Esportes

Liberdade para Neymar e “sistema híbrido”: as novidades que Tite tenta emplacar na Seleção pós-Copa

Por Alexandre Lozetti — Jedá, Arábia Saudita.

A seleção brasileira pós-Copa do Mundo não tem uma cara totalmente nova, mas está passando por alguma recauchutagem. A maneira de atuar e o posicionamento de protagonistas apresentam diferenças sutis, mas que agregam certa complexidade à formação tradicional de Tite, e, portanto, exigem um novo entendimento.

Está mais difícil definir o Brasil numa combinação tática de números. 4-1-4-1? 4-3-3? 4-4-2? Todas elas podem se aplicar num mesmo jogo. A Seleção está aderindo ao “sistema híbrido”.

O que é sistema híbrido?

Fez sucesso na Copa. A Bélgica foi à semifinal e derrotou o Brasil nesse formato. A Inglaterra também usou, e até a campeã França, de maneira menos notável.

Trata-se de adotar uma formação tática quando seu time tem a bola, e outra quando está se defendendo. O Brasil continua tendo no 4-1-4-1 sua base inicial, com um jogador aberto em cada ponta e um centroavante, além de um volante entre os zagueiros e meio-campistas.

Mas, agora, defende-se na maior parte do tempo no 4-4-2, com duas linhas de quatro e dois atacantes mais fixos e próximos à frente. E esse método também tem se espalhado por muitos momentos de posse de bola. Na Copa do Mundo, contra México e Bélgica, Tite recorreu a essa mudança ao se ver em apuros.

Defesa do Brasil postada contra o Peru, pelas eliminatórias, em 2016 — Foto: ReproduçãoDefesa do Brasil postada contra o Peru, pelas eliminatórias, em 2016 — Foto: Reprodução

Defesa do Brasil postada contra o Peru, pelas eliminatórias, em 2016 — Foto: Reprodução

Na imagem acima, a marcação habitual, no 4-1-4-1, com Fernandinho entre as linhas de quatro. Gabriel Jesus, o centroavante, nem aparece no sistema. Abaixo, como a Seleção tem se defendido agora em seu campo, com duas linhas de quatro compactas e Neymar adiantado, ao lado do 9.

Brasil se defendendo contra a Arábia Saudita, na última sexta-feira — Foto: Alexandre LozettiBrasil se defendendo contra a Arábia Saudita, na última sexta-feira — Foto: Alexandre Lozetti

Brasil se defendendo contra a Arábia Saudita, na última sexta-feira — Foto: Alexandre Lozetti

Na vitória por 2×0 sobre a Arábia Saudita, na última sexta-feira, Renato Augusto iniciou o jogo mais aberto pela esquerda, para que Neymar pudesse ter liberdade de encostar em Gabriel Jesus. É a retomada da figura do “segundo atacante”, um elemento de sucesso dos anos 90 que se perdeu na evolução do jogo e das distribuições de atletas em campo.

Só que o novo modelo exige lapidação. O Brasil viu a Arábia Saudita ter vantagem justamente no meio-campo, e trouxe Renato Augusto de volta ao centro para equilibrar o cenário. Tite e seus auxiliares passaram boa parte do primeiro tempo debatendo se valia a pena voltar a marcar no 4-1-4-1, com Casemiro entre as linhas de quatro, mas optaram por manter a ideia.

Afinal, é nesses jogos que ela precisa sofrer para se desenvolver e estar afinada nos torneios que começarão a ser disputados em 2019 – Copa América e Eliminatórias.

Bélgica com a posse de bola contra a França, na semifinal da Copa do Mundo — Foto: Alexandre LozettiBélgica com a posse de bola contra a França, na semifinal da Copa do Mundo — Foto: Alexandre Lozetti

Bélgica com a posse de bola contra a França, na semifinal da Copa do Mundo — Foto: Alexandre Lozetti

A Bélgica usou sistema híbrido na Copa. Acima, na semifinal contra a França, a imagem mostra como o time atacava a partir de uma linha de três zagueiros, com dois jogadores bem abertos para espaçar o rival. Em seguida, ao perder a posse de bola, os belgas se reorganizavam no 4-2-3-1.

