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Câncer é a doença que mais mata pessoas de 15 a 29 anos, revela Inca

O câncer é a doença que mais mata adolescentes e adultos jovens — de 15 a 29 anos — no Brasil. No ranking geral, fica atrás apenas das “causas externas”, como são classificados os acidentes e as mortes violentas. A conclusão é de uma pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) e pelo Ministério da Saúde, conforme adiantou a coluna de Ancelmo Gois. O estudo mostra que, no período de 2009 a 2013, morreram 17.527 pessoas nessa faixa etária com a doença.

A pesquisa destaca, ainda, que o tipo de tumor mais frequente nesses jovens é o carcinoma, que ocorreu em 34% das vezes e foi mais encontrado no colo do útero. Esse tipo de tumor também apareceu com frequência na tireoide, na mama e na região de cabeça e pescoço. Além de carcinoma, as outras formas recorrentes de câncer entre os jovens foram o linfoma, com 12%, e os tumores de pele, com 9%.

O objetivo do Inca é que o estudo, detalhado ao longo de 412 páginas, sirva como balizador para o planejamento e a gestão de ações e políticas de saúde pública voltadas para a faixa etária de 15 a 29 anos.

HPV é UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS

Uma das autoras da pesquisa, Beatriz de Camargo, destaca que a educação sexual dos jovens é a maior aliada na prevenção dos cânceres ginecológicos, como o do colo do útero, que têm ligação direta com a infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV). Segundo ela, embora a incidência de câncer entre jovens seja bem menor do que a verificada entre pessoas com mais de 30 anos, é fundamental a população se manter atenta às doenças que acometem essa faixa etária.

— O câncer em crianças, adolescentes e adultos jovens é considerado uma doença rara, mas existe e é a principal causa de morte por doença neste grupo etário. Em geral ele é curável, mas é preciso ter conhecimento de que ele existe e fazer o diagnóstico corretamente — afirma ela, que é doutora pesquisadora do Inca.

Outro resultado importante do estudo é que a taxa média de mortalidade por câncer no grupo de adolescentes e adultos jovens foi de 67 a cada 1 milhão, entre os anos de 2009 e 2013. E isso não é ruim, segundo os pesquisadores, porque significa que a taxa se mantém estável desde 1979, isto é, não morrem mais jovens hoje do que no passado. A variação do índice foi de apenas 0,3%, o que, do ponto de vista estatístico, configura estabilidade.

O grande vilão para essa faixa etária — capaz de causar câncer do colo do útero, o terceiro que mais mata mulheres no Brasil, e câncer de cabeça e pescoço, por exemplo — é o HPV, transmitido principalmente por relação sexual. Ele pode ser evitado com vacina, hoje já disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Meninas de 9 a 14 anos devem tomar duas doses com intervalo de seis meses, e, desde o mês passado, meninos de 12 e 13 anos também podem se vacinar. O número de doses e o intervalo para eles é o mesmo.

Estudos comprovam que, além de a vacina ser eficiente para afastar a ameaça do câncer do colo do útero para as meninas e mulheres, ela protege contra câncer de pênis, garganta, ânus e verrugas genitais em homens. A faixa etária dos meninos que podem receber a vacina será ampliada gradualmente até 2020, quando a imunização estará disponível para os que têm de 9 a 13 anos.

Hoje, o esquema vacinal inclui também mulheres e homens com HIV, entre 9 e 26 anos. Para eles, a vacina é ministrada em três doses com intervalos de dois e seis meses.

A oncologista clínica Marcelle Lagdem, do Inca e do grupo Oncologia D’Or, se mostra otimista em relação ao cenário das infecções pelo HPV. Ela acredita que, com a cobertura vacinal antes da iniciação sexual, que vem sendo feita pelo Ministério da Saúde nos últimos anos, a incidência de câncer do colo do útero deve diminuir.

— A vacina que temos no Brasil é quadrivalente, protege contra quatro subtipos do HPV: 6, 11, 16 e 18. Estes são os que mais causam câncer, e, com a adesão da população a essa vacina, muitos casos serão evitados — espera. — Termos essa imunização é um grande trunfo.

Ela diz que, entre os pais e mães de meninas, a importância dessa imunização já é, em geral, bem compreendida. Mas ainda causa estranhamento quando se fala em imunizar o sexo masculino.

— Os meninos e homens são os grandes portadores assintomáticos do HPV. Como eles têm menos tendência de manifestar os sintomas do vírus, na maioria das vezes não sabem que o portam e acabam transmitindo a várias outras pessoas. Por isso, é fundamental que eles sejam vacinados — considera.

A oncologista alerta ainda que, além da imunização, a camisinha é uma aliada. E, como terceiro esforço de combate à doença, a realização regular de exames preventivos é importante.

— Cânceres ginecológicos são altamente preveníveis porque, por meio de exames como o papanicolau, conseguimos detectá-los num estágio pré-maligno, quando a lesão ainda não se tornou câncer de fato — explica ela.

A médica esclarece que não se pode esperar os sintomas aparecerem. Os mais comuns são dificuldade de urinar e de evacuar e sangramentos, em especial depois do ato sexual. Mas, quando eles surgem, significam que a doença está avançada e, portanto, é mais difícil de tratar.

Um dado positivo é que, nos casos de cânceres que atingem a região da cabeça e do pescoço, quando se identifica que a causa é o HPV — dentre as várias causas possíveis —, o paciente tem mais chance de se curar.

DIFICULDADE PARA ENGRAVIDAR

Um aspecto delicado da incidência de câncer em pessoas jovens é que, muitas vezes, isso atrapalha futuros planos de gravidez. Não é raro que, para tratar uma dessas doenças, seja preciso retirar o útero ou os ovários, o que faz com que muitas mulheres recorram ao congelamento de óvulos, para que mais tarde possam ter filhos biológicos, técnica que ainda é cara.

— Na rotina de quem lida com pacientes oncológicos jovens, eu diria que esta é a principal angústia, a de não poder ser mãe. Algumas mulheres chegam a descobrir que estão com a doença durante a gravidez, porque não tinham o hábito de consultar o ginecologista antes. E aí é preciso ver caso a caso como será mais indicado proceder — conta Marcelle. — Mas, no geral, os jovens toleram melhor o tratamento, porque têm um corpo mais disposto e sadio do que pessoas mais velhas. Esta é uma vantagem.

O Inca aproveitou o lançamento da pesquisa, ontem, para também inaugurar sua Unidade de Internação Pediátrica, voltada para crianças com diversos tipos de câncer. O espaço passou por uma reforma que custou cerca de R$ 1,8 milhão e agora conta com novos setores, como o de cuidados intermediários, para pacientes que estão em transição da enfermaria para a unidade de cuidados intensivos.

 

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