Uma bela história de adoção está ganhando repercussão nas redes sociais nesta semana. A professora de português de uma escola de Ferraz de Vasconcelos, interior de São Paulo, pediu aos alunos uma redação sobre como seria a vida do menino mais feliz do mundo. O pequeno João Vítor, de 11 anos, não hesitou: escreveu sobre como era feliz após ser adotado por dois pais, depois de viver por um ano e meio em um orfanato.
A redação da criança é encantadora. Desde o dia 4 de março, o texto teve mais de 39 mil curtidas e 10,5 mil compartilhamentos no Facebook. Ao longo dos parágrafos, João Vítor, adotado pelo casal Fernando Luiz e Marcelo Pereira, conta que morava com o pai biológico. “Um dia ele morreu e ninguém me quis, daí fui para um orfanato.”
O tempo passou, escreve a criança, até ele conhecer “dois pais homens que gostaram de mim, eles me adotaram e a partir desse dia eu fiquei muito feliz”.
Os pais, Marcelo e Fernando se emocionaram muito com a redação do filho. Ao mostrarem para outros membros da família, muitos choraram.
Processo. Marcelo Pereira e Fernando Luiz Polidoro começaram a pensar em adoção no final de 2014 e foram atrás de informações para saber se, como um casal homossexual, não teriam problemas com isso. Descobriram que poderiam ir em frente e, em 2015, entregaram a documentação e esperaram um ano para serem habilitados.
“No começo de fevereiro de 2016, fomos chamados para conhecer o João e outra criança”, relembra Pereira. O casal estava disposto a adotar de uma a quatro crianças entre zero a oito anos. João, com dez, não se enquadrava, mas eles decidiram conhecê-lo mesmo assim – a outra criança desistiu.
“Fomos até o abrigo no dia 12 de fevereiro, foi a primeira vez em que vimos o João”, Marcelo e Fernando o levavam para passear e, depois, o deixavam no orfanato. No dia 9 de março, conseguiram a guarda provisória do menino.

João tem 11 anos e está com os pais desde o início de 2016 Foto: Arquivo pessoal/Marcelo Pereira
Aceitação. Tanto a família de Marcelo quanto a de Fernando acolheram João muito bem. Os dois afirmam que nunca sentiram preconceito por parte da família. “[Para ele] sempre foi tranquilo. A psicóloga [do abrigo] perguntou para ele se ele gostaria de ficar conosco, mesmo sendo dois pais, ele nunca teve problema”, afirma Pereira.
No primeiro dia em que conheceram João, os dois perguntaram para o garoto se ele teria problema em ter dois pais, e a resposta foi negativa. “Ele tem orgulho”. De acordo com o pai, João é bem resolvido e o casal é muito aberto ao falar com ele sobre o assunto.
Nas escolas em que o menino estudou, a família teve ajuda da coordenação e das professoras para que ele se adaptasse bem. Pereira diz que uma vez uma colega perguntou se era verdade que João tinha dois pais e, ao receber a confirmação, respondeu: “que legal”. “Criança, na verdade, não tem preconceito nenhum, quem tem preconceito é adulto”, opina.
Pereira ficou surpreso com a repercussão positiva da redação do filho. “Colocamos em um grupo no Facebook de adoção e de um dia para o outro viralizou, um monte de gente mandando mensagem nos parabenizando”, relata.
Preconceito. Em fevereiro de 2017, Marcelo e Fernando foram ao fórum de Ferraz de Vasconcelos dar um depoimento no curso de adoção. Lá, um senhor perguntou se o casal poderia influenciar João a ser homossexual. A resposta foi direta: “meus pais eram heterossexuais e eu nasci homossexual. Não é a influência dos pais que vai mudar a sexualidade da criança”.
Apesar do preconceito que sentiram nas redes sociais, a aceitação e os comentários positivos na redação de João foram maioria. “Há pessoas boas, mas sempre tem os que criticam – e não fazem nada para mudar”, opina.
Confira o texto na íntegra: