Após celeuma, deputado decide retirar ‘obscenidades’ de PL que transforma linguagem amazônica em Patrimônio Imaterial

censura
Um projeto de lei (PL)do deputado estadual Wanderley Dallas (PMDB), que pertence à bancada evangélica da Assembléia Legislativa do Amazonas (ALEAM), pretende dar caráter de Patrimônio Imaterial a 1.500 palavras do vocabulário popular do amazonense, causou polêmica, por conter alguns palavrões, após ser publicado em um jornal da cidade. Nesta quarta-feira (22), em entrevista à Tiradentes News, o professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), João Batista Gomes, classificou o projeto como incoerente.

“Quem controla isso não é a lei, não é o político. É a própria sociedade. Na verdade, o palavrão não poder ser banido da sociedade ou da mídia, mas tem que usado de acordo com o contexto, com a situação. Eu acredito que o projeto do Dallas é ‘meio’ incoerente. Acho que deferíamos gastar o dinheiro público com preocupações melhores do que essa!”, afirma.

O deputado Wanderley Dallas, é claro, saiu em defesa do projeto dele. “Nós tivemos reuniões com o professor Sérgio Freire, com acadêmicos da UFAM. É um projeto que tem 1.500 palavras. Hoje, um jornal da cidade mostra 20 ou 30 palavras, mas é um projeto riquíssimo! Logicamente que ‘pinçaram’ alguns termos, numa tentativa de modificar o teor do projeto, mas, na realidade, é um projeto bom. Ele não se prende a algumas palavras que foram publicadas pelo jornal.”

Inquirido sobre a repercussão entre a comunidade evangélica, Dallas preferiu responder que o trabalho dele é feito em nome de toda a sociedade.

“Eu sou um deputado que faz leis apenas não somente para os evangélicos. Faço para a sociedade amazonense respeito a família, a sociedade, e sou uma pessoa que trabalha por isso!”

O autor do livro “Amazonês”, que trata sobre expressões usadas no dia a dia, pelo homem amazônico, e que serve de base para o PL do deputado Dallas, o também professor da UFAM Sérgio Freire, concorda elogia projeto.

“A linguagem amazonense, pela definição da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), é uma herança cultural que identifica o povo. Agora, algumas palavras foram ‘pinçadas’, como se fossem elas o objeto do PL e o objeto do projeto, pelo que eu entendi, não é esse! O mérito do projeto é trazer para discussão a língua amazonense como índice de identidade do nosso povo e aí, eu acho que está ‘meio’ ‘fora de foco’ essa discussão! Essa celeuma toda está acontecendo porque ‘recortada’ de forma conveniente, até para gerar notícia (o que é bom não gera notícia, a gente sabe disso). O grande mérito to projeto é colocar a linguagem como pauta, para que a gente possa, na escola, inclusive, discutir qual é nossa identidade amazonense, de onde a gente vem, e isso tudo está nossa linguagem, porque língua, mais do que gramática, é cultura! Então, eu vejo o projeto com mérito e é nesse sentido, nessa direção que eu vejo o projeto do deputado!”

O livro “Amazonês” é o mais vendido no Estado e já está na 3ª edição. Preocupado com as repercussões, principalmente entre a comunidade evangélica, o deputado Wanderley Dallas prometeu retirar o mais brevemente possível, as palavras mais polêmicas do projeto.

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