Motel no Acre constrói suítes dentro de avião, ônibus e vagão de trem

Carioca de 45 anos e morando há 30 no Acre, o empresário Ricardo de Freitas dedicou-se ao ramo moteleiro nos últimos 15 anos em Rio Branco. Há dez anos ele teve a ideia de inovar e apostar em suítes temáticas que remetem ao imaginário do público alvo. Um trem, um avião e um ônibus fazem parte das suítes mais solicitadas do local. E a procura não é apenas por parte dos casais, mas também por quem pretende fazer uma festa diferente em um espaço inusitado.

O empresário conta que a ideia surgiu depois de uma proposta. “Um amigo meu me chamou para fazer uma festa em um avião que havia feito um voo forçado e que ficou muito tempo estacionado no pátio da Infraero. Sabia que a festa era impossível, até que um dia pensei: ‘festa no avião não dá, mas uma suíte sim’. Já estava pensando em algo diferente para o ramo e aí as ideias vieram”, disse.

As primeiras a serem inauguradas em 2004 foram a do avião e trem. O projeto foi executado com ajuda de um arquiteto, mas Ricardo conta que sempre participou de toda a execução da obra. “Eu tinha as ideias e procurei profissionais competentes para que o projeto saísse do sonho e virasse realidade”, destaca.

A suíte do avião é composta de uma aeronave de modelo bandeirante. De acordo com Ricardo ele foi fabricado por volta de 1968 e negociado diretamente com o dono do avião assim que a aeronave parou de voar. Além da suíte comum, o espaço de 225m² conta com um jardim e também piscina. “Não é apenas o avião, mas toda uma estrutura que dá suporte a essa suíte”, diz.

O trem também remete ao transporte mais antigo, com trilhos e uma estrutura que lembra uma época mais retrógada, o quarto é mais espaçoso e também possui piscina, além de sinuca. Ricardo diz que as suítes também são procuradas para realização de eventos, como festas de aniversários e despedidas de solteiro.

O controle de entrada é de oito a dez pessoas. “Mas teve casos da pessoa fechar as quatro suítes para um evento. O preço varia, para uma festa com 50 pessoas, digamos que o custo é mais alto do que de um buffet”, diz.

Os preços normalmente variam de R$ 190 a R$ 290, dependendo da quantidade de horas em uma das suítes. Ricardo diz que a grande procura sempre fica por conta do público feminino. “As mulheres procuram mais do que os homens, elas têm esse cuidado maior de se programar e querer surpreender os companheiros. De cada dez reservas, nove são feitas por mulheres. O homem deixa pra última hora, a mulher é mais cuidadosa, quer decorar, colocar flores”, ressalta.

O empresário acredita que o investimento foi um risco, mas que não se arrepende da estrutura que montou ao longo destes 15 anos. “Na época em que comecei a construir, muitos colegas do ramo vieram certificar se eu realmente estava fazendo as suítes e alguns me chamaram de louco, mas como dizem: de médico e louco todo mundo tem um pouco”, brinca.

Suíte dentro de avião (parte interna) (Foto: Tácita Muniz/G1)

Depois das três suítes temáticas, Ricardo pensou em fazer mais uma com uma lancha, porém ele preferiu investir em uma suíte nupcial que define como ‘clean’. Ele diz que o espaço é requisitado para datas comemorativas de casais e também para quem acaba de casar e quer curtir um pouco do conforto e privacidade oferecido pelo local.

Sobre o investimento, ele diz que não se arrepende nenhum pouco e que consegue ter um retorno de tudo isso através da fidelidade de seus clientes.  O empresário também se diz feliz por trabalhar com a fantasia e satisfação de seus clientes. “Sexo foi, é, e sempre será fantasia. A pessoa pode pagar, mas ela sai daqui feliz por isso”, destaca.

Tabu
O empresário acredita que a sociedade ainda vê o ramo de motéis com uma imagem distorcida da realidade. Ele acredita que tudo parte de um preconceito velado e também culpa a falta de informação para esse tabu ainda encontrado neste ramo de trabalho.

“Algumas pessoas remetem o motel a traição, orgias, mas na verdade isso é uma imagem distorcida. Existem casais que comemoram datas importantes. Trabalhamos com decorações também e essas suítes vieram para somar, sempre foi aquela coisa: quatro paredes, depois de duas ou três horas iam embora, agora têm pessoas que passam de 24 a 36h em uma de nossas suítes”, explica.

Ele acredita que isso também seja o reflexo da falta de diálogo dentro de casa. Muitos pais têm dificuldades de conversar sobre o sexo com os filhos e ainda têm discriminação por conta da orientação sexual. Então, isso tudo é preconceito, mas que está mudando de maneira muito rápida”, acredita.

Motel
Apesar do tabu, o empresário diz que o ramo é bem lucrativo e, como outros setores, depende da situação financeira do estado para se manter em alta. “A procura oscila muito, depende muito da condição financeira daquela cidade naquele momento”, destaca.

O local conta atualmente com 22 suítes, incluindo as temáticas e nupcial, uma média de 28 funcionários que revezam em quatro turnos por ser uma atividade ininterrupta. “Nós quisemos trabalhar com qualidade, tentamos fazer a diferença com um cardápio que foi remodelado, com nossa rouparia e lavanderia. Além disso, também pensamos na nossa iluminação, jardim, em tudo, para que o cliente sempre volte”, ressalta.

Para Ricardo, seu ramo deu certo pela dedicação que prestou ao seu estabelecimento. “Eu sou da seguinte visão, todo ramo dá dinheiro desde que haja dedicação, carinho, investimento. Você tem que tratar a empresa como deve ser e vai colher os frutos. Mas você pode ter uma mina de diamante, se deixar abandonada não vai sair nada na sua mão. Funciona assim”, finaliza.