A população da capital do Amazonas – cerca de 400 mil usuários – voltou a ficar refém do Sindicato dos Motoristas Rodoviários de Manaus e ficou impedida de se locomover, por causa da greve que paralisou 100% do sistema de transporte coletivo da capital, nesta segunda-feira (7).
As paradas de ônibus amanheceram lotadas de trabalhadores, estudantes, cidadãos que ficaram ‘a ver navios’ perderam seus compromissos. O professor da rede pública de ensino Roberto Dirane foi obrigado a suspender aula para quatro turmas de 120 alunos, por causa da greve. A técnica de enfermagem Ivaneide Silva também chegou atrasada para cuidar de um paciente que se recupera de um acidente, em casa.
Nas garagens das duas maiores empresas do sistema, a Global e a Eucatur, situadas na zonas Norte e Leste, a Polícia Militar (PM-AM) permaneceu de prontidão, não apenas para manter a ordem, mas também para dar a apoio a oficiais de justiça, caso fosse necessário cumprir alguma determinação judicial.
Os veículos do transporte alternativo e executivo, que dão o suporte ao transporte convencional, tiveram que rodar no limite da capacidade.
Para os mototaxistas, a situação não foi diferente, mas todos aproveitaram para faturar, ao longo do dia.
Em entrevista ao repórter Charles Fernandes, da Rede Tiradentes, o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Gibancy Oliveira, tentou justificar a greve.
“Há mais de dois meses, a gente vem tentando uma negociação com o Sinetram (Sindicato dos Empresários do transporte de passageiros) e com a prefeitura de Manaus, e, até agora, ninguém se manifestou.Cansados de esperar, nós fizemos a assembleia, comunicamos a sociedade com antecedência, mas, mesmo assim, nem a prefeitura nem os empresários quiseram ouvir as reivindicações dos trabalhadores.
Os rodoviários reivindicam 20% reajuste salarial, R$ 2 mil de Programa de Resultados (PLR), insalubridade para motoristas e cobradores e creche para filhos de cobradoras.
Ainda pela manhã, irritado com a paralisação, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), disse que o Sindicato dos Rodoviários desrespeitou uma decisão da Justiça amazonense e foi irresponsável.
“Tem sido demasiada, ao logo de um ano e três meses do meu governo, a irresponsabilidade do Sindicato dos Rodoviários, e esse mal tem de ser cortado pela raiz. O sindicato ‘esbofeteou’ o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que autorizou parar 30% da frota. Setenta por centro teria de funcionar normalmente e, no dia seguinte, 100% !”
Referindo-se ao presidente do sindicato, Givancy Oliveira, o prefeito fez um apelo aos motoristas. “Faço um apelo aos meus amigos rodoviários, que eu protejo desde que eu comecei a lidar com eles. Nunca deixei de protegê-los. Não troquem a minha amizade segura, firme, forte, com eles, por falsas amizades de gente que não tem outro interesse, a não ser eleger o irmão deputado. Só isso!”
Arthur também fez duras críticas aos empresários do setor. “Eles não acompanham, por mais que a gente force, o ritmo de modernização que eu tento impor à prefeitura. Eles sempre deixam um ‘pezinho’ para que o sindicato use como pretexto para essa irresponsabilidade, para fazer esse ‘carnaval’ contra a cidade e a favor de interesses menores. Essas ‘marias antonietas’ às vésperas da Revolução Francesa precisam fazer uma reflexão profunda e acordar!”
No final da manhã, o prefeito Artur Virgílio Neto foi ao Tribunal Regional do Trabalho A 11ª Tegião (TRT 11ª Região), na Praça 14, zona Centro Sul, para solicitar o aumento da multa ao sindicato do rodoviários, por cada dia de paralisação. Para o prefeito, a greve é eleitoreira e não reflete a decisão dos trabalhadores do sistema de transporte público.
… O sindicato da categoria culpa os empresários e a prefeitura. A prefeitura culpa sindicalistas e empresários, mas quem é penalizado, mesmo, é o cidadão, o contribuinte que, este ano, também é eleitor. É bom lembrar que a rainha Maria Antonieta, à qual se referiu o prefeito Arthur Virgílio Neto, em relação aos empresários do setor de transporte coletivo, foi degolada, às vésperas da Revolução Francesa.