EXCLUSIVO – Agente feita refém revela os momentos de tensão e medo que passou nas mãos de detentas do CDPF

“Acreditei que ia sobreviver. Pensei em Deus e na minha família e me mantive tranquila, mesmo quase sendo esganada por uma detenta ensandecida, que dizia que não era a mim que elas queriam, mas sim outra pessoa. Ela tinha ódio no olhar, mas ainda assim, me passava tranquilidade, por afirmar que eu estava no local errado e na hora errada. Não sei explicar muito bem como isso pode acontecer, mas sei que foi coisa de Deus mesmo”. O relato é da agente de socialização (denominação dada as agentes de penitenciária), que nesta matéria vamos chamar de Mariana, para preservar a identidade da entrevistada.

Com a voz ainda embargada, o olhar distante (ainda em estado de choque) e alguns cortes no pescoço, marcas da agressão que sofreu, Mariana conta que viveu cenas de um filme policial. Ela estava entre as três agentes feitas reféns por detentas durante um motim no Centro de Detenção Provisória Feminino (CDPF), localizado na BR 174 (Manaus-Boa Vista), iniciado por volta das 13h50 deste sábado (02).

Mariana foi algemada, enforcada e mantida refém, correndo o risco de ser furada com o cabo de uma escova de dentes. “Elas transformam qualquer objeto em arma. O cabo da escova de dentes, por exemplo, é passado várias vezes no cimento, até criar uma ponta bem fina, que pode ferir profundamente quem é atingindo.”, conta a agente.

O início

O motim começou após um procedimento rotineiro chamado “bate-cela”, em que uma agente entra na cela e bate com um martelo de borracha em todas as grades para saber se as barras de ferro não foram serradas. Uma detenta que estava escondida, aproveitou a distração da agente e a dominou. “Ela deu uma gravata na minha colega e as outras vieram correndo e gritando ‘perdeu, perdeu’. Eu levantei as mãos e disse ‘beleza!’. Nesse momento não dá para bancar a heroína. Elas não têm nada a perder ali. O melhor é se render e fazer o que elas mandam.”, enfatiza.

Luciana Ferreira da Silva, de 34 anos (na frente), apontada como uma das líderes do motim - Foto: reprodução

Luciana Ferreira da Silva, de 34 anos (à frente), apontada como uma das líderes do motim no CDPF – Foto: reprodução

Regalias

Celas abertas, banhos de sol sem hora marcada, x-salada e Coca-Cola gelada no lanche da tarde e a chave do Pavilhão 1, onde estão 146 detentas. Essas foram algumas das exigências das ‘cabeças’ da rebelião, entre elas, Luciana Ferreira da Silva, de 34 anos, que foi presa por suspeita de homicídios. Em um dos crimes, ela filmou a execução de um homem no dia 9 de julho.

“Ela (Luciana) falava sem o menor pudor: ‘já matei 15, 16, 18, 20, ah, sei lá!!!! Já perdi até as contas. Se não fizerem o que a gente pede, ‘cabeças vão rolar’… Ela então puxou meu cabelo e balançou  minha cabeça pra lá e pra cá, sinalizando que poderia me matar a qualquer momento. Nessa hora tive um medo terrível, mas pensei na minha família e em Deus e mantive meu coração tranquilo.”, revela Mariana.

A tropa de Choque e os momentos de tensão

Mariana conta que o maior sufoco que passou foi quando a tropa de Choque chegou e decidiu partir para o tudo ou nada. “ Quando o ‘Choque’ chega, eles não separam bons e maus. Eles querem é resolver. Eu já estava algemada quando os policiais lançaram a primeira bomba no pavilhão 2. Com a claridade produzida pela explosão e o efeito dela, muitas internas correram para se esconder. A detenta que me mantinha refém ficou irritada e apertou tanto meu pescoço, que quase me sufocou. Eu reclamei que estava doendo muito e ela disse: ‘eu não vou te matar porque você é filha de Deus. É ungida. Se a gente mata os ungidos, o castigo é muito f… Não é você que a gente quer. A gente queria mostrar como se faz uma ‘rebeca’ (rebelião). Rebelião não é queimar colchão. Isso aqui sim é uma rebeca”.

Na última bomba de efeito moral lançada pela tropa de Choque, Mariana e as outras agentes de socialização conseguiram escapar, sendo escoltadas  até a saída, quando os policiais retomaram o controle da situação do Centro de Detenção.

Indiciadas

A polícia de Choque conseguiu controlar a rebelião e levou as duas detentas, Luciana Ferreira da Silva e Elke Nunes da Silva, 25, apontadas como as líderes do motim,  para o 19º Distrito Integrado de Polícia (DIP) e depois para a Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) onde foram autuadas e deverão responder por tentativa de homícidio.

 

 

 

 

 

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