Bélgica marcando a França na semifinal da Copa do Mundo — Foto: Alexandre LozettiBélgica marcando a França na semifinal da Copa do Mundo — Foto: Alexandre Lozetti

Bélgica marcando a França na semifinal da Copa do Mundo — Foto: Alexandre Lozetti

Uma nova solução para Neymar

O principal craque da Seleção é, possivelmente, o maior afetado por essa alteração. Antes, cabia a ele participar da segunda linha de marcação, pelo lado esquerdo. Agora, Tite e companhia oferecem a possibilidade de ele não se desgastar tanto. Há um sacrifício, a equipe tem uma peça a menos para bloquear espaços de maneira mais intensa, mas o técnico quer medir o custo-benefício de preservar fisicamente seu craque para que ele decida jogos.

Na parte ofensiva, Neymar também está diferente, com uma área de ação maior. Esse movimento já vinha se desenhando desde o fim de 2017, mas muito mais por sua postura indomável de estar sempre próximo à bola do que por uma ideia coletiva.

Agora, o camisa 10 surge pelo meio, tem mais companheiros em seu raio de ação, o que lhe permite mais tabelas e até assistências, como a que deu para Gabriel Jesus abrir o placar em Riade. O centroavante, por sinal, se vê beneficiado por esse novo sistema. A tendência é que ele possa receber mais bolas em profundidade sem os dois pontas tão abertos.

Neymar e Gabriel Jesus se abraçam após passe do capitão para o centroavante marcar sobre a Arábia Saudita — Foto: Waleed Ali/ReutersNeymar e Gabriel Jesus se abraçam após passe do capitão para o centroavante marcar sobre a Arábia Saudita — Foto: Waleed Ali/Reuters

Neymar e Gabriel Jesus se abraçam após passe do capitão para o centroavante marcar sobre a Arábia Saudita — Foto: Waleed Ali/Reuters

No PSG, sob comando do alemão Thomas Tüchel, Neymar também é cada vez mais armador. A velocidade tem ficado primordialmente com Mbappé, sete anos mais novo, e a presença de área com o artilheiro Cavani.

Para consolidar essa transformação, Tite reabre um processo de encontrar jogadores que se encaixem nas posições e funções exigidas a partir de agora. É preciso, por exemplo, definir se Coutinho, um protagonista, será mais importante pelo lado ou por dentro. Paquetá, visto pelo treinador como um possível diferencial para os próximos quatro anos, ainda está em processo de achar o setor do campo onde pode colaborar mais.

Se, por um lado, Tite sabe que não terá todas as soluções de uma hora para outra, principalmente porque a Seleção se reúne esporadicamente, com pouquíssimos treinamentos, por outro ele também entende que os resultados em 2019 serão importantes. Encontrar uma resposta para essa equação é uma das mais espinhosas missões desse “novo” Brasil.

Veja as informações da seleção brasileira para o jogo contra a Argentina:

Local: estádio King Abdullah, em Jedá
Data e horário: terça-feira, às 15h (de Brasília)
Provável escalação: Alisson, Danilo, Marquinhos, Miranda e Filipe Luís; Casemiro; Arthur (Fred), Renato Augusto, Coutinho e Neymar; Firmino. Técnico: Tite
Reservas: Ederson, Fabinho, Militão, Pablo, Alex Sandro, Walace, Fred (Arthur), Malcom, Lucas Moura, Richarlison e Gabriel Jesus
Arbitragem: Felix Brych, auxiliado por Mark Borsch e Stefan Lupp. No VAR: Gunter Perl e Robert Hartmann (todos da Alemanha)
Transmissão: TV Globo (narração de Galvão Bueno, comentários de Casagrande e Júnior, reportagens de Tino Marcos e Marcos Uchôa); SporTV (narração de Luiz Carlos Jr., comentários de Muricy Ramalho e Lédio Carmona, reportagens de Mauro Naves) e GloboEsporte.com
Tempo Real: GloboEsporte.com, a partir de 14h

Deixe seu comentário

TV

Rádios

Arquivos

  • Arquivos

  • Links

    Links