Obras abandonadas, vias sem manutenção e precariedade nos serviços. São os efeitos de vários anos sob administrações sem compromisso com o desenvolvimento de Iranduba
A equipe de reportagem do jornal A CRÍTICA esteve no município na quarta-feira (24), onde visitou creches, Unidades Básicas de Saúde (UBS), quadras poliesportivas e escolas que deveriam estar à disposição da população, mas que nunca foram concluídas. O desemprego deixou de ser um fato isolado e hoje faz parte da realidade de muitas famílias do local, como é o caso de Silvio Lino, 66.
“Vim embora de Novo Airão com a minha filha e mais duas netas com as esperança de ter uma vida melhor aqui, mas nada vai bem. Ainda tenho esperança de que, quando ocorra uma nova eleição, algo melhore. A falta de transporte também dificulta muito e acaba matando na falta de resistência as poucas chances que temos de conseguir algo. Algo que os dirigentes têm pecado também é a falta de segurança. As poucas praças que tem aqui, à noite viram área de tráfico e prostituição”, relatou o desempregado.
O aposentado Francisco Ribeiro de Castro, 75, morador da Comunidade São João, a 10 quilômetros de Iranduba, reclama da ausência do Legislativo e do Executivo municipal. “Na comunidade moram cerca de 70 famílias e o ramal nunca foi asfaltado, não tem como escoar produção de nada, o que dificulta o sustento das pessoas. Mas é certo que ninguém quer vir para a cidade (Iranduba), apesar de que já vemos uma mudança”.
Obras paradas
Almir Silva Ferreira, 46, é frentista há três anos em um posto localizado na avenida Amazonas, bairro Novo Amanhecer, que fica em frente à escola Cecília Carneiro de Oliveira. No mesmo terreno da escola foi construída uma creche que até hoje não foi inaugurada. O local já foi tomado pelo mato e por criadouros de mosquito, devido ao acúmulo de água dentro do prédio e não possui placa informando o valor da obra ou mesmo a data em que deveria ter sido entregue.
“Trabalho aqui há três anos e há três anos essa creche está aí. Nunca ninguém ouviu falar em inauguração apesar de, aparentemente, ela já estar pronta. Sou pai de cinco filhos, a mais nova tem um ano e fica com a minha mulher. Se tivesse a creche poderíamos deixar a bebê lá e ela procurar um emprego, que já ajudaria muito na nossa renda”, disse.
Segundo planilha de obras paralisadas, divulgada pela Prefeitura, a empresa responsável pelo serviço é a Moura e Oliveira Construção LTDA. Outras 12 obras da mesma empresa também seguem paralisadas, como a reforma e ampliação da Feira do Produtor – orçada em R$ 719,9 mil, na principal avenida do município, iniciada e não concluída.
Humilhação no cartório eleitoral
Dezenas de pessoas que necessitam atualizar o título de eleitor se sujeitam a ficar debaixo do sol e da chuva, dormir ao relento sem qualquer segurança ou salubridade para conseguir uma das 20 senhas distribuídas diariamente pelo Tribunal Regional Eleitoral no município.
A situação classificada pela população como “humilhante” atinge não somente aqueles que moram no município, mas também os eleitores do distrito do Cacau Pirêra e de comunidades rurais próximas.
Idelson Maurício, 44, é morador da Comunidade São Sebastião, localizada a 13 quilômetros de Iranduba. Ele e a esposa estavam na fila há três dias. “Cheguei na segunda-feira, às 7h da manhã. Aqui nós mesmos vamos passando uma lista colocando a ordem de quem chegou, baseado no número de fichas distribuídas, e mesmo eu tendo chegado há três dias, estou na lista de hoje (quarta-feira) para ser atendido. Eles (TRE) acham que são melhores que a gente, e que chegamos tarde para fazer a biometria. Mas mesmo que eles tivessem razão não justifica esse tratamento”, avaliou.
Edmelson Aguiar dos Santos, 22, quer transferir o título eleitoral de Manaus para Iranduba. “Moro aqui há um ano, eu e a minha esposa precisamos transferir o título, e chegamos aqui com a nossa bebê de 9 meses, que não temos com quem deixar, na terça-feira, às 15h, e só conseguimos entrar na lista da sexta-feira.
No local havia ainda idosos e mulheres grávidas na mesma situação.