A rebelião que resultou com ao menos 56 pessoas mortas no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, reflete a sociedade, afirma o arcebispo da capital amazonense, Dom Sérgio Eduardo Castriani, responsável pela Pastoral Carcerária, que visita presídios no Estado há pelo menos 40 anos. “O sistema carcerário denuncia o mundo como ele é, denuncia a sociedade violenta. O sistema é um reflexo”.
Castriani, que comanda a Arquidiocese de Manaus desde fevereiro de 2013, vê o comportamento da sociedade se mostrar por meio do compartilhamento de fotos e vídeos dos corpos de detentos decapitados.
“Acho que é uma coisa mórbida, muito doentia. Principalmente com os comentários de ‘tem que matar’, ‘tem que morrer’. É uma sociedade que quer vingança, uma sociedade que tem que mudar sua visão de justiça”, comenta. “Violência gera violência. Perdão e misericórdia são as únicas saídas.”
O arcebispo diz que a situação do sistema carcerário é ruim em função de medidas tomadas pelo governo do Amazonas, criticando, especificamente, a terceirização da administração dos presídios do Estado, que, desde 2014, está sob responsabilidade da Umanizzare Gestão Prisional e Serviços Ltda.. No ano passado, ela recebeu mais de R$ 326 milhões do governo amazonense, quase o triplo do oferecido no primeiro ano do contrato.
SUPERLOTADO, PRESÍDIO DE MANAUS FOI CENÁRIO DE MASSACRE
“Ele terceiriza [a administração] e isso sai caro. Não é função de uma empresa fazer isso. O Estado tem o dever de cuidar do preso. O Estado tem responsabilidade [sobre as mortes na rebelião]”, diz Castriani.
No Compaj, esteve em duas oportunidades, mas via que as visitas não permitiam uma relação mais próxima com os internos. “A gente não tem contato direto com a vida do preso”
Quando fala sobre mudanças no sistema com as autoridades amazonenses, o arcebispo diz que, como justifica para a situação, a falta de dinheiro e que o sistema é assim.
Após a rebelião, ele continua descrente sobre mudanças. “Não tenho muita esperança sobre isso. Acho que, pelo menos, haverá consciência de que precisa mudar”, afirma Castriani, que diz acreditar que as dezenas de mortes no presídio têm deixado os amazonenses envergonhados, especialmente pela repercussão mundial do caso.
Em apoio às famílias dos detentos mortos, a arquidiocese de Manaus programou uma missa para às 16h (hora local) do próximo sábado (7) em “sufrágio dos falecidos”. Ela será realizada na Catedral da Imaculada Conceição.
O secretário de Segurança Pública (SSP/AM), Sérgio Fontes, reconheceu que o Estado possui presídios com superlotação, mas diz que a situação está sob controle. “Nenhum refém foi morto. Todos foram resgatados. Os [presos] que eles queriam matar, mataram logo no começo. O que vamos fazer agora? Vamos responsabilizar quem fez isso e tomar medidas para evitar que outra tragédia como essa se repita”.
De inicio comento q rebeliões, fugas etc, são incompetência passadas de governos q preferiram construir viadutos, pontes, estádios etc. O sistema carcerário no Brasil precisa ser olhado com urgência. No passado nao sei ser preciso uma proposta foi construir na margem direita do rio negro uma penitenciaria agrícola, onde os presos em terra firme trabalhar na pecuária, agrícola e outras atividades.