Os órgãos estaduais e federais de controle e fiscalização devem incluir nas investigações da Operação “Maus Caminhos”, os contratos da Secretaria da Saúde do Amazonas com a Vision Clínica de Olhos LTDA, que tem como sócio uma pessoa ligada à deputada estadual Alessandra Campelo (MDB), Dennis Marcelo de Souza Ramos.
A empresa tem três contratos vigentes com o órgão estadual. O primeiro no valor de R$ 741, 38, que começou em abril de 2014 e foi renovado em 2017, ganhou validade para mais um ano. O segundo, que iniciou em maio de 2016 e foi renovado em 2017, no valor R$ 26, 83 mil mensais. Já o terceiro, foi firmado com a Susam em março do ano passado, para o fornecimento do medicamento Avastin (utilizado em tratamento de pacientes com carcinoma metastático do cólon ou do reto), no valor mensal de mais de R$ 152 mil. Somados, os valores recebidos mensalmente pela VISION, segundo o Portal da Transparência, ultrapassa R$ 1 milhão. Pela tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), o procedimento mais caro custa R$ 23, 00 e o de custo menor é a consulta, no valor de R$ 10,00. O secretário da Saúde do Estado, Francisco Deodato, confirma os contratos.
“Os dois primeiros contratos são fruto de credenciamentos abertos. O primeiro deles é de 2014, o segundo, de 2016. Ambos estão em vigência – um até maio de 2018 e outro até março de 2018. No caso do Avastim, por exemplo, que é uma medicação, esta empresa tem contrato até março de 2018 e, este, sim, já está no processo de licitação.”
Em conversa com a reportagem, o marido de Alessandra Campelo, Dennis Marcelo de Souza Ramos, confirma relacionamento com a parlamentar.
“Sou namorado dela. As pessoas têm mania de me casar com ela, mas eu sou aepns namorado.”
A unidade da Vision que atende os pacientes que buscam tratamento oftalmológico fica no Millenium Shopping, na zona Centro-Sul de Manaus. O local, que conta com 5 consultórios, tinha pouca clientes, no momento em que a reportagem da Rede Tiradentes esteve por lá. Segundo uma funcionária identificada como Klíssia, apenas 12 pacientes são atendidas por dia, em cada consultório.
Outra funcionária afirma que a pessoa tem que chegar cedo para ser atendida.
“A gente começa a atender aqui a partir das sete da manhã.”
Para justificar o contrato mensal de mais de R$ 1 milhão, a VISION teria que realizar, aproximadamente, 60.000 procedimentos por mês, número nem de longe alcançado. Ao todo, o número de pacientes atendidos não chega a 3.000 por mês, provocando a suspeita de gigantesco superfaturamento dos serviços prestados.
A deputada Alessandra Campelo tem atuação voltada para a área da saúde, numa evidente demonstração de que usa o mandato para traficar influência em favor da VISION. Na última semana, a parlamentar assinou o requerimento que pede a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os fatos denunciados na operação “Maus Caminhos”. Ela só assinou o documento, depois de ter a certeza de que não haverá assinaturas suficientes para instalar a CPI. No início do mês, o Ministério Público Federal incluiu o nome dela na denúncia contra ex-secretários da saúde e o ex-governador José Melo (PROS). Para a Polícia Federal, Alessandra Campelo recebeu benefícios oriundos de dinheiro desviado da saúde.
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