viatura da Polícia Rodoviária Federal [PRF] passou por aqui e, como era traçada, seguiu viagem. Acredito que os policiais não se preocuparam em solicitar auxílio, pois o dia amanheceu e ninguém apareceu para nos ajudar. Estamos todos padecendo de fome e sede”, relatou o administrador de empresas Ailton Siqueira Belarmino, 43, passageiro de um dos ônibus que seguia para Manaus. Socorro só chegou depois de 8 horas As centenas de pessoas que foram obrigadas a permanecerem na BR-174, dentro da reserva Waimiri-Atroari, durante nove horas, ficaram indignadas com o longo tempo de espera até a chegada do socorro, que só aconteceu às 8h de ontem. Para alívio dos presentes, cerca de 26 funcionários da empresa Delta, uma das responsáveis pela restauração da rodovia e pela operação tapa-buraco do km zero ao 102, apareceram, só que carregando três carrinhos de mão e uma picareta. O fato causou ainda mais revolta. “Como querem desatolar uma carreta só com essas ferramentas? Até parece brincadeira ou que estão tirando ‘onda da nossa cara’. Será que eles pretendem levantar a carreta na mão e saírem com ela no colo? Parece serviço de pedreiro”, bradou o bancário José Augusto de Oliveira, 29. Meia hora depois, próximo das 9h de ontem, o encarregado da empresa, identificado apenas por Alfredo, chegou acompanhado de uma patrola para rebocar a carreta com o auxílio de um cabo de aço. Mesmo com a força do motor, a retirada da carreta do atoleiro demorou vários minutos. Com o atoleiro livre, a mesma máquina fez a retirada do excesso de barro e lama. Posteriormente uma carrada de pó de brita foi jogada no local e nivelada pela máquina, quando finalmente o trajeto foi liberado. “Isso é um completo absurdo e falta de vergonha. A maior imbecilidade é querer maquiar a rodovia em meio ao inverno e chuvas intensas. Por que não tomaram essa atitude quando ainda era verão? Só deixaram para se preocupar agora”, revoltou-se o engenheiro agrônomo Luiz Cláudio Santos Estrela, 56. “O custo da obra aumenta e a eficiência é o que estamos vendo agora. Essa estrada é a ‘galinha dos ovos de ouro’ para qualquer político. Eles não têm interesse algum em fazer um serviço que preste, pois de onde vão tirar verbas para embolsarem nos próximos anos?”, ironizou o engenheiro. Compromissos e passagens canceladas Não só a raiva, tristeza e transtorno de ficar mais de nove horas sem ter o que fazer perturbaram a cabeça de todas as pessoas que tiveram de permanecer dentro da reserva. Mas também a preocupação com os compromissos e passagens que já estavam marcados e tiveram de ser cancelados. O cirurgião dentista André Luis Silveira, 40, saiu de Boa Vista, com destino a Manaus, às 9h de domingo, na esperança de chegar a tempo para um compromisso na manhã de ontem. “Estava de plantão em uma unidade de saúde agora pela manhã. Infelizmente, não temos nem previsão de chegar a Manaus. É vergonhosa essa situação. Quando não é o atoleiro, são os ônibus que quebram porque são velhos e não aguentam mais as estradas. A passagem de avião encareceu ainda mais por conta disso. Há dias que chega a custar R$ 700,00 só de ida. Como preciso vir e voltar toda semana, fica quase impossível optar pelo mais rápido”, reclamou Silveira. A bancária Cláudia Siqueira de Aquino, 33, também não pôde chegar a tempo à reunião que estava marcada em Manaus. “Sai de Rorainópolis às 22h de domingo, agora são 9h [de segunda-feira] e ainda estamos aqui. É uma pouca vergonha, parece até que não somos brasileiros, pois as verbas destinadas ao nosso país não chegam até aqui”, criticou. A dona-de-casa Maria do Rosálio, 35, acompanhada dos filhos de 6 meses e outro de 12 anos também perdeu a passagem, que estava marcada para as 10h no aeroporto de Manaus. “Meu filho pequeno, que não mama mais no peito, só está se alimentando porque eu trouxe uma garrafa de água quente para o preparo do leite. Se não fosse isso, não saberia o que fazer, pois nem água para beber temos aqui”, reclamou.

2 Comentários para “Passageiros ficam retidos por nove horas em atoleiro na BR-174”

  1. wolf disse:

    Nos que precisamos dessa estrada para viajarmos ficamos triste e ainda mais quando o reponsavel por esse abandono é justamente o ex ministro dos transportes Alfredo Nascimento eleito pelo Amazonas e só aqui teve carreira politica mas parece que que é senador do Rio Grande do norte.o Omar não ganharia de ninguem para o governo do estado ,exceto do Alfredo nascimento que devido seu pessimo serviço ao povo do amazonas vai dar de mão beijada o governo ao Omar e sem segundo turno.

  2. ANDRADE disse:

    QUE VERGONHA PARA O PRESIDENTE LULA E PARA O MINISTRO DOS TRANSPORTES ALFREDO NASCIMENTO. NUNCA NA HISTÓRIA DESTE PAÍS ESQUECEREMOS DO ABANDONO DE NOSSAS ESTRADAS E DAS MENTIRAS DESTE DESGOVERNO. BEM QUE O GERALDO ALCKMIM ALERTOU A POPULAÇÃO, NA CAMPANHA POLÍTICA DE 2000, SOBRE A MENTIROBRÁS DO PT. SERRA PARA PRESIDENTE!! ACORDA AMAZONAS!!!

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