O Rio Negro está ficando cada vez mais poluído, devido à diminuição do PH – ou da sua acidez natural – por causa da inexistência de tratamento do esgoto que é depositado pelos moradores, nas ruas da capital. Por outro lado, o manauense que dispõe de poços artesianos e que imagina que está consumindo água de qualidade, está, na verdade, bebendo água poluída.
O alerta foi feito nesta sexta-feira (24), em entrevista à Tiradentes News, pelo técnico da área de Saneamento Básico, Fernando Garcia.
“O Rio Negro é naturalmente ácido! Quando você mede o PH do Rio Negro acima de Manaus, antes do igarapé do Tarumã, lá no meio do rio, o PH dele é entre 4,5 e 5. Esse é o PH natural do Rio Negro. E o Rio Negro é rio de baixa oxigenação, devido às características de velocidade dele. Quando ele passa por Manaus, que ele recebe a carga de todos os igarapés da cidade, ele está recebendo esgoto! Qualquer ponte em que você passa, você sente o mau cheiro. O PH do Rio Negro está aumentando! Próximo à Super Terminais, à Feira da Pan Air, esse PH já está próximo a 6. Quando aumenta o PH, significa maior carga orgânica no rio. É esgoto! As margens do Rio Negro, em frente à cidade, são, basicamente cursos de esgoto!”, afirma.
De acordo com o técnico, todos os igarapés que cortam a capital colaboram para o preocupante quadro de poluição. “Todos os igarapés – se você pegar do Tarumã para baixo, o igarapé do Tarumã, depois vem o igarapé de São Raimundo, o igarapé de Educandos, o igarapé que vem do Distrito Industrial – todos eles estão mortos! Todos estão com carga poluidora muito elevada! O que se falava no Amazonas – e eu cheguei aqui em 1978 e a cidade tinha 400 mil habitantes – era que o Rio Negro era enorme, que conseguiria absorver essa carga!”
Segundo Fernando Garcia, os moradores da capital não estão poluindo apenas o rio que banha a frente da cidade. “A coisa é um pouco pior!”, alerta. “Como houve um atraso no saneamento básico e na distribuição de água de Manaus, também houve uma proliferação muito grande de poços. Perfuração de poços, pela cidade. Poços semi artesianos retirando água do solo. Paralelo a isso, também houve uma impermeabilização muito grande da cidade, com o asfaltamento de ruas, calçadas, construções, o que provocou um rebaixamento do lençol freático da cidade. O que antes ocorria, era que a água da terra firma corria para os igarapés, alimentando-os e, com essa proliferação de poços, o rebaixamento do lençol, se inverteu o curso. A água está correndo do igarapé para os lençóis freáticos, então, quando você manda fazer uma análise da água do seu poço, que dá um nível de amônia acima de quatro – está dando até 20 miligramas por litro, em Manaus – você está consumindo esgoto!”
Fernando Garcia atuou ou atua como técnico de saneamento em uma série de grandes obras que exigem a construção de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE), como o Gasoduto Coari/Manaus e as usinas hidrelétricas de Santo Antônio, Belo Monte e Jirau, nos Estados do Amazonas e Rondônia.