O ataque de um jacaré de cerca de quatro metros, a uma criança de 12 anos, na manhã da segunda-feira (6), na comunidade de Cacau Pirera, localidade do município de Iranduba, na Região Metropolitana de Manaus, reacende o debate sobre os riscos do aumento da população de jacarés, no Interior do Amazonas. A caça e o abate estão proibidos desde a década de 1960. Nesta terça-feira (7), o diretor de Assistência Técnica e Extensão Florestal do Instituto de Desenvolvimento Ambiental do Amazonas (IDAAM), Malvino Salvador, confirmou o aumento dos números da espécie, nos rios da Amazônia e defendeu o manejo do animal, para comercialização da carne e couro do réptil.
“Na verdade, o jacaré é abundante! Nós já tivemos abate. Antes de 1967, nós tivemos três curtumes, aqui em Manaus. O Estado do Amazonas já chegou a exportar quase 1 milhão de peles por ano. Naquela altura, a carne não era utilizada. Naquela altura, a população de jacarés estava sendo reduzida. Com a Lei de Fauna, a caça foi proibida e essa população vem se recuperando sem ser utilizada e vai crescendo. Nós podemos manter a população (de jacarés) estável, através do manejo!”
Segundo Malvino Salvador, além da legislação, outro dos principais entraves para o manejo do animal é a ausência de estrutura para o armazenamento do produto.
“Para o manejo, hoje, só há abertura dentro de Unidades de Conservação, porque a Lei de Fauna proibiu. A lei não foi regulamentada até hoje, mas tem uma nova lei de Unidades de Conservação que abriu a possibilidade, nesses espaços, para se fazer o manejo do jacaré. Esbarramos, na verdade, no problema do SIF (Serviço de Inspeção Federal) e da estrutura de abate para poder comercializar o produto.”
Conforme salvador, o aproveitamento do animal pode ser feito integralmente e não apenas o couro. Segundo ela, a carne já tem receptividade em todo o país.
“Nós temos um problema de mercado da carne, em Manaus, por não termos a tradição de consumo da carne de jacaré, mas temos um mercado nacional extremamente favorável, então precisamos adaptar uma estrutura de beneficiamento à legislação, à norma do Ministério da Agricultura (MAPA), e é aí que nós enfrentamos dificuldades, porque é uma estrutura extremamente cara!”
O couro do do jacaré, como é mais conhecida a pele do animal, entre os ribeirinhos, é usado principalmente na fabricação de sapatos de alto padrão. Quanto ao garoto vítima do jacaré, Rogério Farias Vidal, de 12 anos, ele foi atacado quando brincava no rio com outros três amigos de escola, que conseguiram escapar do ataque, subindo em uma árvore. Levado pelo animal para o fundo do rio, Rogério acabou morrendo. O corpo dele foi encontrado ainda na noite desta segunda-feira, por moradores da Vila de Cacau Pirera.